2009/09/30

Pensamento do dia

«Adquire um espírito pacífico e em teu redor milhares serão salvos.»
Sto. Serafim de Sarov

2009/09/29

Mais de St. Irenaeus Ministries

Alguns elementos do St. Irenaeus Ministries foram entrevistados num programa da cadeia norte-americana, EWTN. Fica aqui a primeira parte (de quatro) dessa entrevista.

"Quem dizes que eu sou?" Faço-Te esta pergunta que em tempos Tu fizestes aos Teus. Quem dizes que sou? Só Tu, meu Senhor e meu Deus, sabes, pois tudo o que Tu dizes É. Pergunto-Te porque sou um estranho a mim mesmo. Faço o que não quero fazer, e não faço o que quero. O Pecado faz de mim um estranho a mim mesmo. Não consigo vislumbrar totalmente quem Tu concebestes antes dos tempos debaixo de toda esta podridão, debaixo desta sujidade que se cola a mim e que apenas a Tua água viva pode limpar. Não me conheço por causa dos meus pecados; mas não será através deles que me posso vir a conhecer? Sem reconhecer os meus pecados, sem saber o que é podridão, como poderei saber o que é Vida?

2009/09/25

Têmporas

Hoje é o 2º dia das Têmporas de Setembro. Só há relativamente pouco tempo é que soube o que são as Têmporas. As Têmporas são uma tradição da Igreja Romana já bastante antiga; crê-se que terão surgido com a conversão dos povos pagãos, embora estejam intimamente ligado aos primórdios da Igreja e a sua herança Judaica. As Têmporas são como uma espécie de mini-Quaresma: são dias de jejum, oração, e esmola. Existem 4 Têmporas durante o ano:

  • Têmporas do Advento (depois da festa de Sta. Lúcia)
  • Têmporas da Quaresma (na semana seguinte à Quarta-feira de Cinzas)
  • Têmporas de Pentecostes (depois de Domingo de Pentecostes)
  • Têmporas de Setembro (depois da festa da Santa Cruz)
Os Judeus tinham por costume jejuar duas vezes por semana (temos exemplo disso na parábola do Fariseu e do Publicano, Lc 18,12) às Terças e Quintas. Os primeiros Cristãos alteraram este costume para as Quartas e Sextas (Quarta sendo o dia em que Cristo foi traído, e Sexta o dia da Sua Paixão). Mais tarde em Roma só se passou a observar a Sexta como dia penitêncial; só se jejuava Quarta-feira durante as Têmporas. Depois adicionou-se o Sábado como "finalização", dado ser o dia em que Cristo foi sepultado. Curiosamente, diz a tradição que a expressão "Quando em Roma..." surgiu devido a este costume. Supostamente Sto. Agostinho perguntou a Sto. Ambrosio se ele observava o jejum de Sábado, ao qual ele respondeu "Quando estou em Roma, sim; quando estou aqui [Milão], não." Com o passar dos anos, as Têmporas tinham-se tornado em épocas propícias de ordenação de religiosos e de primeiras comunhões devido a serem um período penitencial. Como coincidem com o inicio das estações, têm uma rica história associada à Natureza e da sua ligação com o Homem; servem também para nos relembrar de que somos custódios da criação, que devemos admirar e respeitar tudo aquilo que Deus criou para nós.
Estes dias eram de carácter obrigatório até ao CV2; os bispos locais ficaram de implantar a sua observância, mas nunca se chegou a resolver a situação. Imagino que os nossos irmãos Ortodoxos, e mesmo os Católicos Orientais, olhem para nós e se questionem por que abandonámos quase por completo os hábitos de jejum e abstinência (basta olhar para quantos períodos de jejum existem nas Igrejas Orientais). Jejum e abstinência são armas de ascese fundamentais para a vida espiritual. Vale a pena reflectir sobre o significado das Têmporas e da sua significância para os nossos dias.
Quem queira ler mais sobre as Têmporas pode ir aqui e aqui.

2009/09/23

A primeira vez

A semana passada assisti, pela primeira vez, a uma missa que não fosse celebrada pelo rito Romano. Tive a possibilidade de ir a uma igreja Ucraniana-Grega Católica (a segunda maior Igreja Católica a seguir à Romana), onde se utiliza o rito Bizantino. Lá, a Missa tem outro nome - a Divina Liturgia. Infelizmente cheguei atrasado; penso que o padre estava já a dar a homilia (digo "penso" porque ele falava ucraniano, e passou um bom bocado a falar a partir do pulpito). Enquanto que no rito Romano uma pessoa se apercebe das várias partes da Missa, no rito Bizantino tudo flui; a Divina Liturgia é um continuuo. Existem bastante diferenças entre os ritos: para já, toda a missa é cantada, coisa que só acontece no rito Romano na forma extra-ordinária, e isto em Missas Altas. Depois, não existe um hostia como a nossa (i.e., the pão não-levedado); a missa dura bem mais de uma hora; etc. Não vou entrar em muitos detalhes, pois há bastante informações na internet para quem queira saber mais sobre este nosso património. Pouco mais tenho a acrescentar, fora o facto de não ter percebido quase nada do que era dito (a Liturgia era celebrada em ucraniano ou então em eslavônico eclesial; agora não sei qual). Só havia uma curta frase que percebi; uma frase que todos os fieis presentes repetiram inumeráveis vezes ao longo da Liturgia acompanhado pelo sinal da cruz - "Gospodi pomilui" (Senhor, misericórdia). Penso que foi isso que mais me marcou desta primeira experiência, o relembrar constante da nossa condição de pecador e da necessidade da misericórdia de Deus.

Passagens

Só soube esta semana que um amigo meu faleceu o mês passado. A notícia caiu-me que nem uma bomba. De facto estranhei o silêncio da sua parte, mas jamais me teria ocorrido que ele tivesse morrido. Quando o vi pela última vez estava bem; estava feliz por finalmente, depois de tantos anos, entrar para o curso com o qual sempre sonhou. E de repente tudo isso acabou.
Fomos colegas durante muitos anos; éramos apenas conhecidos. Mas neste último ano e meio, depois de muitos anos sem convívio, começamos a ser realmente amigos. E de repente isso também acabou.
A sua passagem faz-me perguntar se cheguei a ser um bom amigo. Estes momentos assim servem quase como um balde de água fria. Relembram-nos que temos de Viver...
Adeus Mil. Requiscat in pace.

2009/09/05

Mini-série

Parece que fizeram uma mini-série sobre um dos meus santos favoritos, Santo Agostinho de Hipona. Foi com as suas Confissões que desejei pela primeira vez amar a Deus como sentia que ele amou, tal é a forma como o amor que ele sentia (e sente) transbordava das páginas. Segue um trailer da série. Só espero que não seja como um que vi há tempos sobre S. Francisco de Assis, em que o drama pervaleceu à realidade.

2009/09/04

A Casa dos Mortos

Acabei de ler mais um livro do meu autor favorito, Fyodor Dostoyevsky. Desta vez foi A Casa dos Mortos. Esta obra é semi-autobiográfica. Dostoyevsky passou 4 anos num campo penal na Siberia, e este livro retrata a vida dentro do campo penal.
Como sempre, Dostoyevsky oferece-nos uma visão da psicologia por detrás das suas personagens. Aleksandr Petrovich (o personagem principal/narrador) é da nobreza russa, e é condenado a 10 anos de trabalhos forçados num campo penal pelo assassínio da sua mulher. Essencialmente, o livro só descreve o primeiro e último ano passados no campo (a justificação dada pelo narrador é de se "ter esquecido" dos restantes). Somos confrontados com as condições do campo penal e da vida dos prisioneiros. Inicialmente a única coisa que ocorre ao Aleksandr é o horror e o desespero de ter de passar "uma eternidade" com gente que desconhece, que lhe é hostil pelo simples facto dele ser da nobreza, e da vida desperdiçada atrás das paredes do campo. Mas com o passar dos anos, vai-se apercebendo que debaixo das máscaras que os outros prisioneiros aparentam, que existe vida, que existem pessoas de verdade. Inicialmente o seu estado de espírito impede-lhe de ver a realidade, mas com o passar dos anos, com a convivência, o espírito dele vai-se convertendo. Tenta ir percebendo o que de facto vai na alma daqueles homens a que o destino o uniu, e aos poucos vê-se obrigado também a olhar para o seu interior. Chegado ao fim, quase se nota uma certa tristeza em deixar para trás certas pessoas, sem saber do seu destino.


É neste mundo de dor e sofrimento que ele aprende o valor da humildade, que aprende o valor de viver, e ao sair dá prisão sente que realmente ressuscitou de entre os mortos.

De facto o livro não deixou nada a desejar. Fyodor nunca deixa de transmitir, embora de forma sublime, a mensagem do Evangelho nas suas obras. Como disse um conhecido meu há tempos: os livros dele quase que servem de leitura espiritual.