2009/08/29

Uma santa morte


Um monge do Monte Athos morreu, e 45 minutos depois do seu falecimento a sua expressão facial alterou-se de forma bastante notória. Está aqui o artigo. Vale a pena ler!

2009/08/26

Ladainha da Humildade


1. Senhor, tende piedade de nós.

2. Cristo, tende piedade nós.

1. Senhor, tende piedade de nós.



2. Jesus manso e humilde de coração: ouvi-nos.

1. Jesus manso e humilde de coração: atendei-nos.

2. Jesus manso e humilde de coração: fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.



1. Do desejo de ser estimado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser amado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser buscado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser louvado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de honrado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser preferido, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser consultado, livrai-me, Jesus!

2. Do desejo de ser aprovado, livrai-me, Jesus!

1. Do desejo de ser adulado, livrai-me, Jesus!



2. Do temor de ser humilhado, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser desprezado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser rejeitado, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser caluniado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser esquecido, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me, Jesus!

2. Do temor de ser escarnecido, livrai-me, Jesus!

1. Do temor de ser injuriado, livrai-me, Jesus!



2. Que os outros sejam mais amados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que os outros sejam mais estimados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de

desejá-lo!

2. Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

2. Que os outros sejam louvados e eu esquecido – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

1. Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

2. Que os outros possam ser mais santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!



Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós!

São José, protetor das almas humildes, rogai por nós!

São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós!

Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós!

ORAÇÃO

Ó Deus, que, por meio do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (cf. Tg 4,6) e como início de todas as outras virtudes – caminho certo para o Céu – concedei-nos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, a mais humilde e mais santa de todas as criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que a Vossa Divina Providência nos oferecer. Por N. S. J. C. que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo.



Amém.


(Cardeal RAFAEL MERRY DEL VAL, Secretário de São Pio X)


Agradecimentos ao site www.paroquiansdores.org/?p=95


2009/08/25

Assim vale a pena!

Queria-vos deixar aqui com um link que tem bastante (e acho que bastante é dizer pouco) material de primeira qualidade. O site chama-se Ancient Faith Radio. É uma estação de rádio americana associada à Igreja Ortodoxa que descobri há alguns meses graças a um amigo meu, e que tem sido uma fonte inesgotável sobre coisas da Fé - há de tudo desde Patristica, Filosofia, como viver a Fé, Estudos Biblicos, etc. Aconselho especialmente os podcasts (gratuitos!!!), que vão sendo adicionados todas as semanas. Espero que vos seja útil.

2009/08/22

Medo de amar

"Amo-te". Cada vez mais me vou apercebendo do quão "aterradoras" são essas palavras, sejam elas pronunciadas por um amigo, pela pessoa com quem partilhamos a vida, ou outra pessoa qualquer na nossa vida. Tenho consciência de já as ter dito muitas vezes com demasiada leviandade. Sabia de facto o que é Amor, e o que significa amar? Por acaso o terei conhecido através dos outros sem o saber?

O Amor e as suas implicações são coisas assustadoras para o coração do pecador não-arrependido. Transpormo-nos para além dos nossos interesses (sejam eles desejos ou receios), abandonarmo-nos ao outro, expormo-nos - quem deseja tais coisas? Dizemos aos outros "amo-te", mas não será muitas vezes a maneira como eles nos fazem sentir que nos evocam tais palavras? E quando esses sentimentos esvanecem - porque é próprio da sua natureza esvanecer - dizemos que "já não amámos". O permanecer depois do fogo da paixão se extinguir, ou da amizade resfriar, o estar presente para o que der e vier, independentemente de como me sinta, isso só é possível com Amor. Isso é amar de facto. Se penso só em mim, se não tenho consciência do meu pecado, então não poderei amar de verdade. Não quererei amar porque isso implica sair de mim, quando o que eu busco é a minha própria satisfação. E se alguém me disser que me ama, não ficarei eu desconfiado? Não pensarei que o seu "amar" é semelhante ao meu? Eu não quer ser usado por ninguém, embora muitas vezes use os outros. Mas mais aterrador do que isso, talvez, será o eu me aperceber que essa pessoa realmente me ama. Mais aterrador será deixar-me amar. Que alguém me possa amar "gratuitamente": penso que o coração que ainda é aprisionado pelo pecado - que é o de todos nós - não consegue aceitar tal facto (pelo menos não sem a graça de Deus). Porque razão me hão-de amar? Porque se hão-de querer dar a mim, para mim, e por mim, sem que eu tenha feito algo para o merecer (e muitas vezes até tenha feito para não o merecer)? Quem sou eu, pecador, que mereça ser amado? Penso que é algo que nos transcende, e por isso nos atemoriza às vezes.

E porquê amar? Porque nos darmos aos outros sabendo que isso inevitavelmente nos trará sofrimento? Não amámos porque o outro o mereça por algo que tenha feito; amámos em virtude de aquilo que ele é: uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Amámos porque reconhecemos no outro a nossa condição de pecador. Amámos porque queremo-nos configurar com Cristo, que amou gratuitamente. Amámos porque fomos feitos para o Amor. Amámos porque queremos viver.

Medo de amar e ser amado. Penso que a grande maioria de nós, nas nossas trevas, temos medo destas duas coisas, que acabam por ser indissociáveis. Recordo que da minha boca saíram muitas vezes as palavras "amo-te" e não lhes conhecia o significado. Só quando as neguei, e me entreguei à minha cegueira, é que descobri que de facto tinha amado e sido amado - que conheci (no sentido de experimentar) o Amor. Mas porque nessa altura não conhecia a Verdade, o Caminho e a Vida, não soube reconhecer o que estava presente - a manifestação da realidade da Cruz, de certo modo.

Nosso Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos.

2009/08/18

Problemas de identidade

É difícil viver como Cristão no mundo de hoje (pelo menos no mundo Ocidental de hoje). Não que alguma veja tenha sido fácil, mas penso que nestes últimos tempos seja particularemente mais difícil que em outros períodos. Às vezes chego a imaginar se os nossos dias não são mais próximos do mundo em que Cristo viveu e em que a Sua palavra começou a ser difundida através do seu Corpo. No entanto, existem mais Cristãos agora que nesses primórdios (pelo menos de forma quantitativa, se não qualitativa).
Como é que um Cristão persevera no mundo actual, quando o mundo à sua volta se tornou tão hóstil, mesmo que de forma súbtil, à sua maneira de ser? Como é que se sobrevive às agressões, ao desgaste, e a mil e uma provações, no meio disto tudo? Como sobrevive num mundo onde não há sinais familiares, onde não se reconheça a si mesmo, onde não tenha uma identidade?
Perseverar na oração, fé em Deus, etc., dirão alguns. E é verdade que isto são os meios, mas creio que é uma visão parcial do problema. É uma visão individualista. O Cristianismo não é apenas um "binómio": Deus e eu; é um "trinómio": Deus, eu, e o outro. Eu, por mim só, não formo o Corpo Místico de Cristo - todo ele é constituído pelos outros membros, por vários "outros". Não são só as minha orações que me sustêm, mas as orações dos outros - tanto da Igreja Triunfante como da Igreja Militante. Todos nós ajudamos-nos a suster mutuamente porque somos um só Corpo, o Corpo daqu'Ele que nos sustem em Vida.
Apesar de pertencer a um Corpo, às vezes sinto-me como um membro amputado. Não sinto aquela sensação de comunidade, de comunhão, com os meus irmãos e com as minhas irmãs em Cristo. Sendo (de certo modo) um elemento isolado, sinto com maior facilidade as visicitudes de viver no mundo enquanto tento não ser dele. Muito dificilmente encontro o apoio e o reforço que vem da vida em comunhão com os que têm uma identidade comum. Qual é a identidade de um Cristão? Não será Cristo? Não somos suposto ser um icone da Palavra de Deus, do Filho muito amado? E no entanto olho à volta e vejo uma identidade estilhaçada, onde cada um a tenta definir conforme a sua vontade. Isto parece-me diabólico, no sentido literal da palavra - os membros dividindo-se, separando-se um dos outros, em vez de manter a união. Talvez não seja só diabólico em sentido literal...
Somos um só Corpo, uma só Igreja. Mas cada igreja deve ser um icone da Igreja única. Na paróquia mais pequena devemos conseguir encontrar todo o rebanho, espalhado por toda a terra. Existe união nas nossas paróquias, existe verdadeira comunhão? Em suma: existe vida nas nossas paróquias? Não consigo responder a esta pergunta. Só posso dizer que reconheço o problema porque faço parte desse problema. Não pertenço a nenhuma paróquia em específico (durante a semana vou à Missa a duas paróquias diferentes dentro da mesma cidade, e ao Domingo vou a outra noutra cidade); sou uma ovelha que vagueia. Não participo na vida das paróquias que frequento (se é que ele chega a existir), não chego a criar laços nem a envolver-me com os demais (pelo menos não na minha cidade). E porquê? A explicação - e é isto de que se trata, um explicação e não uma justificação - é bastante simples: ortodoxia. Tenho dificuldade em encontrar pastores que se "limitem" a dar ao seu rebanho aquilo que lhes foi entregue, sem o adulterar, sem o adoçar, sem o maquilhar, ou até às vezes sem o alterar. A eles foi encumbido a missão de transmitir a Vida; por meio deles a Vida deve chegar até nós e ser cultivada. Será por isso que não há vida nas paróquias? Porque os pastores deixaram de a transmitir? Saliento aqui que por vida nas paróquias não quero dizer vivacidade no sentido superficial, mas algo que vai mais fundo. Reconheço o problema, assim como a minha responsabilidade nesse problema. O que estou a fazer para o resolver?

Mas consta que não é assim pelo resto do mundo, pelo menos não de forma tão agravada. Falando com Cristãos de outros países onde eles são uma minoria, eles dão testemunho de uma maior entreajuda, de um maior sentido de pertença, de uma vida mais cheia do Espírito. Será porque vivem, de certa forma, sobre ameaça constante que existe esta comunhão mais perfeita relativamente à nossa do mundo Ocidental? Têm uma identidade comum; têm uma Tradição com a qual não cortaram abruptamente, que os liga ao passado, guiando-os para o que há-de vir, guiando-os para Cristo. Não será isso que nos falta a nós? Diz o adágio "não se sabe para onde se vai se não se sabe de onde se veio", e cada vez mais acredito que isto seja verdade, em todos os aspectos das nossas vidas.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos.

2009/08/09

Extreme Pilgrim

Há alguns meses atrás vi o último episódio de um documentário tripartido da BBC que se chama Extreme Pilgrim. Esse episódio intrigou-me e acabei por ver as dua iniciais. Digámos que o documentário deu bastante que remoer.
O "apresentador" era um reverendo anglicano, de uma paróquia na Inglaterra. Em cada episódio o reverendo visitou uma tradição "extrema" de determinadas religiões: 1º) Monges budistas na China; 2º) Sahdus hindus na India; 3º) Monges e ermitões cristãos no Egipto. A premissa por detrás do programa era a seguinte: O reverendo dizia que na Inglaterra tinha-se perdido a espiritualidade, o contacto íntimo com Deus, de modo que ele ia tentar procurá-lo noutras religiões, nas suas tradições mais extremas. Segundo ele, tinha que as experimentar para descobrir a sua verdade.
Com os monges budistas, o reverendo queria encontrar a paz interior que se diz que o Zen proporciona. Através do kung fu, após o que creio que foi um mês, ele disse que tinha chegado a uma espécie de "vazio interior" – qualquer coisa como uma “não-existência” - da qual sentia uma grande paz. Na India juntou-se aos homens sagrados - os Sahdus - para encontrar a dita "auto-iluminação". Depois de ter sido iniciado nessa tradição do Hinduismo (e de se ter espantado do Hinduismo ser tão hierarquico), foi deixado numa gruta numa vila nos sopés das Himalaias. Pensava que lá estaria em silêncio, para se sentir uno com a criação, mas admirou-se com o quanto era esperado de si pelos aldeões da vila, de como o viam como um lider espiritual. Questionou-se se deveria ser esse o seu papel na sua paróquia, enquanto reverendo na Igreja da Inglaterra, mas não adiantou muito essa linha de pensamento por "não estar com paciência para isso". Entretanto adoeceu e não pôde continuar esta étapa. Por último, foi passar um mês sozinho numa gruta no deserto do Egípto, perto do mosteiro Cristão mais velho do mundo, fundado pelo Santo António do Deserto. Curiosamente, a sua própria tradição Cristã foi a que mais o “revoltou”. Dedicou o tempo durante esse mês que passou em isolamento na gruta à oração, a meditar [uma meditação diferente do que praticou nos episódios anteriores; talvez a nossa contemplação seja mais semelhante a essas] sobre a sua vida, e nota-se visivelmente que isso o afectou, pois as marcas ficaram-lhe aparentes na cara. Ao longo das semanas o reverendo revoltou-se com o facto de haver pecado, de termos de viver para Deus, da vida ser uma batalha constante com os demónios que nos tentam fazer perder o caminho da salvação. Mas, no fim, ele compreendeu (ou pelo menos pareceu vir a compreender) o valor do silêncio do deserto, e a paz que daí poderá advir.

Comentários:
Não vou deixar de negar que acho bastante estranho um reverendo, um líder espiritual de um igreja, tentar procurar uma vida espiritual fora da sua própria religião. Leva-me a questionar: será que ele realmente percebe a sua própria fé? Será mais um sinal do relativismo que infelizmente abunda no mundo nos dias de hoje, que se infiltra mesmo na própria religião, tentando as pôr todas ao mesmo nível? Se acreditas – se realmente acreditas - que Deus se fez homem para salvar o Homem, porque procurar em outros lugares a Verdade, quando se sabe que nesses lugares ela poderá ser incompleta ou praticamente inexistente? E quem viu este documentário, qual é a mensagem que ele lhe transmite? Seria que os produtores estavam de facto a tentar passar uma mensagem relativista?
A própria premissa de que ele tinha de as experimentar para testar a sua verdade levou-me a questionar: será que o reverendo acha que somos os arbitros finais da Verdade, que a nossa experiência pessoal e subjectiva é o suficiente para determinar o que é Verdade e não é, e que ela não existe fora de nós?
Às vezes ficava com a ideia de que o apresentador estava perdido, de que nem ele próprio sabia o que andava em busca. Parecia sentir-se mais à vontade nas duas primeiras tradições, onde tudo era fruto do trabalho do homem, sem intervenção divina (e até chegou a comentar uma vez que o Zen fazia mais sentido pois não se tem que recorrer a Deus e podemos tomar os louros pelo esforço), do que na sua própria tradição. Aliás, ele parecia nem conhecer a sua própria tradição, pois ainda comenta várias vezes que “não gosta desta teologia em que se está em guerra com as paixões e com demónios”.


As três tradições falam-nos de esvaziamento. Mas, em meu entender, o esvaziamento Cristão – o kenosis – é algo muito diferente do esvaziamento proposto pelo Budismo e pelo Hinduismo dos Sadhus. Enquanto que o esvaziamento proposto por este últimos visa a “dissolução do ser” até se unir/confundir com a criação – um esvaziamento que não oferece nada para preencher novamente - não é isso que o kenosis nos oferece. De facto, o kenosis não é um esvaziamento total, mas um esvaziamento do pecado que existe em nós, dos nossos apetites e afins. Esvaziando-nos deste “recheio”, mais facilmente Deus nos poderá preencher, e nós fazermos depois a Sua vontade: em suma, para nos divinisarmos (theosis). Não perdemos a nossa unicidade. É um esvaziamento de morte para sermos preenchidos com Vida. Nos outros conceitos de esvaziamento, quer-me parecer que isso não é o caso. Esta procura de fusão com a criação, com a “dissolução do ser”, parece-me mórbida; parece-me revelar uma insatisfação mórbida com o nosso próprio ser, pois procura-se anulá-lo para corrigir essa sensação (que é mais que uma sensação; é a realidade do Pecado) de que algo está mal com o Homem.
E talvez seja por isso que estas religiões orientais sejam tão atractivas para o Homem Ocidental actual. Vivemos numa sociedade que rompeu a sua ligação com o passado, que se deixou ir na onda do relativismo moral, que vive apenas para o prazer momentâneo, que deu origem a filosofias nihilistas, que não vê um sentido último para a vida. Há um imenso mau estar, e isso nota-se no que se passa à nossa volta. Quando não se vê sentido nenhum para a vida, acho que é apenas lógico que o passo seguinte seja desejar deixar de existir. E daí o atractivo deste esvaziamento.

Vivemos numa sociedade moribunda. Como Cristãos, temos o dever e a obrigação de lhe levar a Vida da Cruz.

Deixo-vos aqui o último episódio do documentário, para quem tenha curiosidade. Vale a pena ver.