2010/04/01

Desabafos

Às vezes questiono-me se outras pessoas se preocupam em pertencerem a algo com continuidade. Eu não sou uma ilha; não vivo isolado. Não me defino em relação a mim mesmo. "Diz-me com quem vives e dir-te-ei quem és" diz o velho adágio, e cada vez mais me convenço da verdade desse ditado. Os meus amigos ajudam a definir-me, mas só eles não são o suficiente para eu saber quem eu sou. Estou inserido num país, num cultura, e isso também me ajuda a definir a mim mesmo. Eu sou parte de algo maior, a minha vida encontra-se inserido em algo que vai muito para além da minha simples e finita existência material. Sou sustenido aos ombros dos que vieram antes de mim; hei-de servir para suster os que vêm. Nada é meu; tudo foi-me dado. Que seria de mim fora desta continuidade? Seria alguém sem um passado, e consequentemente alguém sem futuro. Não me invento a mim mesmo; não sou solipsista; não sou o meu próprio Deus. Às vezes sinto que o mundo moderno Ocidental está afectado desta loucura, de desejar liberdade como um fim em si mesmo. Deseja-se a liberdade total, até mesmo do passado. Deseja-se liberdade dos limites, esquecendo que são os contornos que dão forma e tornam as coisas inteligíveis. Deseja-se a liberdade de caminhar para o vazio, para a não-existência...
E assim também é a salvação: a minha depende de todos, e a de todos depende de mim. Ninguém se salva só, e todos só nos salvámos pertencendo ao Corpo d'Aquele que é maior que nós. É Ele que me liga a todos, e todos a mim.
+ Senhor, que eu consiga receber com humildade tudo o testemunho dos que vieram antes de mim, para que o consiga passar aos outros. +

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