2008/11/28

Philia

Há poucas coisas tão preciosas como uma amizade de verdade. Saber que temos alguém que se preocupa connosco não porque tira algum proveito disso, mas porque realmente se interessa por nós, é das coisas mais reconfortantes que pode haver. E ainda mais precioso é quando essa pessoa nos percebe tão bem quanto nós mesmos, que muitas vezes até parece que lê o que nos vai na alma.

Estou muito grato por poder ter alguém assim. Estou grato por poder ter uma amiga que me deu tanto, e que me continua a dar. Ao vê-la crescer, ao ir conhecendo-a, fui-me conhecendo também melhor. Sem o saber, ajudou-me a reaproximar de Deus numa altura em que eu pensava que não o precisava. Partilhamos muitos momentos, usn bons, outros menos bons, e apesar de às vezes "irmos aos arames" um com o outro, no final tudo sempre se resolve porque a amizade que temos um pelo outro é mais forte.

E porque é que somos amigos? Não sei ao certo porquê. À primeira vista, não poderia haver duas pessoas mais distintas, quase opostos completos. Dizem os franceses que "les extremes se touchent", e talvez seja verdade. Talvez por seremos tão diferentes, o nosso interior seja bastante parecido. Não sei. O que sei é que sou uma pessoa com bastante sorte por ter uma amizade assim. Uma amizade que não procura o próprio interesse, mas o bem estar e crescimento do outro. Uma amizade que nos completa, que nos revela a nós mesmo, e que nos ajuda a crescer em amor a Cristo.



2008/11/23

23-11-08

"Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo." (Mt 25,35-36)

Fazer estas coisas pelos outros, não pelo bem estar que dá, mas sobretudo por amor a Cristo. Encontrá-l'O nos que mais precisam de nós. É um grande desafio. E como o fazer se não também me tornando um deles, um "necessitado", tirando-me do meu conforto e conveniência e me por ao seu serviço? O Rei Eterno tornou-se servo dos homens. Se é para seguir Cristo, para o imitar, não deverei eu também o fazer?

2008/11/22

O Coração da Virgem

Enquanto rezava o terço, perguntava-me porque é que se deve encomendar as vocações à Virgem Maria. Talvez seja porque ela é o exemplo perfeito de quem escutou o que Deus lhe disse, que como entendeu a sua vocação poderá auxiliar os outros que se encontram a fazer o mesmo. E talvez também porque ela foi a discípula perfeita, sempre presente na vida de Cristo. Contemplava-o sem cessar. Diz-nos a Escritura que Maria considerava os actos de Jesus no seu coração: "Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração." (Lc 2,19) "Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração." (Lc 2,51).

Imitar Maria na contemplação de Cristo para que O possa imitar. Parece ser simples o suficiente, mas algo me diz que não será tarefa fácil...



2008/11/20

O que todos buscámos

Ontém antes da aula de preparação para o Crisma encontrei-me com uma amiga que já não via há alguns anos. Ela veio estudar para os EUA há dois anos, deixando tudo e todos que lhe são queridos para trás em Portugal. À medida que iamos conversando, não podia deixar de notar um certo cansaço no seu olher, uma certa tristeza, e as suas palavras iam traíndo o ânimo que tentava aparentar.
Mais para o fim, disse algo que me tocou imenso, que me deixou com uma profundo tristeza de nada poder fazer para lhe ajudar: "Tenho 27 anos e ainda nem sei o que quero da minha vida." Essas palavras ficaram-me gravadas na memória, e ao sair da aula ia no autocarro a rezar por esta amiga e a pensar se não haveria forma de a poder ajudar.

O que queremos realmente da nossa vida? Penso que todos, sem excepção, queremos ser felizes. Portanto não será isso que ela quis dizer. O que está subjacente a esse comentário é o "como". Como ser feliz? Eis a pergunta. Paradoxalmente, a resposta é uma só, mas ao mesmo tempo muitas (acaba depois por variar de pessoa para pessoa quando a tentam pôr em prática).
Como ser feliz? Muitas vezes perguntei isto a mim mesmo. Na altura nenhuma das respostas me satisfazia. Tudo o que eu achava que me faria feliz, ou me deixava com uma maior sensação de insatisfação ou então de vazio. Buscava fora de mim o que pensava que me faria feliz, enquanto o necessário esteve sempre dentro. Diz-nos S.to Agostinho nas suas Confissões :"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!"

Como ser feliz? Escutando o nosso coração, saberemos como ser feliz. É escutando-o que nos vamos conhecendo melhor, e assim se percorre o caminho para a felicidade. Mas é preciso saber escutá-lo. Deus fala-nos aos "ouvidos do coração", mas ao mesmo tempo que Ele fala, dado a nossa natureza caída, tantos outros ruídos competem pela nossa atenção. A voz de Deus, porque é a mais majestosa, é a mais silênciosa; porque nasce do amor, não se impõe, mas aconselha. Para se entender o que o Pai Criador nos diz, é preciso conhecer a Sua Palavra. Jesus Cristo, Deus-Filho, é a Palavra de Deus-Pai. O Pai comunica-nos através do Seu Filho, porque tudo foi feito por Ele [pelo Filho] e porque sendo Ele também Deus participa completamente no Pai. Cristo é a Palavra, é o "tradutor" por excelência do nosso coração. Seguindo o Seu exemplo e os Seus ensinamentos, crendo n'Ele, vamos conseguindo ouvir melhor o que o coração nos vai segredando e assim indo a caminho da santificação. E na santificação encontramos a felicidade completa, porque aí sim estamos na presença de Deus, que é Amor, que é Bom.

Só quando comecei a crer em Deus é que comecei a perceber como é que realmente poderia ser feliz. Só aí é que comecei a perceber quais as perguntas que deveria fazer e como as deveria fazer. Ainda não está tudo claro, e muitas são as vezes que ainda ando a apalpar caminho às cegas, mas suponho que isso faça parte. É mais uma coisa para nos lembrar que não somos nós mesmos a fonte da nossa felicidade (só Deus é a propria fonte da Sua felicidade), para nos mantermos humildes, e nessa humildade reconhecer que Ele é a Luz e que nos conduzirá ao Paraíso. Temos é de ter fé.

Como ser feliz? Crendo em Deus. E crendo em Deus, acreditando em Cristo. Em acreditando em Cristo, seguindo-O. E seguindo-O, rezando. E rezando, ouvindo o que Deus nos diz. E ouvindo o que Deus nos diz, fazendo-o.


Recordações de um retiro especial

Faz agora por esta altura um ano desde que fiz o meu primeiro retiro. Lembro ter me inscrito sem saber muito bem em que me estava a meter...pensava que seria um convívio! Imaginem a minha surpresa quando a caminho o padre nos disse "Vocês sabem que isto é em silêncio, não é?" Três dias em silêncio?! "Onde é que me vim meter???" pensei eu cá para com os meus botões. Verdade seja dita que o silêncio nunca foi coisa que me incomodasse (sempre precisei de bastante tempo para o silêncio, para poder estar só, mesmo quando ainda não cria), mas talvez a novidade da situação me tenha assustado.
Um grupo de 4, mais o padre, numa casa na Costa Nova no final de Novembro. O inverno já se ia fazendo sentir e a zona encontrava-se rarefeita de gente. Dias cinzentos, de frio, de alguma chuva e vento. Ou seja, o ambiente era propício para o encontro com o Senhor. Três dias em silêncio, fora as reuniões para as pistas de oração e os momentos para falarmos em particular com o padre. Foi nesta altura que aprendi que havia outras maneiras de rezar. Pedia-se que rezassemos determinadas passagens da Biblia. Demorou ainda um dia, mas finalmente lá consegui descobrir o que era pretendido. Lentamente fui descobrindo como é que as passagens me falavam, como é que Deus me falava em particular através delas.
Silêncio. Começei a notar como o silêncio ajudava a escutar, assim como também aprendi o quanto simples gestos conseguem dizer. Dizem tanto que até no silêncio torna-se uma necessidade evitar os outros para que os seus gestos não nos desconcentrem.O retiro acabou por ter um propósito: agradecer a Deus pelas graças que me deu no último ano, de reconhecer onde Ele esteve presente na minha vida, apercebendo-me que em muitas dessas vezes era quando eu pensava que Ele não estaria. Ficava no meu quarto a rezar, mas os lugares de oração preferidos eram na capela improvisada ou na praia à beira do mar. Ao longo desses dias senti-me invadido por uma alegria e paz enorme, por uma sentido de agradecimento profundo. Lembro-me de depois descrever a sensação a alguém como sendo que alguém sorria dentro de mim.Três dias sem falar com os restantes do grupo, mas ao sairmos de lá senti como se juntos tivessemos passado por muito. Ainda hoje mantenho contacto regular com duas das pessoas, que agora considero grandes amigas. Guardo com bastante carinho a memória desses três dias e da paz e alegria que pareciam transbordar até pelas semanas seguintes.Mas o que guardo acima de tudo desses três dias é o que eles proporcionaram: abriram-me os ouvidos do coração para que dentro de algum tempo viesse a escutar Aquele que nos criou, para o vir a conhecer de uma forma muito particular.

2008/11/18

Sentir em casa

Hoje particularmente, devido a certas circunstâncias dos últimos dias, vieram-me bastantes vezes à memoria os dias que passei em Espanha com os Discípulos dos Corações de Jesus e Maria. Lembro-me de estar na estação velha de Coimbra, à meia-noite, à espera do comboio que me levaria até Madrid, e as coisas que me passaram pela cabeça. "O que estou eu a fazer? Vou para um lugar onde não conheço ninguém, onde mal sei a língua. Isto é uma loucura. Não será isto tudo fruto da minha imaginação? Ainda vou a tempo de desistir." Sim, ainda me ocorreu desistir antes de começar. Mas lembrei-me do que me disse a minha amiga Rute nesse dia: "Vai e confia. Acontecerá o que tiver de acontecer." Confiar. Era uma palavra que surgia com bastante frequência em resposta às minhas perguntas nas orações. Já no mini-campo de trabalho dos Leigos, quando me deparei com o facto de termos de lidar com mulheres com deficiência mental (algo que me custava bastante a aceitar) só me restou confiar em Deus, que Ele me haveria de ajudar a aprender a superar essa dificuldade. E ajudou, mas isso fica para outra altura.E lá entrei para o comboio, meio temoroso mas confiante que Deus me haveria de mostrar o caminho. Chegado à estação de Chamartín encontrei Carlos e Juan, dois dos Discípulos. Notei que apesar de não os conhecer, não tive a dificuldade habitual de iniciar conversa com desconhecidos. Quando chegamos à casa experimentei uma sensação que nunca tinha tido, e que desde então não voltei a ter. Senti como se tivesse chegado a casa. Apesar de estar rodeado de estranhos senti como se estivesse entre familia. Naquela semana não houve necessidade de máscaras; naquela semana dei a conhecer todo de mim aos outros logo desde o início.
Tanta gente de idades e personalidades tão diferentes, mas todos unidos sob o mesmo tecto, unidos pelo mesmo - por amor a Cristo. A semana foi bastante agitada, devido ao facto dos Discípulos estarem a preparar os acampamentos de jovens e também o facto do Jaime ser ordenado padre nessa semana. Apesar de muito trabalho, tanto na casa de Madrid como em Villaescusa, sempre se arranjava tempo para oração. Aliás, aprendia-se a fazer de cada momento, cada gesto, uma oração. Oração em comunidade como em particular; havia bastante de ambos. O dia começava com a liturgia das horas e missa antes do pequeno almoço. e terminava com a liturgia das horas. O dia era estruturado para que se tivesse sempre a presença do Senhor em conta: às refeições, quando se saía de casa, quando se viajava, etc. Aprendi a ter um carinho especial pela nossa Mãe do Céu Maria que até então desconhecia.
Mas o que mais me ficou dessa semana foi a sensação de realmente ter vivido. Pela primeira vez na vida senti que realmente estava a viver o momento. Centrado em Deus, uma pessoa não se preocupava com o que estava para trás assim como também com o estava para a frente. Confiava-se no que Deus haveria de dispor. Só o dia presente é que contava, só aquilo que Deus lhe tinha dado para fazer nesse dia era essencial. E vivendo desta maneira, conseguia-se dar o máximo de si mesmo, conseguia-se realmente disponibilizar para os outros, e um dia já não eram só 24 horas, mas algo muito mais...
Pergunto-me se será sempre assim o dia-a-dia de um religioso, se é sempre assim tão cheio da presença de Deus. Se é, é uma experiência maravilhosa.

Vim de Madrid com a sensação de finalmente saber a que o Senhor me chama nesta vida. Pela primeira vez senti dentro de mim como quem diz "sim, é realmente isto que Deus quer da minha vida; e é este o caminho para eu me realizar". Juan Antonio Granados, Felipe, Carlos, Sandro, Juan, Jaime, Carlos Granados, Pedro Pablo, Paco... Muitas são as saudades dessa familia que deixei para trás, e muito grato estou a Deus por os ter conhecido e pelo que aprendi deles. Deus queira que eu um dia os reveja.E se é esse o caminho, Senhor, porque ainda ando eu por vias travessas? Quando é que passarei a confiar mais em Vós?

2008/11/13

Um pouco de animação para um dia cinzento



Há canções que ficam conosco mesmo sem sabermos o significado da letra. Talvez seja porque hoje é um dia cinzento e chuvoso e por esta canção ter um rítmo animado que ela tenha ficado na minha cabeça. Pelos vistos é uma canção dos lados da Servia ou do Kosovo.

2008/11/12

Esvaziar

Hoje foi a primeira aula de preparação para o crisma. Falámos sobre oração: sobre o lugar central que tem na vida do Cristão; os vários tipos de oração; etc. O tempo não deu para muito (a aula só dura uma hora e meia), mas havia ali tanto sobre o que falar que deu pena quando chegou a hora de partirmos.E só hoje é que finalmente me apercebi do que nos é pedido quando parar rezar os santos nos dizem que nos devemos esvaziar. São Paulo dí-lo tantas vezes quando nos compara a um vaso de barro, mas só agora é que finalmente se acendeu uma luz neste cabeça.
Somos vasos cheios de nós mesmos. Quando parámos para rezar, é necessário que retirámos algum do conteudo para que haja espaço para Deus dentro de nós. Quiçá, um dia não poderemos vir a esvaziar o vaso por completo de forma a que só Deus o ocupe e, em esvaziando-nos, nos encontremos realmente.

2008/11/09

Senhor, dai-me coragem

Ó Mestre,

fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e morrendo que se vive para a vida eterna.

Esta parte da Oração de São Francisco de Assis ficou comigo hoje, não sei bem porquê. O final do dia acabou por revelar o motivo. Algo aconteceu que me fez lembrar o quanto ainda ando a fugir à minha "cruz", e quanto preciso da ajuda do Senhor para realizar aquelas acções. Cristo não tentou agradar às pessoas: foi aberto, honesto, Ele mesmo, e pregou e viveu a Verdade independentemente do que os homens pensassem. Senhor, sê a minha rocha...

2008/11/08

Oração Mental

Deixo-vos aqui um link para uma página (em inglês) sobre oração mental. É bastante informativa.

2008/11/07

Deus das pequenas coisas

Porque trabalho eu? Com que finalidade é que quero dinheiro na minha conta no final do mês? Será que quero uma casa grande, um carro, poder ir de férias a destinos exóticos? Ou talvez queira comprar todos esses "brinquedos" superfluous com que a publicidade me bombardeia? Não, creio que não é isso. Em tempos terá sido assim. Havia sempre aquela espectativa de receber o ordenado para poder comprar isto ou aquilo que eu tanto queria, que "precisava". E quando finalmente tinha essa coisa já não era o suficiente, não preenchia aquele vazio, não era aquilo que imaginava que iria ser. Solução: seguir para a próxima compra.

Mas ultimamente já não é o querer ter que me motiva para trabalhar. Há algo que tem surgido nas minhas orações: pobreza, tanto de espírito como material. Será que pobreza material é sinónimo de pobreza de espírito? Penso que não necessariamente. Conheço gente necessitada que mesmo assim não deixam de ter um coração duro, que não são pobres de espírito. Então como se relacionam um com o outro?

Pobreza de espírito é ser pobre perante Deus, reconhecer-mo-nos como pedintes dependentes da sua bonança. Quanto mais nos reconhecemos devedores, menos exigimos (no sentido de "eu tenho direito a..."), e mais apreciamos o que Deus nos dá. Deus dispõe na nossa vida do necessário para a nossa salvação: é preciso não perdermos isso de vista. Penso que quanto mais gratos Lhe somos, mais nos apercebemos que nada é realmente nosso, que tudo provem d'Ele. E é por esse caminho que podemos chegar a o que eu chamo uma pobreza material "sã".

Porque Deus é infinito, revela-se paradoxalmente nas pequenas coisas. É esse saber encontrá-Lo na imensidão dos pequenos detalhes que nos ajuda a despirmos as coisas superfluas da nossa vida. Consegui-mo-Lo encontrar no sorriso de um amigo, na ajuda inesperada de um estranho, num música, num pôr-do-sol, numa brisa... Porque reconhecemos o muito que nos dá e o pouco que realemente precisamos, dispomos mais facilmente do que é "nosso" para dar aos outros. E, quiçá, não podermos com esta atitude chegar ao extremo de nada termos para tudo darmos...

2008/11/05

Para rir

"Mudança"

Ontem os americanos escolheram "mudança". Mas qual é a mudança em que os americanos votaram? Numa sociedade onde somos constantemente convidados a consumir o que é novo e a deitar fora o antigo só porque passou de moda, o que é que isso diz acerca das nossas crenças? Não reflecte isto um gosto de mudança só pela mudança, pelo facto de ser novo? Não que mudar seja necessariamente mau, mas deve ter sempre como objectivo uma mudança para melhor e estar fundado sobre um passado sólido.
Há muita expectativa em torno do Obama. Muito sinceramente, do que tenho visto, ouvido, e lido não vejo grande diferenças entre ele e o McCain. Perdoem-me o cinísmo, mas penso que este canto do mundo continuará a marchar ao som do mesmo tambor, como tem vindo a fazer já há vários anos.

Não querendo tomar partido de nenhum dos candidatos principais (até porque o meu voto foi para um desses candidatos mais obscuros, que nunca apanham tempo de antena seja aqui seja no exterior), mas intrigou-me um pouco a preferência de muitos eleitores Católicos pelo presidente-eleito Obama. O seu vice-presidente Joe Biden é (ou pelo menos diz-se) Católico, mas vários dos seus comentários e opiniões obrigam uma pessoa a perguntar se realmente o é. A ideia com que se fica é do que aqui chamam um "cafeteria Catholic" - ou seja, um Católico que escolhe o que lhe convem dos ensinamentos da Igreja (e a fortiori, de Cristo) e descarta os "inconvinientes". Embora Obama não seja Católico, diz-se Cristão. Mas não será perturbador quando um Cristão apoia o aborto e diz ainda que em determinados casos "a gravidez é um castigo"? Por sua vez, o McCain também pouco ou nada diz publicamente sobre a sua posição relativamente ao aborto, mas a maneira como tem votado no senado em relação a materias respeitantes deixa transparecer o facto de que também não tem grandes problemas com a "interrupção voluntária da gravidez".


Paremos para pensar um pouco. Como é que é possível considerar uma gravidez um castigo? Para os Cristãos a vida humana é das coisas mais sagradas que existe. Nada justifica a morte de uma criança indefesa e inocente, especialmente não dizer que "foi um descuido". Se nem a vida intrauterina respeitamos, como poderemos respeitar os nossos irmãos com quem vivemos e convivemos no dia-a-dia? A vida humana, portanto, não tem valor por si só, como uma dádiva de Deus (independentemente das condições em que vem ao mundo)? A solução para gravidezes indesejadas não é assassinar a parte inocente, é aprender a lidar com ela. É aprender a utilizar essa oportunidade para crescer em amor, para nos tornarmos mais humanos. Passa por mobilizar a familia (essa instituição tão ameaçado nos dias de hoje) e por ensinar aos mais novos a correcta utilização - sã e humana -da nossa sexualidade segundo os ensinamentos do Senhor.

2008/11/04

Mais um passo

Hoje finalmente inscrevi-me para a preparação do crisma. Apróxima-se mais uma étapa no aprofundamento da fé. Olho agora para trás, para este último ano e meio, e não me deixo de espantar com o caminho que tenho percorrido até aqui. Os passos têm sido lentos, às vezes até com muita resistência, mas aos poucos tenho vindo a apróximar daquele que me dá sentido. Quanta gente Ele me colocou no caminho, quanta consolação não me deu. Mas também quantas vezes não tenho tropeçado, que Lhe tenho dito "agora não". Tantas são as vezes que nem o mínimo Lhe retribuo. Mas é assim o caminho até à Cruz, com quedas e tropeços, mas sem nunca negar o destino final; também Jesus caíu a caminho da sua entrega.


Das leituras de hoje, as passagens que me ficaram mais na memória foram Fl 2,8 e Lc 14,18. A passagem da carta aos Filipenses fala de Cristo se "rebaixar a si mesmo". Ou seja, humildade. E só a humildade de Cristo é verdadeira: não se rebaixou por orgulho, para se mostrar superior aos outros, nem por ódio a si mesmo. Humilhou-se por amor. E sou obrigado a perguntar-me : quantas vezes tenho eu sido realmente humilde? Quantas vezes não acho que estou a ser humilde, quando de facto os motívos subjacentes são todos menos o que deveria ser. Humildade: é algo sobre o qual tenho vindo a rezar bastante nestes últimos meses. Ensina-me Senhor a ser humilde, ensina-me a ter uma coração que sente e que sangra, um coração vivo e não de pedra. Já a passagem do evangelho de São Lucas me fez recordar que ando a esquivar-me também. Há um bom tempo que não procuro o sacramento da reconciliação. Sei que não posso participar plenamente na seia do Senhor no estado em que estou, mas mesmo assim vou adiando. E porquê? Inércia, talvéz; o Inimigo quando nos tenta fá-lo subtilmente...

Ando a ponderar seriamente levar àvante a Consagração Total a Jesus por Maria, do Sto. Louis de Monforte. Pelo que me contam, não é algo com o qual se deve avançar de ânimo leve. Há que rezar...


2008/11/01

Dia de Todos os Santos