2008/12/24

Prendas de Natal

Que rica prenda esta: receber a notícia que vou ser tio!!!!!!! :-) Deus conceda ao meu irmão, mas especialmente à minha cunhada, 9 meses cheios de saúde e paz. E a todos vocês, um feliz e santo Natal. Que nesta noite vocês saibam ir sefuir a estrela e encontrar o Senhor, deixando que Ele entre na vossa vida.

2008/12/20

Simpatias

Porque é que simpatizamos com estranhos? Hoje decidi oferecer uma pequena prenda de Natal a 3 pessoas que após quase 2 meses ainda me são estranhos (dois no trabalho e um no restaurante onde costumo ir buscar o jantar). Não tinha nenhum motivo particular para o fazer; apenas um desejo de partilhar um pouco de alegria com eles. Teve uma certa piada ver a surpresa nos seus rostos, mais ainda quando em resposta à pergunta "porquê" apenas obtiveram um "porque não".

Vejo-os dia após dia e tento-os descobrir, tento-os conhecer. Quero saber quem são, o que os move, mas sobretudo quero saber se realmente estão tão tristes quanto sinto que estão; e se sim, então trazer-lhes um pouco de esperança em nome d'Aquele que me dá alento. Afinal, eles também me O trazem muitas vezes, mesmo que não o saibam. Aos poucos vou-me deixando de preocupar com o que possam pensar sobre mim, e assim me vou dando mais e de forma sincera. Não o faço por mim, para me sentir bem comigo mesmo; faço-o porque sinto que o devo fazer, faço-o por eles. A vida aqui passa tão rápida que nem se tem tempo de viver. E quando menos se espera, um dia nos aparecerá o Senhor, poque a Sua vinda não tem hora, e então o que teremos para lhe dizer? Como lhe explicaremos a vida que levámos?

Quantas vezes não estamos tão emaranhados nos nossos problemas, completamente desligados de Deus e do momento presente, refens do futro e/ou do passado. Às vezes basta só um toque para nos trazer de volta ao momento da salvação: ao momento presente. Às vezes é preciso que alguém nos lembre que Deus não se esquece de nós, mesmo quando nós nos esquecemos d'Ele.

2008/12/19

O Sonho Impossível

2008/12/14

De regresso do retiro

Depois de 3 dias fora de casa, eis-me de regresso do meu retiro. O retiro foi dado no Santuário da S.ta Elizabeth Seaton, a primeira santa americana. A viagem até lá foi interessante, pois fui até a uma parte do país que nunca tinha ido. Paisagens acidentadas, em contraste com onde vivo (que é maioritariamente plano). Além do mais tive de ir de comboio (pelo menos até Washington DC), meu meio de transporte favorito. Chegado a DC, apanhei o metro até ao ponto de encontro com o P. Armando, DCJM. Daí foi mais uma hora de viagem de carro até ao santuário. Chegado lá, descobri que eramos um grupo de 24, quase todos membros da paróquia do P. Armando.E quanto ao retiro em si mesmo? Apesar de não haver tanto silêncio exterior como desejava, descobri que ainda mais importante é o silêncio interior. E desta vez não foi tão fácil encontrar esse silêncio interior. Demasiadas distracções que me surgiam na oração. Mas aprendi que essas distracções são manisfestações de afectos desordenados, portanto mais uma coisa a trabalhar. Descobri também a importância de assistir à missa diariamente e de recorrer mais vezes ao sacramento da reconciliação: ajudam-nos a perseverar na oração e em fé a Deus.
Mas o que me marcou mais deste retiro foi que algo que me vinha inquietando nas minhas orações e que não queria admitir finalmente se fez sentir em toda a sua força. Como disse o P. Armando quando dava os pontos de meditação: "Que fique claro: quem diz que crê, mas que não toma a sua cruz diariamente não crê em Cristo, mas num 'deuzito' da sua própria criação." E apercebi-me de realmente o quanto não abraço as minhas cruzes, de quanto fujo delas. Apercebi-me do quanto ainda há que caminhar antes de me poder abandonar completamente em Deus.

Um fim-de-semana que me abalou bastante, mas que me encheu de esperança que Deus me susterá no que eu tiver de enfrentar, por mais que me custe.

2008/12/10

Sigo hoje para o meu retiro. Vamos lá ver o que foi semeado nestes últimos tempos, e so há fruto do ano passado.

E já que se fala em semear, fica uma pequena musica sobre o mesmo:

2008/12/06

Advento

"Uma voz clama no deserto: 'Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.' " (Mc 1,3)

Eis que se inicia outro ano liturgico. Chegamos ao Advento; em breve será o Natal - a Festa da Incarnação - portanto, há que preparar a vinda do Senhor. Quanto mais pondero sobre o Advento, mais acredito que é uma altura em que devemos seguir o exemplo de S. João Baptista. Embora Cristo já tenha vindo em carne (e aguardámos a sua segunda vinda), devemos preparar o caminho para que chegue ao nosso coração e não encontre um coração de pedra, mas um coração que sente. Tenhamos fé que com a Sua vinda nos conformemos mais à vontade de Deus. Mesmo que tropecemos pelo caminho, Ele estará ao nosso lado para nos apoiar; é preciso é crer n'Ele e reconhecer o quanto precisamos d'Ele.
O Baptista encontrava-se no deserto; Cristo vai para o deserto antes de iniciar a sua missão sobre a Terra; também nós nesta altura de Advento devemos procurar o deserto. É no deserto - no silêncio - longe das distracções do Mundo que nos podemos encontrar com Deus mais facilmente. O deserto não é um lugar de paz; todavia, é um lugar onde se pode encontrar o caminho para a paz. No deserto estamos à mercê dos elementos, estamos vulneráveis, e dessa vulnerabilidade pode nascer a humildade e o reconhecimento da necessidade Deus. A fraqueza ajuda-nos a abrir o coração para o Senhor. Talvez seja por isso que tantos de nós não queremos reconhecer Deus: porque reconhecendo-O, reconhecemos as nossas fraquezas...
S. João Baptista levava uma vida austere no deserto. É útil relembrar que o Advento é uma espécie de Quaresma "menor", e que nesta altura podemos fazer alguns sacrifícios para sermos solidários com o sofrimento de Cristo, como também para disciplinar a Carne - as paixões e os impulsos desregrados - que tantas vezes nos impede de ouvir o que o Senhor nos diz.

O Natal - a festa da Incarnação. Quais as implicações de acreditar que que Deus se fez homem e habitou entre nós? É algo que partilharei com devido tempo. Entretanto, vou-me preparando para a minha "ida para o deserto". O retiro está quase aí...

2008/12/03

Porque há dias em que a saudade de casa fala mais alto...

2008/11/28

Philia

Há poucas coisas tão preciosas como uma amizade de verdade. Saber que temos alguém que se preocupa connosco não porque tira algum proveito disso, mas porque realmente se interessa por nós, é das coisas mais reconfortantes que pode haver. E ainda mais precioso é quando essa pessoa nos percebe tão bem quanto nós mesmos, que muitas vezes até parece que lê o que nos vai na alma.

Estou muito grato por poder ter alguém assim. Estou grato por poder ter uma amiga que me deu tanto, e que me continua a dar. Ao vê-la crescer, ao ir conhecendo-a, fui-me conhecendo também melhor. Sem o saber, ajudou-me a reaproximar de Deus numa altura em que eu pensava que não o precisava. Partilhamos muitos momentos, usn bons, outros menos bons, e apesar de às vezes "irmos aos arames" um com o outro, no final tudo sempre se resolve porque a amizade que temos um pelo outro é mais forte.

E porque é que somos amigos? Não sei ao certo porquê. À primeira vista, não poderia haver duas pessoas mais distintas, quase opostos completos. Dizem os franceses que "les extremes se touchent", e talvez seja verdade. Talvez por seremos tão diferentes, o nosso interior seja bastante parecido. Não sei. O que sei é que sou uma pessoa com bastante sorte por ter uma amizade assim. Uma amizade que não procura o próprio interesse, mas o bem estar e crescimento do outro. Uma amizade que nos completa, que nos revela a nós mesmo, e que nos ajuda a crescer em amor a Cristo.



2008/11/23

23-11-08

"Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo." (Mt 25,35-36)

Fazer estas coisas pelos outros, não pelo bem estar que dá, mas sobretudo por amor a Cristo. Encontrá-l'O nos que mais precisam de nós. É um grande desafio. E como o fazer se não também me tornando um deles, um "necessitado", tirando-me do meu conforto e conveniência e me por ao seu serviço? O Rei Eterno tornou-se servo dos homens. Se é para seguir Cristo, para o imitar, não deverei eu também o fazer?

2008/11/22

O Coração da Virgem

Enquanto rezava o terço, perguntava-me porque é que se deve encomendar as vocações à Virgem Maria. Talvez seja porque ela é o exemplo perfeito de quem escutou o que Deus lhe disse, que como entendeu a sua vocação poderá auxiliar os outros que se encontram a fazer o mesmo. E talvez também porque ela foi a discípula perfeita, sempre presente na vida de Cristo. Contemplava-o sem cessar. Diz-nos a Escritura que Maria considerava os actos de Jesus no seu coração: "Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração." (Lc 2,19) "Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração." (Lc 2,51).

Imitar Maria na contemplação de Cristo para que O possa imitar. Parece ser simples o suficiente, mas algo me diz que não será tarefa fácil...



2008/11/20

O que todos buscámos

Ontém antes da aula de preparação para o Crisma encontrei-me com uma amiga que já não via há alguns anos. Ela veio estudar para os EUA há dois anos, deixando tudo e todos que lhe são queridos para trás em Portugal. À medida que iamos conversando, não podia deixar de notar um certo cansaço no seu olher, uma certa tristeza, e as suas palavras iam traíndo o ânimo que tentava aparentar.
Mais para o fim, disse algo que me tocou imenso, que me deixou com uma profundo tristeza de nada poder fazer para lhe ajudar: "Tenho 27 anos e ainda nem sei o que quero da minha vida." Essas palavras ficaram-me gravadas na memória, e ao sair da aula ia no autocarro a rezar por esta amiga e a pensar se não haveria forma de a poder ajudar.

O que queremos realmente da nossa vida? Penso que todos, sem excepção, queremos ser felizes. Portanto não será isso que ela quis dizer. O que está subjacente a esse comentário é o "como". Como ser feliz? Eis a pergunta. Paradoxalmente, a resposta é uma só, mas ao mesmo tempo muitas (acaba depois por variar de pessoa para pessoa quando a tentam pôr em prática).
Como ser feliz? Muitas vezes perguntei isto a mim mesmo. Na altura nenhuma das respostas me satisfazia. Tudo o que eu achava que me faria feliz, ou me deixava com uma maior sensação de insatisfação ou então de vazio. Buscava fora de mim o que pensava que me faria feliz, enquanto o necessário esteve sempre dentro. Diz-nos S.to Agostinho nas suas Confissões :"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!"

Como ser feliz? Escutando o nosso coração, saberemos como ser feliz. É escutando-o que nos vamos conhecendo melhor, e assim se percorre o caminho para a felicidade. Mas é preciso saber escutá-lo. Deus fala-nos aos "ouvidos do coração", mas ao mesmo tempo que Ele fala, dado a nossa natureza caída, tantos outros ruídos competem pela nossa atenção. A voz de Deus, porque é a mais majestosa, é a mais silênciosa; porque nasce do amor, não se impõe, mas aconselha. Para se entender o que o Pai Criador nos diz, é preciso conhecer a Sua Palavra. Jesus Cristo, Deus-Filho, é a Palavra de Deus-Pai. O Pai comunica-nos através do Seu Filho, porque tudo foi feito por Ele [pelo Filho] e porque sendo Ele também Deus participa completamente no Pai. Cristo é a Palavra, é o "tradutor" por excelência do nosso coração. Seguindo o Seu exemplo e os Seus ensinamentos, crendo n'Ele, vamos conseguindo ouvir melhor o que o coração nos vai segredando e assim indo a caminho da santificação. E na santificação encontramos a felicidade completa, porque aí sim estamos na presença de Deus, que é Amor, que é Bom.

Só quando comecei a crer em Deus é que comecei a perceber como é que realmente poderia ser feliz. Só aí é que comecei a perceber quais as perguntas que deveria fazer e como as deveria fazer. Ainda não está tudo claro, e muitas são as vezes que ainda ando a apalpar caminho às cegas, mas suponho que isso faça parte. É mais uma coisa para nos lembrar que não somos nós mesmos a fonte da nossa felicidade (só Deus é a propria fonte da Sua felicidade), para nos mantermos humildes, e nessa humildade reconhecer que Ele é a Luz e que nos conduzirá ao Paraíso. Temos é de ter fé.

Como ser feliz? Crendo em Deus. E crendo em Deus, acreditando em Cristo. Em acreditando em Cristo, seguindo-O. E seguindo-O, rezando. E rezando, ouvindo o que Deus nos diz. E ouvindo o que Deus nos diz, fazendo-o.


Recordações de um retiro especial

Faz agora por esta altura um ano desde que fiz o meu primeiro retiro. Lembro ter me inscrito sem saber muito bem em que me estava a meter...pensava que seria um convívio! Imaginem a minha surpresa quando a caminho o padre nos disse "Vocês sabem que isto é em silêncio, não é?" Três dias em silêncio?! "Onde é que me vim meter???" pensei eu cá para com os meus botões. Verdade seja dita que o silêncio nunca foi coisa que me incomodasse (sempre precisei de bastante tempo para o silêncio, para poder estar só, mesmo quando ainda não cria), mas talvez a novidade da situação me tenha assustado.
Um grupo de 4, mais o padre, numa casa na Costa Nova no final de Novembro. O inverno já se ia fazendo sentir e a zona encontrava-se rarefeita de gente. Dias cinzentos, de frio, de alguma chuva e vento. Ou seja, o ambiente era propício para o encontro com o Senhor. Três dias em silêncio, fora as reuniões para as pistas de oração e os momentos para falarmos em particular com o padre. Foi nesta altura que aprendi que havia outras maneiras de rezar. Pedia-se que rezassemos determinadas passagens da Biblia. Demorou ainda um dia, mas finalmente lá consegui descobrir o que era pretendido. Lentamente fui descobrindo como é que as passagens me falavam, como é que Deus me falava em particular através delas.
Silêncio. Começei a notar como o silêncio ajudava a escutar, assim como também aprendi o quanto simples gestos conseguem dizer. Dizem tanto que até no silêncio torna-se uma necessidade evitar os outros para que os seus gestos não nos desconcentrem.O retiro acabou por ter um propósito: agradecer a Deus pelas graças que me deu no último ano, de reconhecer onde Ele esteve presente na minha vida, apercebendo-me que em muitas dessas vezes era quando eu pensava que Ele não estaria. Ficava no meu quarto a rezar, mas os lugares de oração preferidos eram na capela improvisada ou na praia à beira do mar. Ao longo desses dias senti-me invadido por uma alegria e paz enorme, por uma sentido de agradecimento profundo. Lembro-me de depois descrever a sensação a alguém como sendo que alguém sorria dentro de mim.Três dias sem falar com os restantes do grupo, mas ao sairmos de lá senti como se juntos tivessemos passado por muito. Ainda hoje mantenho contacto regular com duas das pessoas, que agora considero grandes amigas. Guardo com bastante carinho a memória desses três dias e da paz e alegria que pareciam transbordar até pelas semanas seguintes.Mas o que guardo acima de tudo desses três dias é o que eles proporcionaram: abriram-me os ouvidos do coração para que dentro de algum tempo viesse a escutar Aquele que nos criou, para o vir a conhecer de uma forma muito particular.

2008/11/18

Sentir em casa

Hoje particularmente, devido a certas circunstâncias dos últimos dias, vieram-me bastantes vezes à memoria os dias que passei em Espanha com os Discípulos dos Corações de Jesus e Maria. Lembro-me de estar na estação velha de Coimbra, à meia-noite, à espera do comboio que me levaria até Madrid, e as coisas que me passaram pela cabeça. "O que estou eu a fazer? Vou para um lugar onde não conheço ninguém, onde mal sei a língua. Isto é uma loucura. Não será isto tudo fruto da minha imaginação? Ainda vou a tempo de desistir." Sim, ainda me ocorreu desistir antes de começar. Mas lembrei-me do que me disse a minha amiga Rute nesse dia: "Vai e confia. Acontecerá o que tiver de acontecer." Confiar. Era uma palavra que surgia com bastante frequência em resposta às minhas perguntas nas orações. Já no mini-campo de trabalho dos Leigos, quando me deparei com o facto de termos de lidar com mulheres com deficiência mental (algo que me custava bastante a aceitar) só me restou confiar em Deus, que Ele me haveria de ajudar a aprender a superar essa dificuldade. E ajudou, mas isso fica para outra altura.E lá entrei para o comboio, meio temoroso mas confiante que Deus me haveria de mostrar o caminho. Chegado à estação de Chamartín encontrei Carlos e Juan, dois dos Discípulos. Notei que apesar de não os conhecer, não tive a dificuldade habitual de iniciar conversa com desconhecidos. Quando chegamos à casa experimentei uma sensação que nunca tinha tido, e que desde então não voltei a ter. Senti como se tivesse chegado a casa. Apesar de estar rodeado de estranhos senti como se estivesse entre familia. Naquela semana não houve necessidade de máscaras; naquela semana dei a conhecer todo de mim aos outros logo desde o início.
Tanta gente de idades e personalidades tão diferentes, mas todos unidos sob o mesmo tecto, unidos pelo mesmo - por amor a Cristo. A semana foi bastante agitada, devido ao facto dos Discípulos estarem a preparar os acampamentos de jovens e também o facto do Jaime ser ordenado padre nessa semana. Apesar de muito trabalho, tanto na casa de Madrid como em Villaescusa, sempre se arranjava tempo para oração. Aliás, aprendia-se a fazer de cada momento, cada gesto, uma oração. Oração em comunidade como em particular; havia bastante de ambos. O dia começava com a liturgia das horas e missa antes do pequeno almoço. e terminava com a liturgia das horas. O dia era estruturado para que se tivesse sempre a presença do Senhor em conta: às refeições, quando se saía de casa, quando se viajava, etc. Aprendi a ter um carinho especial pela nossa Mãe do Céu Maria que até então desconhecia.
Mas o que mais me ficou dessa semana foi a sensação de realmente ter vivido. Pela primeira vez na vida senti que realmente estava a viver o momento. Centrado em Deus, uma pessoa não se preocupava com o que estava para trás assim como também com o estava para a frente. Confiava-se no que Deus haveria de dispor. Só o dia presente é que contava, só aquilo que Deus lhe tinha dado para fazer nesse dia era essencial. E vivendo desta maneira, conseguia-se dar o máximo de si mesmo, conseguia-se realmente disponibilizar para os outros, e um dia já não eram só 24 horas, mas algo muito mais...
Pergunto-me se será sempre assim o dia-a-dia de um religioso, se é sempre assim tão cheio da presença de Deus. Se é, é uma experiência maravilhosa.

Vim de Madrid com a sensação de finalmente saber a que o Senhor me chama nesta vida. Pela primeira vez senti dentro de mim como quem diz "sim, é realmente isto que Deus quer da minha vida; e é este o caminho para eu me realizar". Juan Antonio Granados, Felipe, Carlos, Sandro, Juan, Jaime, Carlos Granados, Pedro Pablo, Paco... Muitas são as saudades dessa familia que deixei para trás, e muito grato estou a Deus por os ter conhecido e pelo que aprendi deles. Deus queira que eu um dia os reveja.E se é esse o caminho, Senhor, porque ainda ando eu por vias travessas? Quando é que passarei a confiar mais em Vós?

2008/11/13

Um pouco de animação para um dia cinzento



Há canções que ficam conosco mesmo sem sabermos o significado da letra. Talvez seja porque hoje é um dia cinzento e chuvoso e por esta canção ter um rítmo animado que ela tenha ficado na minha cabeça. Pelos vistos é uma canção dos lados da Servia ou do Kosovo.

2008/11/12

Esvaziar

Hoje foi a primeira aula de preparação para o crisma. Falámos sobre oração: sobre o lugar central que tem na vida do Cristão; os vários tipos de oração; etc. O tempo não deu para muito (a aula só dura uma hora e meia), mas havia ali tanto sobre o que falar que deu pena quando chegou a hora de partirmos.E só hoje é que finalmente me apercebi do que nos é pedido quando parar rezar os santos nos dizem que nos devemos esvaziar. São Paulo dí-lo tantas vezes quando nos compara a um vaso de barro, mas só agora é que finalmente se acendeu uma luz neste cabeça.
Somos vasos cheios de nós mesmos. Quando parámos para rezar, é necessário que retirámos algum do conteudo para que haja espaço para Deus dentro de nós. Quiçá, um dia não poderemos vir a esvaziar o vaso por completo de forma a que só Deus o ocupe e, em esvaziando-nos, nos encontremos realmente.

2008/11/09

Senhor, dai-me coragem

Ó Mestre,

fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e morrendo que se vive para a vida eterna.

Esta parte da Oração de São Francisco de Assis ficou comigo hoje, não sei bem porquê. O final do dia acabou por revelar o motivo. Algo aconteceu que me fez lembrar o quanto ainda ando a fugir à minha "cruz", e quanto preciso da ajuda do Senhor para realizar aquelas acções. Cristo não tentou agradar às pessoas: foi aberto, honesto, Ele mesmo, e pregou e viveu a Verdade independentemente do que os homens pensassem. Senhor, sê a minha rocha...

2008/11/08

Oração Mental

Deixo-vos aqui um link para uma página (em inglês) sobre oração mental. É bastante informativa.

2008/11/07

Deus das pequenas coisas

Porque trabalho eu? Com que finalidade é que quero dinheiro na minha conta no final do mês? Será que quero uma casa grande, um carro, poder ir de férias a destinos exóticos? Ou talvez queira comprar todos esses "brinquedos" superfluous com que a publicidade me bombardeia? Não, creio que não é isso. Em tempos terá sido assim. Havia sempre aquela espectativa de receber o ordenado para poder comprar isto ou aquilo que eu tanto queria, que "precisava". E quando finalmente tinha essa coisa já não era o suficiente, não preenchia aquele vazio, não era aquilo que imaginava que iria ser. Solução: seguir para a próxima compra.

Mas ultimamente já não é o querer ter que me motiva para trabalhar. Há algo que tem surgido nas minhas orações: pobreza, tanto de espírito como material. Será que pobreza material é sinónimo de pobreza de espírito? Penso que não necessariamente. Conheço gente necessitada que mesmo assim não deixam de ter um coração duro, que não são pobres de espírito. Então como se relacionam um com o outro?

Pobreza de espírito é ser pobre perante Deus, reconhecer-mo-nos como pedintes dependentes da sua bonança. Quanto mais nos reconhecemos devedores, menos exigimos (no sentido de "eu tenho direito a..."), e mais apreciamos o que Deus nos dá. Deus dispõe na nossa vida do necessário para a nossa salvação: é preciso não perdermos isso de vista. Penso que quanto mais gratos Lhe somos, mais nos apercebemos que nada é realmente nosso, que tudo provem d'Ele. E é por esse caminho que podemos chegar a o que eu chamo uma pobreza material "sã".

Porque Deus é infinito, revela-se paradoxalmente nas pequenas coisas. É esse saber encontrá-Lo na imensidão dos pequenos detalhes que nos ajuda a despirmos as coisas superfluas da nossa vida. Consegui-mo-Lo encontrar no sorriso de um amigo, na ajuda inesperada de um estranho, num música, num pôr-do-sol, numa brisa... Porque reconhecemos o muito que nos dá e o pouco que realemente precisamos, dispomos mais facilmente do que é "nosso" para dar aos outros. E, quiçá, não podermos com esta atitude chegar ao extremo de nada termos para tudo darmos...

2008/11/05

Para rir

"Mudança"

Ontem os americanos escolheram "mudança". Mas qual é a mudança em que os americanos votaram? Numa sociedade onde somos constantemente convidados a consumir o que é novo e a deitar fora o antigo só porque passou de moda, o que é que isso diz acerca das nossas crenças? Não reflecte isto um gosto de mudança só pela mudança, pelo facto de ser novo? Não que mudar seja necessariamente mau, mas deve ter sempre como objectivo uma mudança para melhor e estar fundado sobre um passado sólido.
Há muita expectativa em torno do Obama. Muito sinceramente, do que tenho visto, ouvido, e lido não vejo grande diferenças entre ele e o McCain. Perdoem-me o cinísmo, mas penso que este canto do mundo continuará a marchar ao som do mesmo tambor, como tem vindo a fazer já há vários anos.

Não querendo tomar partido de nenhum dos candidatos principais (até porque o meu voto foi para um desses candidatos mais obscuros, que nunca apanham tempo de antena seja aqui seja no exterior), mas intrigou-me um pouco a preferência de muitos eleitores Católicos pelo presidente-eleito Obama. O seu vice-presidente Joe Biden é (ou pelo menos diz-se) Católico, mas vários dos seus comentários e opiniões obrigam uma pessoa a perguntar se realmente o é. A ideia com que se fica é do que aqui chamam um "cafeteria Catholic" - ou seja, um Católico que escolhe o que lhe convem dos ensinamentos da Igreja (e a fortiori, de Cristo) e descarta os "inconvinientes". Embora Obama não seja Católico, diz-se Cristão. Mas não será perturbador quando um Cristão apoia o aborto e diz ainda que em determinados casos "a gravidez é um castigo"? Por sua vez, o McCain também pouco ou nada diz publicamente sobre a sua posição relativamente ao aborto, mas a maneira como tem votado no senado em relação a materias respeitantes deixa transparecer o facto de que também não tem grandes problemas com a "interrupção voluntária da gravidez".


Paremos para pensar um pouco. Como é que é possível considerar uma gravidez um castigo? Para os Cristãos a vida humana é das coisas mais sagradas que existe. Nada justifica a morte de uma criança indefesa e inocente, especialmente não dizer que "foi um descuido". Se nem a vida intrauterina respeitamos, como poderemos respeitar os nossos irmãos com quem vivemos e convivemos no dia-a-dia? A vida humana, portanto, não tem valor por si só, como uma dádiva de Deus (independentemente das condições em que vem ao mundo)? A solução para gravidezes indesejadas não é assassinar a parte inocente, é aprender a lidar com ela. É aprender a utilizar essa oportunidade para crescer em amor, para nos tornarmos mais humanos. Passa por mobilizar a familia (essa instituição tão ameaçado nos dias de hoje) e por ensinar aos mais novos a correcta utilização - sã e humana -da nossa sexualidade segundo os ensinamentos do Senhor.

2008/11/04

Mais um passo

Hoje finalmente inscrevi-me para a preparação do crisma. Apróxima-se mais uma étapa no aprofundamento da fé. Olho agora para trás, para este último ano e meio, e não me deixo de espantar com o caminho que tenho percorrido até aqui. Os passos têm sido lentos, às vezes até com muita resistência, mas aos poucos tenho vindo a apróximar daquele que me dá sentido. Quanta gente Ele me colocou no caminho, quanta consolação não me deu. Mas também quantas vezes não tenho tropeçado, que Lhe tenho dito "agora não". Tantas são as vezes que nem o mínimo Lhe retribuo. Mas é assim o caminho até à Cruz, com quedas e tropeços, mas sem nunca negar o destino final; também Jesus caíu a caminho da sua entrega.


Das leituras de hoje, as passagens que me ficaram mais na memória foram Fl 2,8 e Lc 14,18. A passagem da carta aos Filipenses fala de Cristo se "rebaixar a si mesmo". Ou seja, humildade. E só a humildade de Cristo é verdadeira: não se rebaixou por orgulho, para se mostrar superior aos outros, nem por ódio a si mesmo. Humilhou-se por amor. E sou obrigado a perguntar-me : quantas vezes tenho eu sido realmente humilde? Quantas vezes não acho que estou a ser humilde, quando de facto os motívos subjacentes são todos menos o que deveria ser. Humildade: é algo sobre o qual tenho vindo a rezar bastante nestes últimos meses. Ensina-me Senhor a ser humilde, ensina-me a ter uma coração que sente e que sangra, um coração vivo e não de pedra. Já a passagem do evangelho de São Lucas me fez recordar que ando a esquivar-me também. Há um bom tempo que não procuro o sacramento da reconciliação. Sei que não posso participar plenamente na seia do Senhor no estado em que estou, mas mesmo assim vou adiando. E porquê? Inércia, talvéz; o Inimigo quando nos tenta fá-lo subtilmente...

Ando a ponderar seriamente levar àvante a Consagração Total a Jesus por Maria, do Sto. Louis de Monforte. Pelo que me contam, não é algo com o qual se deve avançar de ânimo leve. Há que rezar...


2008/11/01

Dia de Todos os Santos





2008/10/31

"Mestre, onde moras?"

Vida apostólica ou monástica: a qual destas duas me chama o Senhor? Inicialmente era uma pergunta que nem punha a mim mesmo, mas com o avançar da caminhada é uma pergunta que tenho vindo a sentir a necessidade de fazer. E com isso em mente há algumas semanas atrás escrevi a um mosteiro a pedir algumas informações. A comunidade com a qual entrei em contacto é a do Mosteiro da Sagrada Resurreição. Porquê esta? Um dos principais motivos é que é uma comunidade Católica Bizantina. Como quero ir construindo uma visão mais completa da Igreja, composta tanto pela parte Ocidental como Oriental, e as maiores falhas de conhecimento dizem respeito à parte Oriental, lá os contactei na esperança de vir a perceber um pouco melhor a espiritualidade dos nossos irmãos Orientais. É interessante notar que a vida monástica no Oriente nunca deu origem a várias ordens e congregações como no Ocidente, que se diferenciam umas das outras pelas várias "Regras"; no Oriente cada comunidade monástica é única, com a sua própria "typicon" (que acabam por ser regras, mas não no sentido de como as entendemos no Ocidente).

Hoje chegaram pelo correio alguns panfletos da dita comunidade monástica. E embora só tenha passado os olhos superfialmente pelos documentos, houve uma passagem que me saltou à vista: "«Mestre, onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele..." (Jo 1,38-39) Não é a primeira vez que a leio, especialmente no contexto do discernimento. Recordo-me de quando contactei com os Díscipulos pela primeira vez que o P. Juan Antonio Granados pouco adiantou no seu e-mail, explicando que era preciso "vir e ver". Mas hoje quando li esa passagem, fez-se luz. Entendi-a de uma forma como nunca antes a tinha entendido.

Jesus convidou os primeiros díscipulos a irem ver onde é que morava, onde é que habitava. Eles foram com Ele, viram onde habitava e ficaram. E onde "habita" Jesus senão no Pai? Os discípulos seguiram-No e testemunharam que Jesus realmente habita no Pai, que é uno com Ele. E como não ficar com Ele? Como não seguir o Seu exemplo? É esse o convite que Cristo também nos faz, a todos nós: de "ver onde Ele mora" para podermos ficar com Ele.

2008/10/29

Lectio Divina


Penso que nunca é demais encontrar novas maneiras de rezar, e tenho vindo a descobrir que as melhores maneiras são sempre as que fazem parte da nossa tradição, métodos que têm resistido à passagem do tempo porque são mais do que modas, porque realmente nos abrem para a graça do Senhor.

Um método que me despertou a atenção há algum tempo (embora ainda não tenha tirado o tempo para o pôr em prática) é a lectio divina. E em que consiste a "leitura divina"? Dado a minha inexperiência, só posso deixar aqui o básico do método. No final coloco uns links para poderem aprofundar mais.
A lectio divina compreende quatro etapas: Ler, Meditar, Rezar, Contemplar (não necessariamente nesta ordem). Antes de mais, devemos dedicar um tempo (alguns aconselham uma hora) específico durante o dia, num lugar onde existam o mínimo de distrações possível. Quanto ao material de leitura, tanto poderá ser a Sagrada Escritura (onde está, de certa forma, presente o Senhor) ou outro material espiritual edificante. Antes de iniciar a leitura devemos dizer uma prece, por exemplo ao Espiritio Santo para que nos ajude a estar receptívos ao que Deus nos tem para dizer.

  • Ler: convem escolher previamente o que se vai ler. O objectivo não é ler muito, mas ler devagar, saborear. Cada frase deve ser lida com atenção. Não estámos a ler de forma crítica; estámos a ler para que Deus nos fale através da leitura, portanto devemos ler com um espírito humilde e aberto ao Senhor ;
  • Meditar: quando encontramos uma frase que nos interpela, devemos repetí-la. Devemos repetí-la várias vezes, lentamente. A ideia não é tentar analizá-la (fazendo com que seja um exercício puramente intelectual), mas apenas ouví-la e tentar percebê-la na presença de Deus, tentar compreender o seu sentido espiritual;
  • Rezar: devemos dialogar com o Senhor sobre o que acabamos de ler;
  • Contemplar: não é algo que provém de nós; é uma realização repentina, e de curta duração, da presença e do amor de Deus, onde nos esquecemos do resto.
Mais aqui, aqui, e aqui. (páginas em inglês)

2008/10/26

"É bom estarmos aqui"

Ontém lá parti à aventura. Acordei bem cedo para apanhar o autocarro que me levaria até NYC, dado que a viagem demora cerca de uma hora. Acabei por apanhá-lo meia hora mais cedo do que esperava, o que foi uma bênção, pois chegado à cidade acabei por me perder! Um percurso que deveria demorar 15 minutos a pé transformou-se numa caminhada de uma hora: tinha o mapa de pernas para o ar...Mas lá cheguei, mesmo a tempo da missa das 11. E embora tenho ido lá propositadamente para falar com o padre dessa paróquia por causa de direcção espiritual, não foi o encontro que sobressaiu da visita. Não que algo tenha "corrido mal", longe disso - até foi muito semelhante à primeira reunião que tive quando comecei o meu discernimento ainda em Portugal - mas a missa acabou por eclipsar o resto do dia. Dos conselhos dados na reunião ficou o de "continuar a fazer o que tenho andado a fazer, a viver o dia-a-dia, que Deus vai revelando a sua vontade no quotidiano".A primeira visão que se tem ao chegar à porta principal da igreja é do sacrário. Gostei desse pormenor: sem nada a obstruir a linha de vista, mal entrámos deparámo-nos logo com o Senhor. Ajuda a relembrar que esta é a casa d'Ele por exclência e porque é que estámos ali. As paredes laterais têm as estações da cruz com dizeres junto a algumas das imagens. Existem dois confissionários, situados em pontos opostos da igreja; junto a cada confissionário há uma imagem de um santo (não tive oportunidade de ver quais são), e aos pés da imagem da parede lateral direita há um local onde se pode alumiar velas. Existem dois corredores de bancos, posicionados de cada lado da porta princípal. A parede que dá acesso ao altar está repleta de pinturas, sendo que as colunas estão cobertas de ícones; a parede atrás do altar tem um ícone em toda a altura de Cristo Pantocrator, ao lado do qual duas enormes colunas de mármore rosa ajudam a segurar o tecto. O altar está sob um dossel. Existe ainda um pequeno púlpito do lado esquerdo, um pouco antes do altar, mas atrás do pequeno corrimão que divide a zona do altar da zona dos fieis. Há também um orgão por cima da entrada da igreja, e vitrais no cimo das paredes laterais. O tecto está bastante elevado, talvez uns 7 ou 8 metros.

Agora, à missa propriamente dita. A missa foi toda cantada. E quando digo toda, quer mesmo dizer toda (fora a homilia). O coro ia cantando as preces em latim, volta e meia o orgão acompanhava (fazendo a estrutura estremecer), e as leituras foram cantadas em canto gregoriano. Senti-me muito pequeno, muito consciente da minha humilde existência (no bom sentido). Só me tinha sentido assim uma vez numa missa há muito tempo atrás, e pensei nunca mais vir a experimentar essa sensação.

A homilia também foi bastante boa. O padre falou sobre amor. Nós que somos cristãos, que dizemos que Deus é amor, que devemo-nos amar uns aos outros assim como nos amamos a nós mesmo, e amar a Deus acima de tudo, sabemos de que amor estamos a falar? Dado que a nossa palavra "amor" engloba tantos tipos diferentes de amor, às vezes é como Sto. Agostinho diz a respeito do tempo: "Não me perguntem o que é e saberei o que é; perguntem-me, e não saberei dizer". Deu para tirar bastante fruto ao longo da tarde.
Pode-se dizer que o amor cirstão é algo que tem a sua origem em Deus (já que Ele é amor), que tem de ser aceite (envolve o nosso livre arbítrio), logo também involve o nosso intelecto pois precisamos perceber o que estamos a aceitar (o que exclui que seja apenas um amor sentimental, uma emoção), e é uma constante (não podemos amar aos Domingos e não amar nos dias seguintes). Porquê então amar a Deus acima de tudo? Porque Ele a fonte do Bom, do Belo, da Verdade. Porque ao irmos percebendo cada vez mais o seu amor, percebmos o quanto Lhe devemos. E o que dizer do "amar os outros como amamos a nós mesmos"? Devemo-nos amar a nós mesmo porque reconhecemos que somos feitos à semelhança de Deus na nossa capacidade para amar. Penso que se pode dizer que é uma forma indirecta de amar a Deus. Mas este amor próprio não nos deve fechar sobre nós mesmos; deve-nos abrir para os outros. E amando os outros como a nós mesmos, reconhecemos neles a mão do Criador. Só as relações que tenham em conta este amor, esta presença dívina por assim dizer, são estáveis, só elas é que perduram. Porque Deus é o bem mais alto, Ele deve ser a fundação de tudo. É por ser o mais alto que Ele se fez homem e veio ao mundo, para servir e nos mostrar o caminho até Ele. Sendo Deus trintitário não é de estranhar que para nós aprendermos o que é amor necessitemos de três pessoas: Deus, Eu, e o Outro.Acho que muitos de nós confundimos este amor com o do tipo sentimental, que vai e vem. Eu sei que confundia. E talvéz este seja um dos problemas com os casamentos hoje em dia, agora que casamos "por amor". Quantas vezes não confundimos a paixão com o amor. Tempos depois a paixão extingue-se, dizemos que já não há aquela chama inicial, e concluímos logo que o amor não existe. Ás vezes tenta-se recuperar esse fogo inicial e quando falha cada um segue o seu caminho. Mas é precisamente quando a paixão se começa a esgotar que a semente do amor começa a florescer. Já não estamos cegos pela paixão e começamos a ver a pessoa por quem ela realmente é. Descobrimos os seus vícios e virtudes. E é aqui que entra o amor. Temos de aprender a amar. Havendo amor, aceita-se a pessoa tal e qual como ela é, assim como ela nos aceita a nós. Juntos reconhecemos que ambos somos criaturas incompletas, e ajudamo-nos um ao outro a crescer, a descobrir o verdadeiro sentido de amar. E assim vamos caminhando em direcção a Deus.

É caso para perguntarmo-nos: "alguma vez realemente amei alguem?" É um exercício curioso, olharmos para o passado e tentarmos descobrir se realmente alguma vez chegamos a amar alguém. Porque nunca amamos realmente, dispensamos com muita facilidade as palavras "Amo-te". Se realmente tivermos amado então saberemos o poder dessas palavras, e o quão assustadoras são, pois saberemos as suas implicações. Então talvéz não as diremos tantas vezes, mas quando as dissermos, será com convicção.

E assim foi o dia: um dia cheio. E não pude deixar de sair da igreja sem repetir a mim mesmo a frase que estava inscrita na parede sobre o altar: "É BOM ESTARMOS AQUI" (Mt 17,4).

Nunca estamos sós

Embora o estilo de música não condiga com as monjas ortodoxas, não deixa de ser uma canção bastante bonita.

2008/10/24

Algumas ideias sobre o Terço

Recordo-me vagamente de quando era pequeno a minha avó tentar-me insinar a rezar o terço. Não me lembro se ela teve êxito ou não. O que me recordo é que acabei por achar que rezar o terço era aborrecido e inútil. Era de esperar com um criança de 3 anos.

O que me ficou foi a ideia de o terço ser algo mecanizado, repetitivo. Foi assim que me explicaram. Mas só me explicaram a parte exterior de rezar o terço; nunca a parte interior (quanto à parte interior, tinha que se"rezar com fé a Nossa Senhora"). Talvez terá sido porque eu fosse pequeno nessa altura e não perceberia, ou porque talvez também só o soubessem rezar assim. Mesmo anos mais tarde, depois de voltar para a Igreja, continuava com esta visão distoricida do que é rezar o terço. Tinha-me esquecido de como se rezava e evitava até de (re-)aprender.

Mas um dia tive curiosidade de ver donde vem o terço. Afinal, faz parte da nossa tradição enquanto Católicos; como poderia eu depois explicar a alguém porque é que o rezava? Foi nestas andanças, de querer saber mais sobre Santo Domingos (segundo diz a tradição, a Virgem entregou-lhe o terço numa aparição) e o papel da Virgem na salvação, que tive ocasião de falar com um bom amigo meu que me ensinou realmente a rezar o terço - i.e., tanto exteriormente com interiormente. Com o tempo tenho vindo a apreciá-lo melhor, a encontrar paz, iluminação, assim como uma maior devoção à nossa mãe espiritual.De facto, rezar o terço deve empregar tanto a parte corporal como a espiritual do nosso ser. Há várias maneiras de o rezar. Às vezes pode-se só rezar "por rezar" (ou vocalizar as orações ou dizê-las no nosso intímo), sem se estar a meditar. Não me refiro aqui a um acto puramente corporal e mecânico, mas sim em rezar com intenção. Quando estamos com alguém que amamos não nos cansamos de lhe dizer: é esta a intenção de que falo.

Outra alternativa é meditar/contemplar os mistérios enquanto se vai orando vocalmente. Este método demora o seu tempo a dominar, mas penso que ajuda a compreender um bocado melhor como poderemos rezar sem sessar. Quando uma pessoa medita/contempla os mistérios enquanto está simultaneamente a rezar as Avé Marias, está de facto a rezar duas vezes ao mesmo tempo. A boca vai "recitando" (o que por sua vez também nos ajuda a concentrarmos, para além de estarmos a rezarmos à nossa mãe) e o nosso interior vai meditando/contemplando. Quiçá, com tempo e oração, não se possa vir a rezar constantemente no nosso interior enquanto fazemos as coisas do dia-a-dia.

Os nossos irmãos Orientais e Ortodoxos falam muito disto de que acabo de referir. Também eles têm um "terço", que chamam cordão de oração; mas em vez de rezarem Avé Marias rezam a Oração de Jesus.
Exemplo de um cordão de oração (chotski, russo; komboskini, grego)

Com tempo meto uns links com mais informações sobre rezar o terço, porque nem todos rezamos da mesma maneira, e de facto vale a pena aprender a amar esta potentíssima arma espiritual.

2008/10/23

Andanças pela natureza

Hoje recebi a notícia de que dentro de alguns dias irei-me encontrar com o meu novo director espiritual. Cheio de nervosísmo e de perguntas, decidi ir dar uma caminhada pelo parque próximo donde moro. Às vezes gosto de rezar enquanto ando - a cadência dos passos ajuda-me a concentrar melhor na oração.










E enquanto andava ia pedindo clareza a Deus e perguntando como será a reunião, como é que irei reagir, será que obterei mais algumas respostas para esta caminhada... Enfim, uma interminável lista de perguntas. E à medida que ia caminhando estás perguntas iam-me deixando cada vez mais irrequieto.

Foi então que finalmente me apercebi de um barulho que me chamou de volta ao mundo que me rodeava. Era o som "estaladiço" das folhas secas debaixo dos meus pés. Parei e olhei em redor. Cheirei o inconfundível odor de folhas secas. Ouvi os bandos ruídosos de gansos que voavam em Vs enormes, a caminho de zonas mais quentes. Vi árvores pintadas de vermelho, outras de dourado, outras de laranja. Vi o sol a pôr-se, e uma manada de veados que pastava ao longe parada a olhar para mim. Senti o vento frio que me atravessava de um lado ao outro e o nariz que começava a correr.

Fui chamado ao momento, ao aquí e agora. De repente esqueci todas aquelas perguntas. Fez-se silêncio em mim, e com isso veio a tranquilidade. Era como se o Senhor dissesse "Não te preocupes. Vai e confia." É algo que tenho de aprender a fazer - confiar mais em Deus (e quem diz Deus também diz nos outros). Tenho o mau hábito de tentar fazer tudo sozinho, de prever todas as possibilidades de um acontecimento e isso muitas vezes acaba por me impedir de agir (Já dizia o personagem das Notas do Subterrâneo do Dostoievski que "pensar demais é uma doença!"). Só pode agir com confiança, e a única confiança que se tem é Deus. É Ele a nossa base, o nosso fundamento. Nunca nos faltará, disso podemos ter certeza. E é com esta confiança que se consegue realmente viver. E quando digo realmente viver quero dizer viver o momento presente, dar o nosso todo por Deus e pelos outros agora, sem nos preocuparmos com o que está para trás nem com o que está para vir. Não quero com isto dizer que se deve esquecer o passado ou negligênciar o futuro; apenas que não nos deixemos consumir por eles ao ponto que apaguem o presente. O que passou passou; não se pode alterar. Se procedêmos mal no passado e se pecamos, peçamos perdão a Deus e força e clareza para agir melhor no futuro.


Viver aquí e agora, para nos entregarmos totalmente a Deus e aos nossos irmãos, só assim poderemo-nos salvar. É um desafio enorme. Talvez até o desafio. Mas é possível desde que oremos e confiemos em Deus.


Espero que gostem das fotos. Tirei-as depois de "voltar ao momento".

2008/10/22

22-10-08

Houve uma frase da leitura de hoje que ficou comigo: "Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais." (Lc 12,40)

Realmente é caso para perguntar: estaria eu pronto caso o Senhor me aparecesse hoje? E amanhã? Não me apanharia desprevenido? Em que estado está a minha alma? Desde o abalo de há alguns meses atras a minha vida espiritual não tem andado na sua forma antiga. Tenho demorado a retomar os meus velhoes hábitos de oração, de ir à missa, etc. Quando foi a última vez que recebi o sacramento da reconciliação? Onde foi aquela paz que sentia quando tinha uma vida espiritual bem mais activa do que actualmente tenho?

Esta inércia toda em recomeçar novamente no caminho do Senhor, de preparação para a sua chegada, deve-se fundamentalmente a uma coisa: pouca oração. O apóstolo exorta-nos a "orar sem cessar" (1 Ts 5,17). Porquê rezar constantemente? Porque a oração é a fonte da nossa vida espiritual. Rezar implica pormo-nos diante de Deus, de falarmos com Ele, e estarmos receptivos ao que Ele nos tem para dizer e à sua graça. Rezando, ficamos mais dispostos a seguir os seus caminhos. Há que perseverar na oração.

2008/10/21

Leituras Inacianas

Faz alguns meses que ando a ler Ignácio de Loyola, Solo y a Pie, de Jose Ignacio Tellechea. Na altura foi-me sugerido a sua leitura pelo padre que me acompanhava, assim como também pelo P. Juan Antonio Granados, D.C.J.M. aquando da minha visita à comunidade dos Díscipulos dos Corações de Jesus e Maria.

Jose Tellechea tenta-nos dar uma visão mais fiel possível do fundador da Companhia de Jesus, Sto. Inácio de Loiola. O castelhano às vezes não é fácil de seguir, mas consegue-se sempre tirar o sentido geral dessas passagens mais difíceis (creio que existe uma tradução portuguesa, mas até agora nunca encontrei).
Tellechea apresenta-nos a envolvente de Inácio ao longo da sua vida e mantem-nos em diálogo constante com ele. Vai fornecendo documentos históricos que comprovam ou esclarecem determinados momentos na vida do santo, para além de ter sempre em conta os Exercícios Espirituais.

Um bom livro. Sugiro-o a todos os Inaciofilos e/ou Jesuitofilos.

2008/10/20

"Vem e segue-me"

Quando é que tudo começou? Quando é que senti que o Senhor me chamava, que me pedia para O seguir e me dedicar inteiramente a Ele?

Andei muitos anos desligado de Deus e da sua Igreja. Fí-lo porque pensava que sabia tudo na altura, e na realidade não sabia nada. Não sabia nessa altura o que significava ser Católico, e quais as implicações de o ser. Então procurei respostas noutras religiões, na ciência, na filosofia: sempre que pensava ter finalmente encontrado as respostas que procurava, algo falhava. A inquietação interior continuava apesar de tudo. Chegou ao ponto de eu deixar de acreditar em qualquer coisa que fosse superior e exterior ao Homem.

Mas nem sempre o Sol nos sorri, nem o tempo é ameno. Muitas vezes surgem tormentas, especialmente quando menos esperamos. E como não pôde deixar de ser, a casa que estava fundada sobre a areia desmoronou-se "e grande foi a sua ruína" (Mat. 7,27). Mas apesar de eu ter virado as minhas costas a Deus, o Senhor jamais se esqueceu de mim. Nesse instante dei por mim a ajoelhar-me no meu quarto e, enquanto as lágrimas me escoriam pela cara abaixo, a dizer: "Senhor, ajuda-me! Sinto o peso dos pecados a sufocar-me e sei que sem Ti nada posso, que sem Ti nada faz sentido. Tem piedade de mim, que sou um pecador." O que me levou a proferir essas palavras? Não sei, como também não sei explicar o que aconteceu depois. Apenas sei que uma paz enorme se apoderou de mim. Agradeci ao Senhor por me ter escutado, deitei-me e dormi como há muito não dormia.
Quiçá, talvez todos esses caminhos travessos por onde andei errando, todo esse sofrimento pelo qual passei, Deus o tenha permitido para que eu O voltasse a encontrar (ou melhor, que finalmente encontrasse o caminho para Ele). Muitas vezes perguntamos a Deus como é que é possível Ele nos deixar sofrer se nos ama. A verdade é que os seus caminhos não são os nossos caminhos (Is. 55,8). Mas nestes casos gosto da seguinte metáfora: um pai tem de levar o filho ao dentista. Enquanto o filho é tratado pelo dentista, chora de dor e/ou de medo, olhando para o pai como quem pergunta "Porquê? Porque estando aí me deixas sofrer assim se dizes que me amas?" Mas o pai não deixa o filho sofrer porque tira prazer de o ver assim ou porque quer castigá-lo. O pai comove-se, compadace-se. Mas deixa-o sofrer porque sabe que no final o seu filho será tratado e sairá são.
Lembro-me que nos dias seguintes fui continuando a sentir aquela paz interior e num momento de alegria, sem saber bem o que estava a dizer, disse "Sim" ao Senhor. Naquele momento agradeci a Deus por me voltar a acolher e reconhecendo que a minha vida é um dom d'Ele, entreguei-Lha novamente, para que Ele se servisse dela conforme entendesse.

E o tempo foi passando e a oferta foi esquecida.


Saltemos no tempo, para um passado não muito longínquo, para o retiro que fiz no final do ano passado na Gafanha da Nazaré. Três dias de silêncio. Não sabia muito bem porque lá tinha ido. Sei que sentia necessidade de tirar tempo e realmente agradecer a Deus pela vida nova (coisa que a lufa-lufa do dia-a-dia não me permitia) que encontrei em Cristo. Senti-O muito próximo de mim nesses dias (lembro de descrever a uma amiga a sensação: era como se sentisse que alguém me sorria).

Poucas semanas depois surgiu uma pergunta dentro de mim. Ouvi uma voz muito suave dizendo "E porque não? Porque não uma vida dedicada a Deus, totalmente consagrada a Ele, e levando a alegria que Ele te dá aos outros?" Loucura! Eu, seguir uma vida religiosa?! Nem pensar! Era a última coisa que eu queria. Afinal, eu queria era casar e ter filhos, ter uma casa virada para o Mediterrâneo onde depois pudesse passar a minha velhice cultivando a terra e recebendo a família. Nunca tal coisa - "ser padre" - me tinha passado pela cabeça. E afinal, não tinham eles uma vida infeliz e só (ah, ignorância!)? Não, isso não era para mim. Além do mais, dizia a mim mesmo que isto devia ser resquícios ainda do retiro, que com tempo passava.
Mas não passou. A voz continuava, e quanto mais eu dizia "Não", mais ela perguntava "Porquê?" Chegou a um ponto que finalmente disse a mim mesmo: já que sempre que digo não isto insiste ainda mais, não vou dizer que não. Mas também não digo que sim. Deixo estar e logo se vê o que acontece.

O tempo foi passando, e eu continuando a tentar aprofundar a minha fé, tentando aprender como me converter cada vez mais para o Senhor. E com isto a vida religiosa já não me parecia tão medonha. Aos poucos comecei a ver que era uma vida tão completa (ou até mais) do que a com que eu sonhava. Mas pensei "quem sou eu para levar tal vida? Não sou digno de servir o Senhor; Ele não me chamaria. Portanto, não pode ser Ele que me chama, daí não poder responder 'sim'"

Foi aí que me lembrei de uma oferta há muito tempo atrás, um "sim" dado às cegas, sem saber muito bem a quê. "Ponho-me ao Teu dispor". Sim, foi isso que disse, mesmo que jamais me tivesse passado pela cabeça nessa altura alguma coisa semelhante a esta. Foi aí que renovei o meu sim, desta vez consciente do que estava a oferecer.

Mais há a contar, mas fica para outra altura. A noite vai longa e o sono vai-se fazendo sentir.



2008/10/18

Primeiro post

+JMJ+

Caros irmãos e irmãs em Cristo,

Bem-vindos ao meu blog. Este blog será uma espécie de diário da minha caminhada em direcção ao Senhor. Deus chama-nos a todos à santidade, seguindo o exemplo do seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, mas aos poucos tenho-me vindo a aperceber que Ele me chama para determinado tipo de vida. Cabe agora eu conseguir escutar o que Ele me vai dizendo aos "ouvidos do coração", e seguir esse caminho. E é essa caminhada que quero partilhar com vocês, com quem sinta o mesmo. Pois "os nossos corações estão inquietos enquanto não repousarem em Vós" (Confissões, Sto. Agostinho de Hipona).

Pax Christi,

Ora et Labora