2009/12/28

Santos Inocentes

Hoje é o dia dos Santos Inocentes. Estes pequenos mártires foram mandados matar por Herodes quando os Magos não lhe disseram onde estava o Messias. "Como pode alguém ter tanto sangue frio, como pode alguém mandar matar crianças sem dó nem piedade?" São estas as perguntas que talvez nos venham logo à cabeça? Mas não pensemos que só nesses tempos havia esse tipo de crueldade. Nos dias de hoje continua a chacina de inocentes, embora não de forma não visível. Hoje em dia (no Ocidente pelo menos) o Homem enveredou pelo caminho da Morte, pelo Suícidio. Assistimos a um verdadeiro massacre, em que se contam aos milhares os que são assassinados ainda dentro do ventre da mãe. E justificámos isso sob que pretexto? Liberdade? É isto liberdade - tirar a vida a quem não tem capacidade de se defender? O nosso sentido de liberdade ficou tão pervertido que hoje em dia liberdade signifique sermos escravos do pecado? Nos primórdios do Cristianismo um dos sinais de um Cristão era este: eles não praticavam o infanticídio nem o aborto; os pagãos sim (chegando a abandonar as crianças indesejadas nas lixeiras no exterior da cidade para perecerem). E hoje? Vale a pena meditar sobre isto...

Ó Virgem Pura

Esta é uma das minhas canções favoritas sobre Maria. Acho que ainda vem a tempo para celebrar a Imaculada Conceição. Mais vale tarde do que nunca! :-P

2009/12/27

Não dá para imbutir o video, mas fica o link para uma canção boa para aqueles dias em melancolia nos sabe tão bem.

Feliz Natal!

Divina Liturgia - Parte 1

Fica aqui o link para a primeira parte da "série" sobre a Divina Liturgia. Decidi optar por uma apresentação tipo "power point". Apesar das desvantagens duma apresentação deste tipo, acho que deixei bibliografia suficiente para quem depois queira saber mais. Quanto ao formato, utilizei um programa do Open Office (que é um programa tipo MS Office gratuito disponível na net) para fazer a apresentação, portanto se abrirem com o MS Power Point haverão algumas desformatações. Deixem comentários para saber como ficou!

2009/12/01

O Advento chegou. Não vou passar grande tempo na net durante este período, portanto parece que a entrada sobre a Divina Liturgia terá que ficar para depois do Natal (se por acaso conseguir fazer alguma coisa, meto aqui antes do final do Advento). Entretanto, desejo-vos um santo Advento, e que preparem bem o Natal para o viverem plenamente.


«Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.» (Mat 3,3-4)

2009/11/27

Dança da Morte

Estámos quase a acabar o mês das almas do Purgatório e achei mal não por qualquer coisa sobre a Dança da Morte (Danse Macabre), para reflectirmos um pouco sobre o fim. Encontrarão bastantes coisas na net sobre esta "tradição" (se é que se pode chamar isso) medieval; aconselho a lerem um pouco sobre isso. Fica aqui o poema que se encontra na Capela dos Ossos em Évora:

Aonde vais, caminhante, accelerado?
Pára...não prosigas mais avante;
Negocio, não tens mais importante,
Do que este, á tua vista apresentado.

Recorda quantos desta vida tem passado,
Reflecte em que terás fim similhante,
Que para meditar causa he bastante
Terem todos mais nisto parado.

Pondera, que influido d'essa sorte,
Entre negociações do mundo tantas,
Tão pouco consideras na morte;

Porem, se os olhos aqui levantas,
Pára...porque em negocio deste porte,
Quanto mais tu parares, mais adiantas
.

por Padre António da Ascenção

Natal?

Caminhando pelas ruas reparei que a iluminação nada tem directamente a ver com o Natal. Meti-me a pensar e já há alguns anos que não me recordo de ver iluminação com referências explicitas (imagens dos Reis Magos, do Presépio, etc.). Também parecem ter desaparecido os presépios que antes costumava ver nos centros. Entretanto os enfeites e as decorações começam a aparecer logo no início de Novembro, ainda o Advento está longe (mesmo que fossemos pelos calendários Orientais, onde o Advento tem 6 semanas, isso nunca poderá dar início de Novembro). Aos poucos não consigo reconhecer o que de facto se está a preparar para comemorar...

2009/11/26

Finalmente acabei de ler a "História de uma Alma", da S.ta Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. O "pequeno caminho" que a santa descreve é realmente admirável. Tendo noção da sua pequenêz, fez das coisas mais pequenas oportunidades de mortificação. Por debaixo daquela aparência de quem não tinha uma única preocupação no mundo, quanto não sofreu ela e tudo por amor ao seu Eterno Esposo. Vale a pena ler; talvez venham a colher algum do fruto abundante que nele se encontra... A seguir vou ver se finalmente leio "A Imitação de Cristo" de Tomás à Kempis. Em tempos tinha-o iniciado, mas já não me lembro porquê o deixei-o a meio.
Este Domingo que passou fui a Fátima assistir à Divina Liturgia na capela bizantina do Domus Pacis. Vou dedicar a próxima entrada à Divina Liturgia, que penso ser pouco conhecida entre a maioria dos Católicos Romanos/Latinos, especialmente em países onde não haja uma grande presença de Católicos Orientais e/ou Ortodoxos. Hoje, porém, quero partilhar as minhas ideias sobre um comentário que um conhecido meu fez quando lhe contei que tinha ido à Divina Liturgia.
"Porque vais a uma missa onde não entendes nada?". Podem não ter sido estas as palavras exactas, mas foi neste espírito que ele pos a pergunta. Embora na altura não tenha entrado em grandes explicações (até porque ele não tem grande paciência para considerações dessa natureza), penso que esta pergunta leva-nos a fazer várias perguntas.
  • Por "não entender nada" suponho que ele quis dizer "não entender o que é dito verbalmente". E, de facto, eu não entendi quase nada do que foi dito (fora uma frase ou outra) devido à Divina Liturgia ter sido toda em Ucraniano. Mas será que uma pessoa só entende a Liturgia pelo que é dito verbalmente? No dia-a-dia só entendemos os outros pelo que eles nos dizem verbalmente? Não, nós não comunicamos só assim; comunicamos também por gestos, por sinais. A Liturgia - especialmente a Divina Liturgia e a Missa Gregoriana - são muito ricas em símbolos. Cada gesto está carregado de grande significado; nada é deixado ao acaso. Uma pessoa que viva a sua fé e que tenha uma boa catequese percebe [neste caso uso deliberadamente o verbo perceber, e não entender, por questões etimológicas] o que se está a passar. Nós não somos apenas seres espirituais presos em prisões materiais (isto é platonismo, não cristianismo); somos também seres corporais/materiais. O que fazemos com o nosso corpo afecta a nossa alma. A Liturgia interage com os nossos sentidos: escutámos a Palavra; tocámos/provámos o Corpo de Cristo; cheirámos o incenso; vêmos os gestos que o presbítero e a congregação - a nossa corporalidade (se é que essa palavra existe) é que nos permite interagir com o divino. Dizer que ir a uma Liturgia não vale a pena se não percebermos o que é dito é ter uma visão muito limitada da "experiência eucaristica".
  • A questão do saber o que se está a passar leva também a perguntar: porque vamos à missa? Ouço muitas vezes comentários do tipo "não senti nada nesta missa" ou "não consegui trazer nada desta missa" ou outros quantos do mesmo género. E pergunto-me se por acaso a mentalidade do consumismo não nos afectou a tal ponto de até considerarmos a Liturgia como um produto. Fica-se com a sensação de que as pessoas querem uma Liturgia à sua medida e que se não se sair de lá com alguma coisa que então não valeu a pena (curiosamente, na Quarta-feira de Cinzas e Domingo de Ramos - dias em que se recebem sacramentais para trazer para casa - encontro sempre mais gente na Missa do que o costume; coincidência?). Verdade é que na Liturgia recebemos a Palavra e Corpo de Cristo, e que estas servem para nos alimentar, mas não é necessariamente por nós que vamos, mas sim pelo Senhor nosso Deus. A Liturgia é um acto cujo foco é exterior a nós, não interior. Se não estámos ali como um só corpo essencialmente para louvarmos a Deus, o que estámos lá a fazer? A quem estámos a prestar culto? A Deus ou a nós mesmos? Ir à missa é mais do que ir por sentimentos piedosos ou para nos sentirmos bem consoco mesmos (até porque Cristo põe o dedo na ferida e desinstála-nos do nosso bem estar, do nosso contentamento conosco mesmos); é irmos mesmo que não nos aptece ou nos sintámos tépidos porque sabémos que devemos lá estar. E devemos lá estar se professamos amar a Deus sobre todas as coisas.

Por hoje deixo estes pensamentos.

2009/11/20

Maravilhar-se

Dia sim dia não vem ao meu local de trabalho uma bebé com quase dois anos. Tenho-a visto crescer ao longo de quase um ano e tenho-lhe um amor enorme, como se de minha filha tratasse. Sempre que posso brinco com ela. Acho que nunca vi uma criança tão pequena e tão cheia de vida e de felicidade, com quem tantas pessoas se alegram ao ver-la. Custa-me muito acreditar que há pessoas que desgostem de crianças, que até as considerem impedimentos à sua liberdade, ou "um erro" (às vezes indo até ao ponto de lhes negar a vida).

Mas mais do que isso, "invejo" a esta pequena a sua simplicidade. Não que ache que a vida é demasiada complexa (e talvez até seja, nem que seja por nós a tornarmos assim) e que voltar a uma idade mais "simples", onde não existiam as "preocupações da vida", resolveria tudo; isso seria escapismo. O que lhe invejo da sua simplicidade é a capacidade de se maravilhar com qualquer coisa, nomeadamente as coisas mais simples da vida. Penso que essa capacidade de saber maravilhar-se com a vida é o que lhe dá sabor. Parece-me que à medida que nos vamos tornando "adultos" que perdemos esta capacidade, esta simplicidade. Já não nos basta um carro, mas tem que ser um carro XPTO; não nos basta ir ao campo, mas tem que ser as férias ao lugar mais na moda e exótico ; é a televisão XPTO, com 1001 canais em HD; tem que ser um filme com efeitos especiais que quase nos provocam um ataque epiléptico senão não tem piada - a lista é interminável. As coisas mais simples, mais básicas, depois acabam por passar despercebidas: uma boa amizade; um bom livro; uma tarde passada sem fazer nada senão a olhar o céu - em suma, maravilharmo-nos com aquelas coisas que o nosso Pai nos deu, que Ele próprio criou. Disse uma vez um célebre escritor inglês que uma criança não se maravilha tanto com o facto de lhe dizerem que está um dragão atrás de uma porta, mas com facto de que essa porta abre. Talvez estejamos enganados no que diz respeito a ser "adulto"; talvez quem realmente seja adulto é aquele que consegue manter aquela simplicidade de criança, de se maravilhar com a vida.
Que diferença nós Cristãos não faríamos no mundo se reencontrássemos essa capacidade de se maravilhar. Quase que me atrevo a dizer que é nossa obrigação. Não disse o Senhor que "quem não se fizer como criança não entrará no reino dos céus"? (Mat 18,3)

2009/11/19

Ideias soltas

Mais uma vez o ano liturgico aproxima-se do fim e o Advento está à espreita. Cada vez mais, aquando destes grandes períodos de celebração/oração, sinto a falta de "ser Cristão". Começo sinceramente a odiar a atitude que muitos (eu incluído) tomam, a atitude de "Eu e Jesus, e Jesus e eu, e o resto é só um acrescimo; não preciso de mais ninguém". Cada qual vai à Missa, seguindo o seu caminho mal acaba e talvez até esquecendo-se do que foi lá fazer mal sai porta fora, não existe vida paroquial, etc. Afinal que culto presto eu sozinho? Aliás, como posso viver como Cristão sozinho? O culto, a celebração, a oração, tudo isto só faz sentido dentro da Igreja. Se eu não tenho vida dentro da Igreja, em comunhão e em comum com todos, afinal que vida é a minha?

2009/11/18

Porque nunca se sabe se haverá algum portugués com vocação monástica Oriental, fica aqui o link de uma das poucas comunidades monásticas bizantinas na Itália: http://www.abbaziagreca.it/en/index.asp

2009/11/09

Acreditas?

Já várias vezes que me perguntam "Acreditas em alguma coisa?" ou "Acreditas em Deus?", e confesso que nunca percebo onde é que se quer chegar com essa pergunta. Por causa disso respondo sempre a mesma coisa: "O que entendes por acreditar?"
Tanto quanto sei, acreditar tem dois significados. Um deles diz respeito a coisas (sejam elas pessoas ou não) que nunca vimos ou experimentámos. Neste sentido não acredito na cidade de Nova Iorque porque já lá estive; sei que existe.
Outro sentido de acreditar tem a ver com confiança (o que, de certo modo, acaba por estar relacionado com o sentido anterior). Quando acredito em alguém, quer dizer que, grosso modo, tenho confiança nessa pessoa.
Acreditar em Deus? Acredito que Ele existe embora nunca O tenha visto (pelo menos não directamente). Creio que muita gente acredita dessa forma, seja no Deus de Abraão, Isaac e Jacob, seja num conceito vago de "Deus". E acreditar nas suas promessas? É uma pergunta que acho que poucas vezes realmente pomos a nós mesmos...

2009/11/07

Qualquer semelhança é pura coincidência...



A primeira foto é de freiras Carmelitas; a segunda de freiras Ortodoxas... é impressão minha, ou há uma semelhança assustadora na forma dos hábitos?!

Thérèse

Vi ontem um filme sobre S.ta Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. É um filme francês, de 1986 realizado por um tal Alain Cavalier. O filme é muito minimalista, com cenário muito esparso, mas consegue transmitir bem os rigores da vida no Carmelo, assim como o sofrimento e a dor na vida das personagens (para não falar da parecênça assustadora da atríz principal com a própria Thérèse). Anteriormente tinha visto um filme sobre a mesma santa, um filme americano de 2007, mas que faz a minha querida Teresinha parecer uma tóto. O filme quase que me fez entrar em coma diabético... Este, em contraste, é mais sóbrio, e, portanto, creio que transmite melhor a espiritualidade desta grande "alma pequena".
Ultimamente ando numa onda "Teresina": andei a ouvir alguns mp3s sobre a sua vida e espiritualidade, e agora ando a ler a sua auto-biografia "A História de uma Alma". Há qualquer coisa de cativante nesta santa, e creio que será a sua simplicidade. Apesar de não morrer de amor pelo seu estilo de escrita (a sua auto-biografia parece realmente ter sido escrito por uma criança), a "História de uma Alma" tem muita profundidade desde que se consiga olhar para além do estilo.
De qualquer maneira, recomendo vivamente tanto o filme como a auto-biografia desta minha querida Teresinha.

2009/10/30

Madeiro salvífico




«Porque é bendito o madeiro pelo qual se opera a justiça [...]»


(Sabedoria 14,7)


Lembrete

Para quem queira assistir à Missa Gregoriana/Missa Tridentina a única autorizada em Portugal celebra-se em Fátima, na Capela dos Padres Marianos (na R. de S. Paulo, nº2), aos Domingos às 17h30. Apareçam!

2009/10/29

Identidade Cristã

Há umas ideias soltas que me têm vagueado pela cabeça nos últimos tempos e que quero partilhar com vocês. Apesar de ser um breve trecho (e eu ainda não ter conseguido esclarecer a relação de identidade com a memória), queria deixar aqui para reflexão:

Qual é a nossa identidade enquanto Cristãos? Etimologicamente identidade está relacionado com o conceito de igualdade, no sentido de permanência. Temos aqui um primeiro passo na descoberto do que é a identidade Cristã.
É algo que eu defino; é subjectivo? Se sim, não implicaria isso múltiplas identidades? Não significaria que existem tantas identidades quanto membros do Corpo? Mas o Corpo é um só, e a sua identidade é única. Assim sendo, se nós não definimos a nossa identidade Cristã, donde vem ela? Talvez as Escrituras nos possam iluminar quanto a este assunto.

Cristãos são os membros que formam o Corpo Místico de Cristo. O Corpo é um todo, é uno com a cabeça que é Cristo Jesus. É ele que dá Vida ao Corpo. Talvéz por este motivo os Apostolos exortam os fiéis a serem "de uma só mente, um só coração" (1 Pedro 3,8; Fil 2,2; 2 Cor 13, 11). Esse Vida é transmitida aos membros individuais através do Corpo. É o Corpo que dá Vida aos membros; esta Vida é o próprio Cristo, que nos chega por meio do Espírito Santo agindo e animando o Corpo. Se somos um só Corpo, somos um com a Cabeça - o Cristo - e Cristo Jesus não está dividido, mas é integro. Portanto, a nossa identidade vem d'Ele. A nossa identidade Cristã é o próprio Jesus Cristo. Porque Ele é Deus, e porque Deus é constante e imutável, assim a nossa identidade não pode alterar. Poderá existir uma panóplia de manifestações exteriores desta identidade (como evidenciam as tradições ricas das Igrejas Ocidental e Orietais, assim como dentro dessas mesmas tradições), mas o seu cerne, a sua fonte é a imutável Rocha da Salvação.

2009/10/19

Oportunidade de oração

Temos aqui uma boa oportunidade de rezar por uma pessoa que necessita muito de encontrar o amor de Deus. Aproveitemos para pedir por ele.

2009/10/16

Oração de S.to Efrém da Síria

Desculpem não ser em Português, mas ainda não encontrei tradução.

O Lord and Master of my life,
Grant not unto me a spirit of idleness,
of discouragement,
of lust for power,
and of vain speaking.

But bestow upon me, Thy servant,
the spirit of chastity,
of meekness,
of patience,
and of love.

Yea, O Lord and King,
grant that I may perceive
my own transgressions,
and judge not my brother,
for blessed art Thou
unto ages of ages.
Amen.


2009/10/12

Maternidade de Maria


Ontém foi a festa dedicada à Maternidade de Maria: em Éfaso, no ano 431 A.D., esclareceu-se definitivamente que Maria é a Theotokos, a Mãe de Deus. Para comemorar, que tal rezar um acatisto à Virgem Maria?

2009/10/09

Nossa Senhora da Vitória

Para quem não saiba porque é que o dia 7 de Outubro é dia de Nossa Senhora do Rosário, antigamente conhecido como Nossa Senhora da Vitória.
Fiz o meu retiro anual a semana passada. Talvez vá adiantando algumas ideias que me vieram durante as próximas semanas. Comecei a ler ontem a auto-biografia da Sta. Teresa de Lisieux (mais conhecida entre nós coma Sta. Teresa do Menino Jesus); irie comentando oportunamente.

2009/09/30

Pensamento do dia

«Adquire um espírito pacífico e em teu redor milhares serão salvos.»
Sto. Serafim de Sarov

2009/09/29

Mais de St. Irenaeus Ministries

Alguns elementos do St. Irenaeus Ministries foram entrevistados num programa da cadeia norte-americana, EWTN. Fica aqui a primeira parte (de quatro) dessa entrevista.

"Quem dizes que eu sou?" Faço-Te esta pergunta que em tempos Tu fizestes aos Teus. Quem dizes que sou? Só Tu, meu Senhor e meu Deus, sabes, pois tudo o que Tu dizes É. Pergunto-Te porque sou um estranho a mim mesmo. Faço o que não quero fazer, e não faço o que quero. O Pecado faz de mim um estranho a mim mesmo. Não consigo vislumbrar totalmente quem Tu concebestes antes dos tempos debaixo de toda esta podridão, debaixo desta sujidade que se cola a mim e que apenas a Tua água viva pode limpar. Não me conheço por causa dos meus pecados; mas não será através deles que me posso vir a conhecer? Sem reconhecer os meus pecados, sem saber o que é podridão, como poderei saber o que é Vida?

2009/09/25

Têmporas

Hoje é o 2º dia das Têmporas de Setembro. Só há relativamente pouco tempo é que soube o que são as Têmporas. As Têmporas são uma tradição da Igreja Romana já bastante antiga; crê-se que terão surgido com a conversão dos povos pagãos, embora estejam intimamente ligado aos primórdios da Igreja e a sua herança Judaica. As Têmporas são como uma espécie de mini-Quaresma: são dias de jejum, oração, e esmola. Existem 4 Têmporas durante o ano:

  • Têmporas do Advento (depois da festa de Sta. Lúcia)
  • Têmporas da Quaresma (na semana seguinte à Quarta-feira de Cinzas)
  • Têmporas de Pentecostes (depois de Domingo de Pentecostes)
  • Têmporas de Setembro (depois da festa da Santa Cruz)
Os Judeus tinham por costume jejuar duas vezes por semana (temos exemplo disso na parábola do Fariseu e do Publicano, Lc 18,12) às Terças e Quintas. Os primeiros Cristãos alteraram este costume para as Quartas e Sextas (Quarta sendo o dia em que Cristo foi traído, e Sexta o dia da Sua Paixão). Mais tarde em Roma só se passou a observar a Sexta como dia penitêncial; só se jejuava Quarta-feira durante as Têmporas. Depois adicionou-se o Sábado como "finalização", dado ser o dia em que Cristo foi sepultado. Curiosamente, diz a tradição que a expressão "Quando em Roma..." surgiu devido a este costume. Supostamente Sto. Agostinho perguntou a Sto. Ambrosio se ele observava o jejum de Sábado, ao qual ele respondeu "Quando estou em Roma, sim; quando estou aqui [Milão], não." Com o passar dos anos, as Têmporas tinham-se tornado em épocas propícias de ordenação de religiosos e de primeiras comunhões devido a serem um período penitencial. Como coincidem com o inicio das estações, têm uma rica história associada à Natureza e da sua ligação com o Homem; servem também para nos relembrar de que somos custódios da criação, que devemos admirar e respeitar tudo aquilo que Deus criou para nós.
Estes dias eram de carácter obrigatório até ao CV2; os bispos locais ficaram de implantar a sua observância, mas nunca se chegou a resolver a situação. Imagino que os nossos irmãos Ortodoxos, e mesmo os Católicos Orientais, olhem para nós e se questionem por que abandonámos quase por completo os hábitos de jejum e abstinência (basta olhar para quantos períodos de jejum existem nas Igrejas Orientais). Jejum e abstinência são armas de ascese fundamentais para a vida espiritual. Vale a pena reflectir sobre o significado das Têmporas e da sua significância para os nossos dias.
Quem queira ler mais sobre as Têmporas pode ir aqui e aqui.

2009/09/23

A primeira vez

A semana passada assisti, pela primeira vez, a uma missa que não fosse celebrada pelo rito Romano. Tive a possibilidade de ir a uma igreja Ucraniana-Grega Católica (a segunda maior Igreja Católica a seguir à Romana), onde se utiliza o rito Bizantino. Lá, a Missa tem outro nome - a Divina Liturgia. Infelizmente cheguei atrasado; penso que o padre estava já a dar a homilia (digo "penso" porque ele falava ucraniano, e passou um bom bocado a falar a partir do pulpito). Enquanto que no rito Romano uma pessoa se apercebe das várias partes da Missa, no rito Bizantino tudo flui; a Divina Liturgia é um continuuo. Existem bastante diferenças entre os ritos: para já, toda a missa é cantada, coisa que só acontece no rito Romano na forma extra-ordinária, e isto em Missas Altas. Depois, não existe um hostia como a nossa (i.e., the pão não-levedado); a missa dura bem mais de uma hora; etc. Não vou entrar em muitos detalhes, pois há bastante informações na internet para quem queira saber mais sobre este nosso património. Pouco mais tenho a acrescentar, fora o facto de não ter percebido quase nada do que era dito (a Liturgia era celebrada em ucraniano ou então em eslavônico eclesial; agora não sei qual). Só havia uma curta frase que percebi; uma frase que todos os fieis presentes repetiram inumeráveis vezes ao longo da Liturgia acompanhado pelo sinal da cruz - "Gospodi pomilui" (Senhor, misericórdia). Penso que foi isso que mais me marcou desta primeira experiência, o relembrar constante da nossa condição de pecador e da necessidade da misericórdia de Deus.

Passagens

Só soube esta semana que um amigo meu faleceu o mês passado. A notícia caiu-me que nem uma bomba. De facto estranhei o silêncio da sua parte, mas jamais me teria ocorrido que ele tivesse morrido. Quando o vi pela última vez estava bem; estava feliz por finalmente, depois de tantos anos, entrar para o curso com o qual sempre sonhou. E de repente tudo isso acabou.
Fomos colegas durante muitos anos; éramos apenas conhecidos. Mas neste último ano e meio, depois de muitos anos sem convívio, começamos a ser realmente amigos. E de repente isso também acabou.
A sua passagem faz-me perguntar se cheguei a ser um bom amigo. Estes momentos assim servem quase como um balde de água fria. Relembram-nos que temos de Viver...
Adeus Mil. Requiscat in pace.

2009/09/05

Mini-série

Parece que fizeram uma mini-série sobre um dos meus santos favoritos, Santo Agostinho de Hipona. Foi com as suas Confissões que desejei pela primeira vez amar a Deus como sentia que ele amou, tal é a forma como o amor que ele sentia (e sente) transbordava das páginas. Segue um trailer da série. Só espero que não seja como um que vi há tempos sobre S. Francisco de Assis, em que o drama pervaleceu à realidade.

2009/09/04

A Casa dos Mortos

Acabei de ler mais um livro do meu autor favorito, Fyodor Dostoyevsky. Desta vez foi A Casa dos Mortos. Esta obra é semi-autobiográfica. Dostoyevsky passou 4 anos num campo penal na Siberia, e este livro retrata a vida dentro do campo penal.
Como sempre, Dostoyevsky oferece-nos uma visão da psicologia por detrás das suas personagens. Aleksandr Petrovich (o personagem principal/narrador) é da nobreza russa, e é condenado a 10 anos de trabalhos forçados num campo penal pelo assassínio da sua mulher. Essencialmente, o livro só descreve o primeiro e último ano passados no campo (a justificação dada pelo narrador é de se "ter esquecido" dos restantes). Somos confrontados com as condições do campo penal e da vida dos prisioneiros. Inicialmente a única coisa que ocorre ao Aleksandr é o horror e o desespero de ter de passar "uma eternidade" com gente que desconhece, que lhe é hostil pelo simples facto dele ser da nobreza, e da vida desperdiçada atrás das paredes do campo. Mas com o passar dos anos, vai-se apercebendo que debaixo das máscaras que os outros prisioneiros aparentam, que existe vida, que existem pessoas de verdade. Inicialmente o seu estado de espírito impede-lhe de ver a realidade, mas com o passar dos anos, com a convivência, o espírito dele vai-se convertendo. Tenta ir percebendo o que de facto vai na alma daqueles homens a que o destino o uniu, e aos poucos vê-se obrigado também a olhar para o seu interior. Chegado ao fim, quase se nota uma certa tristeza em deixar para trás certas pessoas, sem saber do seu destino.


É neste mundo de dor e sofrimento que ele aprende o valor da humildade, que aprende o valor de viver, e ao sair dá prisão sente que realmente ressuscitou de entre os mortos.

De facto o livro não deixou nada a desejar. Fyodor nunca deixa de transmitir, embora de forma sublime, a mensagem do Evangelho nas suas obras. Como disse um conhecido meu há tempos: os livros dele quase que servem de leitura espiritual.


2009/08/29

Uma santa morte


Um monge do Monte Athos morreu, e 45 minutos depois do seu falecimento a sua expressão facial alterou-se de forma bastante notória. Está aqui o artigo. Vale a pena ler!

2009/08/26

Ladainha da Humildade


1. Senhor, tende piedade de nós.

2. Cristo, tende piedade nós.

1. Senhor, tende piedade de nós.



2. Jesus manso e humilde de coração: ouvi-nos.

1. Jesus manso e humilde de coração: atendei-nos.

2. Jesus manso e humilde de coração: fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.



1. Do desejo de ser estimado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser amado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser buscado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser louvado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de honrado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser preferido, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser consultado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser aprovado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser adulado, livrai-me, Jesus!



2. Do temor de ser humilhado, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser desprezado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser rejeitado, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser caluniado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser esquecido, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser escarnecido, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser injuriado, livrai-me, Jesus!



2. Que os outros sejam mais amados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que os outros sejam mais estimados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de

desejá-lo!

2. Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

2. Que os outros sejam louvados e eu esquecido – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

2. Que os outros possam ser mais santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!



Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós!

São José, protetor das almas humildes, rogai por nós!

São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós!

Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós!

ORAÇÃO

Ó Deus, que, por meio do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (cf. Tg 4,6) e como início de todas as outras virtudes – caminho certo para o Céu – concedei-nos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, a mais humilde e mais santa de todas as criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que a Vossa Divina Providência nos oferecer. Por N. S. J. C. que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo.



Amém.


(Cardeal RAFAEL MERRY DEL VAL, Secretário de São Pio X)


Agradecimentos ao site www.paroquiansdores.org/?p=95


2009/08/25

Assim vale a pena!

Queria-vos deixar aqui com um link que tem bastante (e acho que bastante é dizer pouco) material de primeira qualidade. O site chama-se Ancient Faith Radio. É uma estação de rádio americana associada à Igreja Ortodoxa que descobri há alguns meses graças a um amigo meu, e que tem sido uma fonte inesgotável sobre coisas da Fé - há de tudo desde Patristica, Filosofia, como viver a Fé, Estudos Biblicos, etc. Aconselho especialmente os podcasts (gratuitos!!!), que vão sendo adicionados todas as semanas. Espero que vos seja útil.

2009/08/22

Medo de amar

"Amo-te". Cada vez mais me vou apercebendo do quão "aterradoras" são essas palavras, sejam elas pronunciadas por um amigo, pela pessoa com quem partilhamos a vida, ou outra pessoa qualquer na nossa vida. Tenho consciência de já as ter dito muitas vezes com demasiada leviandade. Sabia de facto o que é Amor, e o que significa amar? Por acaso o terei conhecido através dos outros sem o saber?

O Amor e as suas implicações são coisas assustadoras para o coração do pecador não-arrependido. Transpormo-nos para além dos nossos interesses (sejam eles desejos ou receios), abandonarmo-nos ao outro, expormo-nos - quem deseja tais coisas? Dizemos aos outros "amo-te", mas não será muitas vezes a maneira como eles nos fazem sentir que nos evocam tais palavras? E quando esses sentimentos esvanecem - porque é próprio da sua natureza esvanecer - dizemos que "já não amámos". O permanecer depois do fogo da paixão se extinguir, ou da amizade resfriar, o estar presente para o que der e vier, independentemente de como me sinta, isso só é possível com Amor. Isso é amar de facto. Se penso só em mim, se não tenho consciência do meu pecado, então não poderei amar de verdade. Não quererei amar porque isso implica sair de mim, quando o que eu busco é a minha própria satisfação. E se alguém me disser que me ama, não ficarei eu desconfiado? Não pensarei que o seu "amar" é semelhante ao meu? Eu não quer ser usado por ninguém, embora muitas vezes use os outros. Mas mais aterrador do que isso, talvez, será o eu me aperceber que essa pessoa realmente me ama. Mais aterrador será deixar-me amar. Que alguém me possa amar "gratuitamente": penso que o coração que ainda é aprisionado pelo pecado - que é o de todos nós - não consegue aceitar tal facto (pelo menos não sem a graça de Deus). Porque razão me hão-de amar? Porque se hão-de querer dar a mim, para mim, e por mim, sem que eu tenha feito algo para o merecer (e muitas vezes até tenha feito para não o merecer)? Quem sou eu, pecador, que mereça ser amado? Penso que é algo que nos transcende, e por isso nos atemoriza às vezes.

E porquê amar? Porque nos darmos aos outros sabendo que isso inevitavelmente nos trará sofrimento? Não amámos porque o outro o mereça por algo que tenha feito; amámos em virtude de aquilo que ele é: uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Amámos porque reconhecemos no outro a nossa condição de pecador. Amámos porque queremo-nos configurar com Cristo, que amou gratuitamente. Amámos porque fomos feitos para o Amor. Amámos porque queremos viver.

Medo de amar e ser amado. Penso que a grande maioria de nós, nas nossas trevas, temos medo destas duas coisas, que acabam por ser indissociáveis. Recordo que da minha boca saíram muitas vezes as palavras "amo-te" e não lhes conhecia o significado. Só quando as neguei, e me entreguei à minha cegueira, é que descobri que de facto tinha amado e sido amado - que conheci (no sentido de experimentar) o Amor. Mas porque nessa altura não conhecia a Verdade, o Caminho e a Vida, não soube reconhecer o que estava presente - a manifestação da realidade da Cruz, de certo modo.

Nosso Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos.

2009/08/18

Problemas de identidade

É difícil viver como Cristão no mundo de hoje (pelo menos no mundo Ocidental de hoje). Não que alguma veja tenha sido fácil, mas penso que nestes últimos tempos seja particularemente mais difícil que em outros períodos. Às vezes chego a imaginar se os nossos dias não são mais próximos do mundo em que Cristo viveu e em que a Sua palavra começou a ser difundida através do seu Corpo. No entanto, existem mais Cristãos agora que nesses primórdios (pelo menos de forma quantitativa, se não qualitativa).
Como é que um Cristão persevera no mundo actual, quando o mundo à sua volta se tornou tão hóstil, mesmo que de forma súbtil, à sua maneira de ser? Como é que se sobrevive às agressões, ao desgaste, e a mil e uma provações, no meio disto tudo? Como sobrevive num mundo onde não há sinais familiares, onde não se reconheça a si mesmo, onde não tenha uma identidade?
Perseverar na oração, fé em Deus, etc., dirão alguns. E é verdade que isto são os meios, mas creio que é uma visão parcial do problema. É uma visão individualista. O Cristianismo não é apenas um "binómio": Deus e eu; é um "trinómio": Deus, eu, e o outro. Eu, por mim só, não formo o Corpo Místico de Cristo - todo ele é constituído pelos outros membros, por vários "outros". Não são só as minha orações que me sustêm, mas as orações dos outros - tanto da Igreja Triunfante como da Igreja Militante. Todos nós ajudamos-nos a suster mutuamente porque somos um só Corpo, o Corpo daqu'Ele que nos sustem em Vida.
Apesar de pertencer a um Corpo, às vezes sinto-me como um membro amputado. Não sinto aquela sensação de comunidade, de comunhão, com os meus irmãos e com as minhas irmãs em Cristo. Sendo (de certo modo) um elemento isolado, sinto com maior facilidade as visicitudes de viver no mundo enquanto tento não ser dele. Muito dificilmente encontro o apoio e o reforço que vem da vida em comunhão com os que têm uma identidade comum. Qual é a identidade de um Cristão? Não será Cristo? Não somos suposto ser um icone da Palavra de Deus, do Filho muito amado? E no entanto olho à volta e vejo uma identidade estilhaçada, onde cada um a tenta definir conforme a sua vontade. Isto parece-me diabólico, no sentido literal da palavra - os membros dividindo-se, separando-se um dos outros, em vez de manter a união. Talvez não seja só diabólico em sentido literal...
Somos um só Corpo, uma só Igreja. Mas cada igreja deve ser um icone da Igreja única. Na paróquia mais pequena devemos conseguir encontrar todo o rebanho, espalhado por toda a terra. Existe união nas nossas paróquias, existe verdadeira comunhão? Em suma: existe vida nas nossas paróquias? Não consigo responder a esta pergunta. Só posso dizer que reconheço o problema porque faço parte desse problema. Não pertenço a nenhuma paróquia em específico (durante a semana vou à Missa a duas paróquias diferentes dentro da mesma cidade, e ao Domingo vou a outra noutra cidade); sou uma ovelha que vagueia. Não participo na vida das paróquias que frequento (se é que ele chega a existir), não chego a criar laços nem a envolver-me com os demais (pelo menos não na minha cidade). E porquê? A explicação - e é isto de que se trata, um explicação e não uma justificação - é bastante simples: ortodoxia. Tenho dificuldade em encontrar pastores que se "limitem" a dar ao seu rebanho aquilo que lhes foi entregue, sem o adulterar, sem o adoçar, sem o maquilhar, ou até às vezes sem o alterar. A eles foi encumbido a missão de transmitir a Vida; por meio deles a Vida deve chegar até nós e ser cultivada. Será por isso que não há vida nas paróquias? Porque os pastores deixaram de a transmitir? Saliento aqui que por vida nas paróquias não quero dizer vivacidade no sentido superficial, mas algo que vai mais fundo. Reconheço o problema, assim como a minha responsabilidade nesse problema. O que estou a fazer para o resolver?

Mas consta que não é assim pelo resto do mundo, pelo menos não de forma tão agravada. Falando com Cristãos de outros países onde eles são uma minoria, eles dão testemunho de uma maior entreajuda, de um maior sentido de pertença, de uma vida mais cheia do Espírito. Será porque vivem, de certa forma, sobre ameaça constante que existe esta comunhão mais perfeita relativamente à nossa do mundo Ocidental? Têm uma identidade comum; têm uma Tradição com a qual não cortaram abruptamente, que os liga ao passado, guiando-os para o que há-de vir, guiando-os para Cristo. Não será isso que nos falta a nós? Diz o adágio "não se sabe para onde se vai se não se sabe de onde se veio", e cada vez mais acredito que isto seja verdade, em todos os aspectos das nossas vidas.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos.

2009/08/09

Extreme Pilgrim

Há alguns meses atrás vi o último episódio de um documentário tripartido da BBC que se chama Extreme Pilgrim. Esse episódio intrigou-me e acabei por ver as dua iniciais. Digámos que o documentário deu bastante que remoer.
O "apresentador" era um reverendo anglicano, de uma paróquia na Inglaterra. Em cada episódio o reverendo visitou uma tradição "extrema" de determinadas religiões: 1º) Monges budistas na China; 2º) Sahdus hindus na India; 3º) Monges e ermitões cristãos no Egipto. A premissa por detrás do programa era a seguinte: O reverendo dizia que na Inglaterra tinha-se perdido a espiritualidade, o contacto íntimo com Deus, de modo que ele ia tentar procurá-lo noutras religiões, nas suas tradições mais extremas. Segundo ele, tinha que as experimentar para descobrir a sua verdade.
Com os monges budistas, o reverendo queria encontrar a paz interior que se diz que o Zen proporciona. Através do kung fu, após o que creio que foi um mês, ele disse que tinha chegado a uma espécie de "vazio interior" – qualquer coisa como uma “não-existência” - da qual sentia uma grande paz. Na India juntou-se aos homens sagrados - os Sahdus - para encontrar a dita "auto-iluminação". Depois de ter sido iniciado nessa tradição do Hinduismo (e de se ter espantado do Hinduismo ser tão hierarquico), foi deixado numa gruta numa vila nos sopés das Himalaias. Pensava que lá estaria em silêncio, para se sentir uno com a criação, mas admirou-se com o quanto era esperado de si pelos aldeões da vila, de como o viam como um lider espiritual. Questionou-se se deveria ser esse o seu papel na sua paróquia, enquanto reverendo na Igreja da Inglaterra, mas não adiantou muito essa linha de pensamento por "não estar com paciência para isso". Entretanto adoeceu e não pôde continuar esta étapa. Por último, foi passar um mês sozinho numa gruta no deserto do Egípto, perto do mosteiro Cristão mais velho do mundo, fundado pelo Santo António do Deserto. Curiosamente, a sua própria tradição Cristã foi a que mais o “revoltou”. Dedicou o tempo durante esse mês que passou em isolamento na gruta à oração, a meditar [uma meditação diferente do que praticou nos episódios anteriores; talvez a nossa contemplação seja mais semelhante a essas] sobre a sua vida, e nota-se visivelmente que isso o afectou, pois as marcas ficaram-lhe aparentes na cara. Ao longo das semanas o reverendo revoltou-se com o facto de haver pecado, de termos de viver para Deus, da vida ser uma batalha constante com os demónios que nos tentam fazer perder o caminho da salvação. Mas, no fim, ele compreendeu (ou pelo menos pareceu vir a compreender) o valor do silêncio do deserto, e a paz que daí poderá advir.

Comentários:
Não vou deixar de negar que acho bastante estranho um reverendo, um líder espiritual de um igreja, tentar procurar uma vida espiritual fora da sua própria religião. Leva-me a questionar: será que ele realmente percebe a sua própria fé? Será mais um sinal do relativismo que infelizmente abunda no mundo nos dias de hoje, que se infiltra mesmo na própria religião, tentando as pôr todas ao mesmo nível? Se acreditas – se realmente acreditas - que Deus se fez homem para salvar o Homem, porque procurar em outros lugares a Verdade, quando se sabe que nesses lugares ela poderá ser incompleta ou praticamente inexistente? E quem viu este documentário, qual é a mensagem que ele lhe transmite? Seria que os produtores estavam de facto a tentar passar uma mensagem relativista?
A própria premissa de que ele tinha de as experimentar para testar a sua verdade levou-me a questionar: será que o reverendo acha que somos os arbitros finais da Verdade, que a nossa experiência pessoal e subjectiva é o suficiente para determinar o que é Verdade e não é, e que ela não existe fora de nós?
Às vezes ficava com a ideia de que o apresentador estava perdido, de que nem ele próprio sabia o que andava em busca. Parecia sentir-se mais à vontade nas duas primeiras tradições, onde tudo era fruto do trabalho do homem, sem intervenção divina (e até chegou a comentar uma vez que o Zen fazia mais sentido pois não se tem que recorrer a Deus e podemos tomar os louros pelo esforço), do que na sua própria tradição. Aliás, ele parecia nem conhecer a sua própria tradição, pois ainda comenta várias vezes que “não gosta desta teologia em que se está em guerra com as paixões e com demónios”.


As três tradições falam-nos de esvaziamento. Mas, em meu entender, o esvaziamento Cristão – o kenosis – é algo muito diferente do esvaziamento proposto pelo Budismo e pelo Hinduismo dos Sadhus. Enquanto que o esvaziamento proposto por este últimos visa a “dissolução do ser” até se unir/confundir com a criação – um esvaziamento que não oferece nada para preencher novamente - não é isso que o kenosis nos oferece. De facto, o kenosis não é um esvaziamento total, mas um esvaziamento do pecado que existe em nós, dos nossos apetites e afins. Esvaziando-nos deste “recheio”, mais facilmente Deus nos poderá preencher, e nós fazermos depois a Sua vontade: em suma, para nos divinisarmos (theosis). Não perdemos a nossa unicidade. É um esvaziamento de morte para sermos preenchidos com Vida. Nos outros conceitos de esvaziamento, quer-me parecer que isso não é o caso. Esta procura de fusão com a criação, com a “dissolução do ser”, parece-me mórbida; parece-me revelar uma insatisfação mórbida com o nosso próprio ser, pois procura-se anulá-lo para corrigir essa sensação (que é mais que uma sensação; é a realidade do Pecado) de que algo está mal com o Homem.
E talvez seja por isso que estas religiões orientais sejam tão atractivas para o Homem Ocidental actual. Vivemos numa sociedade que rompeu a sua ligação com o passado, que se deixou ir na onda do relativismo moral, que vive apenas para o prazer momentâneo, que deu origem a filosofias nihilistas, que não vê um sentido último para a vida. Há um imenso mau estar, e isso nota-se no que se passa à nossa volta. Quando não se vê sentido nenhum para a vida, acho que é apenas lógico que o passo seguinte seja desejar deixar de existir. E daí o atractivo deste esvaziamento.

Vivemos numa sociedade moribunda. Como Cristãos, temos o dever e a obrigação de lhe levar a Vida da Cruz.

Deixo-vos aqui o último episódio do documentário, para quem tenha curiosidade. Vale a pena ver.

2009/07/09

Quando estive em Fátima este Domingo passado (algo de que talvez venha a falar mais tarde) vi algo que me fez pensar. Vi um homem a rastejar por caminhos próprios para tal no santuário várias vezes. Todos olhavam para ele como se assistissem a um espetáculo. E enquanto eu o observava de longe, algo me ocorreu. Já tinha assistido a tais "cenas" noutras ocasiões, e olhava-as com desprezo. Mas pela primeira vez vi o que aquele homem fazia como algo de extremamente belo. Qual não teria sido o milagre que Deus terá feito na sua vida para ele estar ali a sujeitar-se a tal? Para aquele homem estar ali no chão, não teria ele que perceber o que Cristo esteve a fazer pendurado no madeiro? Senti vontade de ir ter com ele, para lhe perguntar sobre o feito, e dar louvores a Deus por causa dele, mas não o fiz...

2009/06/29

Name Day

Today is my Name Day! Yay ;-D

2009/06/27

Avaliação

Como é que se avalia uma vida? Será uma questão do que se conseguío ao longo da vida? Ou será a partir dos objectivos que se estabeleceram e se cumpriram? Terá a ver com o que se produzío? É uma questão de avaliar coisas mais ou menos comensuráveis da nossa vida? Ou não será que, no final, uma vida é avaliada em relação ao quanto se amou?

2009/06/24

Inquietações

Procuro realmente Deus, ou de facto procuro os Seus consolos? E se Ele não tivesse feito as promessas que fez, estaria eu disposto a tentar fazer a Sua vontade? Seria Ele o mesmo se não as tivesse feito; o que dizem elas à cerca da Sua natureza?

Hoje são estas as coisas que me perturbam a alma...

2009/06/23

Há dias em que nos doi a alma. Estes últimos dias têm sido desse genero. Parece que algo foi arrancado no meu interior. E a que se deve? Talvez por me ter apercebido de toda a dor, todo o sofrimento, toda a mágoa que eu causei a uma pessoa injustamente há anos atras. É quase como se conseguisse sentir o que essa pessoa passou naquela altura. Como é que é possível nos magoarmos tanto uns aos outros?
Nestas alturas a última coisa que quero fazer é rezar. Mas precisamente porque não me aptece é que o devo fazer. É nestas horas que a nossa fé é posta à prova; é nestes momentos que Ele quer que recorrámos a Ele. Só peço é que Deus me dê a sabedoria para poder usar esta cruz que carrego em benefício dos outros.

2009/06/11

Ponto de situação

O que significa para mim ser Cristão? Tempos a tempos ponho esta questão a mim mesmo, não porque tenha dúvidas sobre se é este o caminho da salvação (disso não tenho dúvidas, pois disse Jesus «Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.» [Jo 14,6]), mas para ver se o meu entendimento sobre o que significa e implica ser Cristão se mantem inalterado ou se se aprofundou.

Portanto, neste período da minha vida, quase dois anos depois de ter regressado a Santa Mãe, qual o balanço a fazer? Ser Cristão é apenas seguir uma filosofia; o Cristianismo é apenas mais uma filosofia, embora das mais sublimes (se não A mais sublime)? Em verdade, no início, antes de regressar completamente ao seio da Igreja, admito que tivesse uma concepção semelhante a essa do Cristianismo. Mas algo dentro de mim ansiava por Verdade, por algo imutável, por uma fundação de rocha sólida - não por "verdades" - e a minha alma irrequieta, impelida talvez pela graça de Deus, reconheceu que talvez o caminho para a Verdade seria por aqui. Nessa altura não imaginava que o Caminho fosse a Verdade. Mas, e agora? É ou não uma filosofia? É um conjunto útil de ideias? Reconhecer Jesus como salvador: é apenas algo a que aceno que sim com a cabeça, escolhendo dos seus ensinamentos o que mais me convem ou me interessa, e sigo caminho como se nada fosse? É um exercício puramente mental, que se passa apenas no campo das ideias?

Não. Para mim (e acredito que será esta a opinião de todo o Cristão), é algo que vai muito mais profundo. É algo que apela ao ser humano na sua totalidade, que o mobiliza não só a nível intelectual, mas também a nível afectivo e espiritual. Há uma ideia que vai fazendo cada vez mais sentido para mim - a vida como liturgia; a vida como eucaristia. A nossa fé é Incarnacional. Durante muito tempo questionei-me quanto ao que isto quereria dizer. Não deveria o objectivo ser nós nos tornarmos "boas pessoas", obedecermos a Deus? Aos poucos tenho vindo a descobrir que isto é uma visão muito restrita, ou então que assim não estámos a ver a floresta, mas apenas as arvores.

O que caracteriza o Cristão? Não são as boas obras? Não é amar o próximo; fazer o Bem? Penso que se limitarmos o ser Cristão a isto, estamos a confundir os fins com os meios. O fim, o telos, do Cristão não é fazer o Bem; pelo menos não o fazer só por fazer. Afinal, existem muitas pessoas, não-Cristãos, não-crentes que também fazem o Bem, que ajudam o próximo. Não o fazem por Cristo, e muitos talvez até nem o farão pelos motivos mais nobres. Ser Cristão tem de ser algo mais que ser um "assitente social glorificado". A Igreja não é uma instituição humanista filantrópica - é algo muito mais.

Nem é o Cristianismo apenas mais uma espiritualidade para chegar até Deus, conforme nos prega o relativismo dos nossos tempos. O Cristianismo é a "espiritualidade" (usando um termo tão em voga que acabou por perder todo o sentido) por excelência para chegar até Deus precisamente porque é revelado por Ele. Não, não troquei os tempos verbais; quero mesmo dizer ". E uso o pretérito perfeito porque apesar de Deus se "ter feito carne" e habitado entre nós durante um período específico na história, Ele próprio nos disse que não nos abandonaria, que estaria sempre presente (Jo 14,18-20). O Filho não nos revelou e Pai e depois disse "agora desencoisem-se". Estando sempre presente, e indo nós aprofundando a nossa relação com Ele, Ele está-nos constantemente a revelar o caminho para o Pai.

Mas afinal para que serve o Cristianismo? O que quer dizer ser-se Cristão? Penso que todos concordaremos com a seguinte afirmação: ser-se Cristão implica desenvolver uma relação com Deus, certo? O objectivo é sermos santos, pois assim Deus ordena "Sêde santos, como o vosso Senhor é Santo" (Lv 11,44; 1Pe 1,16) . Mas como é que nós, criaturas (de natureza caída, apesar de redimidas), conseguímos aprofundar a nossa relação com O Pai? Temos o Filho como exemplo. Mas é só seguir o exemplo do Filho? Penso que não é algo assim tão superficial. Deus quer que participemos na sua divindade, que participemos na comunhão que é o Mistério da Trindade. Mas como? Repito, a nossa fé é Incarnacional. Temos de nos tornarmos Cristo. Jesus tem de encarnar em nós, através do Espírito Santo. Isto não é algo que nós, pelas nossas limitações, conseguimos fazer. Deus o faz pelo Espírito Santo recorrendo aos Sacramentos que O Filho nos deixou.

Devemos procurar o theosis, devemo-nos "esvaziar", morrer para nós mesmos, para que Cristo viva em nós. O objectivo é transfigurarmo-nos. Devemo-nos conformar com Cristo. Devemo-nos tornar um tabernáculo. É com este fim que comemos o corpo de Cristo (desde que o façamos com o devido discernimento, diz-nos o Apóstolo [1Cor 11,27-29]). Procuremos tornarmo-nos naquilo que comemos. As boas obras não são um fim; são um resultado desta conformidade com Cristo; são um sinal deste processo de divinização. O amor ao próximo cresce em nós à medida que Cristo cresce em nós. Nós só acedemos ao Pai pelo Filho (isto é, a quem Ele o der a conhecer [Mt 11,27]), e isto pelo poder do Espírito Santo. Claro que isto não é algo instantâneo (a não ser que Deus assim o queira e conceda essa graça a alguém); temos de ir correspondendo à graça que o Senhor nos vai dando, temos de ir cooperando com Ele. Deus não impõe a salvação a ninguém.

Conformarmo-nos com Cristo - é aqui que entra a parte da vida como liturgia, como eucaristia. Encontrar Deus nos outros, levá-l'O aos outros. Perdoar, amar, ser obediente ao Pai. Tomar-mos a nossa cruz diária em obediência filial, e sermos purificados pelo sofrimento. Não que o sofrimento por si seja algo de bom, ou que devemos procurar mais sofrimento que aquele que já nos cabe pela nossa vida, mas foi através dele que Cristo demonstrou o seu amor - ao Pai e aos homens - e é o caminho que todos os santos reconhecem. Às vezes leio na vida de alguns santos eles a desejarem para si mais sofrimento para se poderem unir a Cristo nela. E questiono-me como é que isso será possível, como se poderá desejar tal coisa. Isso assusta-me, profundamente. Penso que é um claro indicador do longo caminho que ainda há a percorrer. Oferecer esse sofrimento, uni-l'O ao sofrimento de Cristo. Dar graças a Deus sempre e em toda a parte. Devemos ser uma verdadeira Eucaristia. Devemo-nos rever na Liturgia, e a Liturgia deverá-nos reflectir.

Ao fim destes dois anos, é isto que neste momento ser Cristão significa para mim. É isto que é para mim. Deus me dê a força e graça para poder progredir neste caminho, pois sem Ele nada posso e ainda mal dei os primeiros passos.

Nota: Se por acaso aqui tiver dito algo que vá em qualquer maneira contrar os ensinamentos da Igreja, agradeço que o salientem para eu o poder corrigir.


2009/06/02

Ao acordar

Uma das primeiras orações que faço logo de manhã, depois de acordar, é recordar os seguintes versos do Salmo 95:

«Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o coração [...]»
(Sl 95, 8-9)

Ajuda-me a preparar para o dia que está pela frente. Relembra-me a estar sempre atento, a ter os ouvidos abertos. O Pai falará? Fala sempre. Conseguirei ouvi-l'O? E, se sim, estarei disposto a responder?

2009/06/01

Começo

Ontém foi o culminar de um trajecto começado há quase dois anos atrás, quando reencontrei a minha fé. Mas pondo as coisas em perspectiva, o trajecto começou de facto há 27 anos atrás. Esse trajecto foi abandonado desde mui tenra idade, mas creio que com as minhas deambulações desejava voltar a ele, pois o que eu procurava esteve sempre naquilo que tinha abandonado.
Este últimos dois anos têm sido um aprofundar a minha fé, tentar perceber o que ela é, o que ela não é, donde vem, para onde me leva, etc. E ontém la fui receber, com muito alegria no meu coração, o último sacramento de iniciação - o Crisma. Era uma alegria que gostaria de ter compartilhado com os meus pais, mas eles não quiseram estar presentes (lá devem ter tido os seus motivos, embora não explicassem porquê). De qualquer maneira, pude compartilhar com outros que também me são queridos. A missa durou cerca de duas horas e um quarto, mas nem me apercebi. Ali estava eu, entre tantos outros, para receber o sêlo do Espirito Santo. Ainda foram baptizados 5 catecúmenos. Foi maravilhoso poder ver mais cinco irmãos a tornarem-se membros de um só Corpo. E isto não é apenas mero floreado retórico; é facto. É interessante como Deus nos chama mesmo ainda não fazendo parte do Corpo de Cristo, como nos vai dando graça suficiente para encontrarmos o caminho até casa. Realmente os caminhos d'Ele não são os nossos. Temos exemplo disso nos Actos, em que Cornélio é primeiro baptizado pelo Espirito e só depois é que lhe é "regularizado a situação" com o baptismo com água.
Lá chegou a minha vez, ajoelhei-me diante do Sr. Bispo e ele aplicou a crisma. Atingi a "maioridade". Mas mais do que o terminar de um percurso, sinto que é apenas agora que ele realmente começa. Sinto que aqui é o ponto de partida. Sei que há muitos para quem este era o destino final, e por esses que decidem apagar as suas velas peço a Deus que os ilumine e proteja, que os conduza de novo a casa.

2009/05/13

«[...] o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus.» (Dt 21,23)

Terá sido isso com que lutastes, Saúl? Seria isto O empecilho para ti? Imagino que sim, pois como poderia o Messias ser pendurado no madeiro? Terá sido o aperceberes-te que foi essa a sua finalidade - ser pendurado no madeiro para que tomasse em si todos os pecados de todos os tempos, o tomar em si essa maldição para libertar a humandidade dela - que levou a que renascesses como Paulo? Terias lá chegado sozinho já no teu coração e não o querias admitir, ou estarias ainda longe dessa verdade? Foi para te aperceberes disso que nosso Senhor te apareceu? São Paulo, roga por nós a Deus, que saibamos ter o teu amor e o teu zêlo em pregar Cristo crucificado.

2009/04/28

Hoje decidi rezar um salmo de manhã, para ver o que Deus me tinha para dizer neste momento. Escolhi o primeiro salmo, pois ainda só conheço um ou outro e quero ver se os venho a conhecer a todos. Deste salmo, trouxe comigo o dia inteiro o seguinte versículo:

É como a árvore plantada à beira da água corrente:
dá fruto na estação própria
e a sua folhagem não murcha [...]
(Sl 1,3)

Penso que nunca é suficiente recordar-me que, desde que ande pelos caminhos do Senhor, custe o que custar, que Ele não me desamparará e me sustentará quando mais precisar d'Ele. Quanto à folhagem que não murcha, será que eu transmito a "verdura e vivacidade" que vem de esperar em Deus, de ser alimentado por essa fonte de águas vivas? Deus me dê graça para melhorar nesse aspecto.

2009/04/26

Pensamentos soltos

As vezes pergunto-me se realmente tenho noção do que se passa na Missa, do que ela realmente é. Quantas não são as vezes que me distraio: ou ponho-me a pensar em coisas que não têm nada a ver, ou então distraio-me com o que se passa ao meu redor. Tantas vezes me distraio. E então sou forçado a perguntar: realmente tenho consciência do que se está a passar? Penso que não, que de facto passa-me ainda um tanto quanto ao lado a grandiosidade e magnitude do que ocorre na Missa. Deus torna-se presente, sob pão e vinho; o Filho é mais uma vez sacrificado ao Pai, participando nesse momento da entrega há 2000 anos atrás. Esse sacrifício que o padre - o alter Christus - oferece nesse momento, de certo modo "comunga" com o "mesmo" sacrifício que fez na Missa do dia anterior, e em todos os dias anteriores, e em todas as Missas que se hádem realizar no futuro até à Parousia, e em especial com a entrega de Jesus na cruz. Tenho eu consciência disso? Tenho eu consciência de que também os anjos estão presentes, e que também participam? Não, ainda não me apercebi dessa realidade, pois se tivesse não me atreveria a distrair da maneira que distraio.
Não sei porquê, não me deixa de vir à ideia uma prática dos Judeus, no único dia em que o sumo -sacerdote entrava no "Santo dos Santos" do Templo: atavam-lhe uma corda para o puxar para fora, caso morresse lá dentro...

2009/04/24

Ontém vi um filme - Shadowlands: Dois Estranhos, Um Destino - que ainda anda a remoer cá por dentro. O filme trata da vida do autor inglês C.S. Lewis (Crónicas de Nárnia, Cartas do Inferno, etc.), mais especificamente da relação com a sua mulher e do modo como lida com a sua morte. Aconselho-vos a verem o filme, pois interpela-nos a questionar sobre o sofrimento do ponto de vista cristão. Como nota de advertência, antes de verem o filme sugiro que leiam um pouco sobre a vida do C.S. Lewis. Convem ver este filme tendo em conta que ele era Cristão, e que mesmo através do processo de luto nunca perdeu a sua fé em Deus. É que quem não conhecer minimamente a sua história, e dado a maneira "abrupta" como o filme termina, poderá ter uma interpretação completamente errada do filme. Deixo-vos a cena do filme que mais me tocou (no primeiro video desde 8:45 até ao fim; depois ver o segundo desde o início até 0:31). Só para contextualizar a cena: C.S. Lewis casa com a Joy pelo civil, apenas para ajudá-la a permanecer no Reino Unido, mas não conta a ninguém (daí o padre comentar que são "apenas amigos e que não se deveria preocupar tanto com os assuntos dela" ).



2009/04/13

Batendo na mesma tecla

Todos os dias faço os possíveis por me lembrar de duas coisas importantíssimas:

  • Que a qualidade da minha oração não depende da minha experiência subjectiva dela;
  • Que amar é um acto da vontade humana, não é um sentimento.
Quiçá, um dia não terei que me recordar destas coisas, pois já farão parte do meu ser. Assim peço...

Balanço

Este ano, pela primeira vez, realmente festejei a Páscoa. Apesar de estar quase a fazer dois anos que regressei à Igreja, o ano passado a Páscoa foi um pouco mal vivida. Por um lado, a época Quaresmal, sendo a primeira, não foi vivida não sua plenitude porque ainda não estava inteiramente dentro do seu significado; por outro lado, a época do Triudo Pascal também não correu muito bem pois passei-a doente.
Mas este ano tal já não aconteceu. Estando já mais informado sobre a Fé, e devido ao longo do último ano ter indo aprendendo a melhorar a oração, já consegui viver uma melhor Quaresma. Esta Quaresma, com o tempo dedicado à oração, ao jejum, e à esmola, aos poucos fui-me conhecendo melhor, iluminando certos aspectos da minha vida com a Cruz e descobrindo a necessidade de Jesus entrar onde eu antes pensava não ter necessidade d'Ele. Foi época também para perceber melhor o que é isto de Deus nos chamar a ser santos. O Triúdo também foi bem vivido. Foram dias de sentimentos "confusos": por um lado havia uma sensação de tristeza, devido à realização de ser co-responsável por todo o sofrimento do Senhor; mas por outro lado, sentia uma enorme alegria porque sabia que foi através desse sofrimento que Jesus venceu a Morte morrendo e nos deu a Vida. Na missa da Vigília Pascal fui invadido por uma alegria enorme, e enquanto se rezava a ladaínha dos santos, apercebi-me de que todos eles estavam ali em oração também connosco, que a Igreja Triunfante estava unida à Igreja Militante em oração e celebração. Aproveitei também para rezar pelos meus "antigos" colegas de preparação para o Crisma que deixei do outro lado do oceâno, que nessa noite muitos deles eram recebidos no seio da Igreja.
A única coisa a lamentar é que em casa não se viveu a Páscoa. Gostaria que todos pudessem ter partilhado comigo a alegria daqueles dias, da esperança que a Ressureição me transmite. Gostaria que pudessem ter vivido o que eu vivi. Apesar de ter sido um dia de almoço em família, foi apenas "mais um dia". É um pouco irónico que à medida que os anos foram passando e o dia foi perdendo mais e mais o "sentido" para a minha família (se é que alguma vez o teve), para mim tem vindo a acontecer o contrário. Mas mais Páscoas virão e, se Deus quiser, com eles Deus me ajudará a transmitir o seu verdadeiro sentido à familia, para que eles também possam acreditar, amar a Cruz, e encontrar repouso em Cristo.

2009/04/11

Christus resurrexit!










2009/04/08

Exame de consciência original

Nunca deixo de me surpeender com os ficheiros audio que encontro no Sonitus Sanctus . Dentro do tema do Ano Paulino, tenho andado a ouvir os mp3 que esse site dispõe acerca de São Paulo e das suas epístolas. Num desses mp3, em que um padre dava umas aulas a tentar explicar o enquadramento histórico das epístolas, sugeriu uma forma bastante original para uma pessoa fazer um exame de consciência. Ia o padre na 1ª carta das Coríntios quando chegou ao famoso capítulo 13. "Sugiro-vos" -disse ele - "que, onde esteja a palavra 'amor', a substituam com o vosso nome, e que leiam depois do versículo 4 ao 7 dessa forma. É uma experiência interessante para um exame de consciência." Ele próprio começou a fazê-lo em voz alta e logo no 1º versículo que disse começou a rir, pois ele próprio admitiu que tinha grandes falhas logo ali. Como ele fez, também deixo eu aqui a sugestão. Quiçá os frutos que não poderá dar a cada um?


4O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
1Cor 13,4-7

2009/04/05

Na multidão

Hoje começou a Semana Santa, uma semana que tem tanto o seu quê de alegria como de tristeza (daí talvez o porquê do que se avizinha se chamar o "mistério pascal"). Todo este período da Quaresma - de jejum, oração, e esmola - tem nos vindo a conduzir/preparar para o próximo Domingo. Avizinha-se a Páscoa, a celebração por excelência dos Cristãos. É esse o dia que confirma a nossa fé, que nos dá esperança, pois se Cristo não ressuscitou diz o Apóstolo que "somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Cor 15, 18). Talvez os 2000 anos que já passaram possam ter arrefecido, para nós, um pouco os ânimos daquele fatídico e, ao mesmo tempo, glorioso dia. Imaginem o que não teria sido estar alí, naquela altura, em que Deus veio ao mundo e foi morto pelos homens, mas também morto para eles. Qual o escândalo, qual a alegria, qual a confusão!

Das duas leituras do Evangelho possíveis para a Liturgia de hoje, a que foi lida na igreja onde fui foi a da Paixão. E enquanto escutava a leitura, que falava da multidão que escarnecia de Cristo, que o insultava e amaldiçoava, lembrei-me da leitura alternativa - da entrada triunfal de Jesus em Jerusalem. Também ali havia uma multidão. Essa multidão estava ali para receber o seu Messias, com toda a pompa e circunstância. E no entanto, quer-me parecer, que não seriam poucos os que aclamaram Jesus na sua entrada que depois estariam juntos novamente para o negarem, para o ridicularizarem, para o escarnecerem. É caso para pensar se às vezes não serei eu também um desses, mais um no meio da multidão...


E isto mexeu comigo. Fez-me pensar em como vai o mundo actualmente. A crise financeira vai tendo as suas repercuções principalmente a nível económico e social. O que aconteceu foi que finalmente se começou a reparar no elefante que estava no meio da sala e que ninguém queria admitir que estava lá. Não é algo que aconteceu de um momento para o outro, mas algo que já vem desde há bastantes anos, crescendo até se tornar grande o suficiente para já não se poder negar. Fála-se numa crise financeira, e haverá que resolvê-la com técnica. Quer-me parecer que isto é uma visão demasiado superfícial do problema. Mais do que uma crise financeira, estámos perante uma enorme crise moral, e não será apenas a técnica que conseguirá resolver o problema (se fôr esse o caso, mais cedo ou mais tarde voltaremos ao mesmo). Culpam-se o "grandes interesses económicos" e o egoísmo de alguns (ou de muitos, quiçá), e justamente. Mas não é só culpa dos outros. Não será tanto (ou talvéz até mais!) a culpa de nós Cristãos por não estármos à altura de Cristo? Não estaremos nós demasiado acomodados ao mundo que nos rodeia? Realmente vivemos aquilo que professámos? Quer-me parecer que talvez não tenhamos dado testemunho da nossa fé... É caso para pensar...

2009/03/30

Divagações

Às vezes quando olho para o espelho, procuro uma cara conhecida. Porque nos olhos que vejo reflectidos no espelho, por detrás deles vejo uma criança. Tenho já 27, caminhando para os 28. E não obstante os cabelos brancos que já vão povoando a cabeleira que se vai fazendo esparsa, e as linhas que, mais que o tempo, as alegrias e as tristezas vão esculpindo no meu rosto, é uma criança que vejo a retribuir o olhar do outro lado o espelho. Essa criança ainda olha para o mundo à sua volta e tenta contrariar o cínico que convive com ela. Essa criança ainda consegue encontrar alegria e maravilhar-se em coisas sem sentido: ver um céu azul com as nuvens flutuando lentamente; com o vento a bater-lhe na cara; com o cantar dos pássaros; com a natureza em flor... Ainda acha que ouvir/ler uma boa história é das coisas mais maravilhosas que pode existir. Ainda considera que uma tarde de não fazer nada de jeito com um amigo é uma tarde bem gasta. Acredita que estar com alguém em silêncio, sem que ele seja incómodo, é um sinal de entendimento. Acredita que os amigos são família.

Essa criança olha para o mundo à sua volta e pergunta-se porque continua tão infantíl, porque continua a sonhar. Vê os seus amigos, cada qual com as suas vidas, com os seus trabalhos e suas preocupações, com as suas responsabilidades, e questiona-se quando irá amadurecer. Os anos foram-se passando, mas a criança não cresceu, e sente-se tão pequena e ignorante como quando tinha 5 anos. O mundo continua-lhe a parecer tão grande, e ao mesmo tempo tão pequeno.

Mas, contudo, é essa criança que volta e meio vislumbro que me leva até à fonte donde brota a esperança nos dias mais difíceis. Porque apesar das sua insignificânica, da sua pequenêz, ela ainda crê em histórias de encantar. E de todas as histórias de encantar em que crê, aquela em que mais crê é a mais fantástica de todas. E porque é a mais fantástica e impossível de todas, é a mais real, a mais verdadeira. Quando o cínico e o racionalista já nada podem e desistem, a criança continua firme porque acredita no aparentemente absurdo, no aparentemente paradoxal: que Deus tanto amou o Homem que por ele incarnou e por ele deu a sua vida.

2009/03/26

Hoje aconteceu o inesperado. Hoje veio um pouco da consolação para animar uma alma que tem andado um pouco sem jeito. Tocou o meu telemóvel. Era número anónimo. Atendi, e quanto não é o meu espanto quando do outro lado da linha ouço uma voz familiar e amistosa, uma voz que julgava que nunca mais iria ouvir! Era o meu antigo colega de trabalho, o Alex, a ligar do outro lado do oceano para saber como eu estava. Trouxe logo um sorriso à minha cara e o resto do dia já foi vivido de outra forma. Obrigado Senhor.

2009/03/25

A Anunciação


Hoje celebra-se a Anunciação do anjo Gabriel a Maria. Hoje celebra-se o "Sim" mais importante na história do Homem, que continua a ter repercuções ainda hoje. Hoje celebra-se o "Sim" à Vida. Deus podia ter arranjado outra maneira do Salvador vir ao mundo, mas o facto é que a Providência quis que Ele viesse pela Santíssima Virgem Maria. Obrigado Mãe! Obrigado pelo teu "sim" e pelo teu filho! Ave Maria!
Mas Cristo também quer se fazer presente no mundo através de nós. Saibámos imitar a Maria, para que o Espírito Santo encontre em nós também um terreno fecundo.




2009/03/24

Cansaço

Sinto-me cansado hoje. É um cansaço que já se vem acumulando há alguns dias. É um cansaço que levo comigo para a oração e que ponho diante do Senhor. É um cansaço que aceito como sacrifício. E a que se deve? Há várias coisas que contribuem para este cansaço, dos quais partilharei apenas dois, que penso serem os mais relevantes neste momento.

Um dos motívos é os meios de comunicação nestes últimos tempos, nomeadamente no que diz respeito ao nosso querido Papa. Parece que abriu a época de caça, e estão todos a mandar o seu tiro ou a sua farpa, critcando, menosprezando, obfuscando, etc. Quando são não-crentes, ainda consigo engolir mais ou menos, mas agora quando também vêm de dentro da própria Igreja, do próprio corpo místico de Cristo, custa a aceitar. Ouvem-se coisas como "ele é uma vergonha para a nossa Igreja" ou "é dos piores Papas de sempre" ou ainda "mais valia estar calado". E um dos argumentos mais comuns contra as posições tomadas pela SS Bento XVI é de que "a Igreja precisa de se modernizar/actualizar porque a maioria dos Católicos já não vê as coisas dessa maneira". Argumentos ad populum, da última vez que vi, não são argumentos válidos. Será então que os Arianos tinham razão e que afinal Sto. Atanásio era um louco? São Jerónimo fez o seguinte comentário sobre esse período da Igreja: "O mundo acordou um dia e descobriu-se ariano." Será que por a maior parte da Igreja ter começado a acreditar que Jesus era apenas um homem (embora o homem mais próximo de Deus), Cristo deixou de ser "verdadeiro Deus e verdadeiro Homem" e que, como eram a maioria, que eles é que estavam certos?
Não é ira nem amargura que me surge ao ler sobre estes ataques, mas sim tristeza e pesar de ver um corpo dividido, em que os membros se tentam "morder e devorar". Esse p esar provoca cansaço, e esse cansaço só vai encontrando algum alívio na oração, pedindo unidade e caridade para todos os membros.

Outra das coisas que me tem criado algum cansaço é ser acusado de ser algo que não sou. Acusam-me de ser "antiquado", "elitista", "retrograda", "reacçionário", e outras coisas a fins. E tudo isto a propósito de quê? Da Liturgia, imagine-se... Enquanto estive fora tive oportunidade de assistir umas quantas vezes à Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano. Tinha ido inicialmente por curiosidade, para ter uma ideia do que era. Mas o que acabei por encontrar foi uma forma mais profunda (pelo menos para mim) de viver a Eucaristia. É um rito carregadíssimo de simbolismo, e que me deixou com uma sensação de pequenez. Saí, das várias vezes que fui assisitir, a sentir-me realmente muito pequeno. E não digo sentir pequeno em sentido negativo, mas em sentido positivo, de me sentir pequeno diante da magnificiência de Deus, de me sentir humilde e muito grato por tudo quanto tenho. Nunca tinha sentido isso em nenhuma missa na Forma Ordinária do Rito Romano. E depois tive a oportunidade de assistir a uma missa cantata na Forma Ordinária, e mais umas quantas missas "normais" na Forma Ordinária na mesma igreja. E a sensação com que fiquei foi a mesma - de pequenez. E por mais simples que estas missais normais podessem ser, pareciam diferentes de todas as missas na Forma Ordinária a que tenho assistido. Não estou a sugerir que as outras tenham sido missas inválidas, mas apenas que não senti o mesmo que naquela igreja. Fiquei com ideia de que era assim que se pretendia que a missa de Paulo VI fosse celebrada. Sei que a Forma Ordinária (ou Novus Ordo, conforme lhe queiram chamar) tem como intenção aproximar-nos mais da missa conforme celebrada pelos primeiros Cristãos. E, de facto, com o que tenho lido sobre as liturgias dos primórdios da Igreja, a Novus Ordo é bastante semelhante. Mas aquelas missas "normais" a que assisti naquela igreja também transmitiam uma continuidade com as outras formas (leia-se ritos) romanas que vieram após os tempos primordiais da Igreja; as outras a que tenho assistido não me têm transmitido essa sensação de continuidade.
Pois bem, certeris paribus, eu não tenho preferência entre os dois ritos. Acho que ambos, quando realizados com reverência, conseguem-nos transportar para além de nós mesmos e deixam-nos vislumbrar um pouco do transcendente. Mas, dado a maneira como são muitas das missas Novus Ordo a que assisto, se tiver de escolher entre uma das duas formas, escolherei a forma Extraordinária. E foi esta a opinião que apresentei a algumas pessoas enquanto tentava descobrir onde poderia assistir a uma missa Tridentina legtima (sempre há a FSSPX, mas enquanto a situação deles não estiver resolvida, não são uma opção) em Portugal. Ora, isso aliado a um certo carinho por algumas manifestações mais "antigas" da fé, foi o suficiente para eu ser visto como uma persona non grata, como sendo anacrónico, e sem lugar na Igreja dos dias de hoje. Ainda levei por tabela a acusação de que não aceito o CV2 (acusação mais que falsa pois aceito a validade de todos os concílios desde os primórdios até hoje)! Não entendo o motivo de tal hostilidade. Causa-me um bocado de espécie estas pessoas que acusam os outros de não estarem em sintonia com a Igreja porque não concordam com a sua interpretação pessoal do CV2. Quase que parece que crêem que o CV2 é um super-dogma, e que tudo o que veio antes não conta, que se rompeu com o passado. Parece-me que não têm uma imagem holística da Igreja. E estas acusações, aliadas ao facto de eu não encontrar ninguém nas redondezas que partilhe da mesma opinião, ferem e desgastam e isso por sua vez também causa cansaço. O único lugar onde este cansaço se vai aliviando é na oração e na Eucaristia.

2009/03/20

"Ego te absolvo"

Fui hoje receber o Sacramento da Reconciliação, vulgo Confissão. Já não não o fazia há 3 meses. Andava só a adiar, a inventar desculpas, a fugir à última da hora, o que só piorou a coisa: com o passar do tempo vai havendo mais para confessar, o que provoca medo/vergonha (no meu caso pelo menos é assim quando passo muito tempo sem ir), então adia-se mais um pouco, o que dá mais tempo para ir acrescentando mais pecados... Já se está a ver onde isto vai dar, não? E depois, como se não fosse só isso, a dor e o pesar de ir à missa e não poder receber comunhão também já se faziam sentir bastante. Então hoje lá fui decidido a fazê-lo. Depois de um bocado de Adoração depois de sair do trabalho lá me "aventurei", pedindo também ao São João Vianney que interecedesse por mim junto de Deus, para me dar coragem de forma a que eu não enventasse uma desculpa à última da hora e voltasse a fugir. Como sabe tão bem ouvir as palavras de absolvição no final. Venho-me embora sempre mais alegre, mais cheio de esperança. Deus sabe o que faz, pois para além de recebermos a Sua graça através deste sacramento, também tem uma compontente catartíca. Como estámos na Quaresma, época de penitência por excelência, acho que há que aproveitar ao máximo este maravilhoso sacramento que o Senhor nos deu.
Só como curiosidade, parece que os nossos irmãos de ritos Orientais se confessam virados para um iconostasis, estando o padre de lado. A ideia por detras deste rito é que um está-se a confessar a Deus estando virado para o iconostasis e que o padre serve de testemunha ao facto (dando a absolvição no final).

2009/03/19

Há dias em que o silêncio é bem vindo. O mundo que me rodeia parece fazer demasiado barulho. Todos são opinados e querem ter o seu dizer acerca do que não lhes diz respeito. Questionam e ridicularizam opções de vida de quem quer seguir os ensinamentos do Senhor, mesmo que ainda esteja no mundo. Fala-se de respeito, mas desde que só seja em relação a nós; respeitar os outros, isso já é outra questão...
Quando foi que a vida Cristã passou a ser algo merecedora de ridicularização?

Rito Bracarense utilizado fora das fronteiras Portuguesas

Parece que uma paróquia nos EUA vai ter direito, no Domingo de Ramos, a usar o rito Bracarense. Espero que aproveitem. Já agora, eu também gostaria de poder viver esse rito, tão particular a Portugal.