2009/11/27

Dança da Morte

Estámos quase a acabar o mês das almas do Purgatório e achei mal não por qualquer coisa sobre a Dança da Morte (Danse Macabre), para reflectirmos um pouco sobre o fim. Encontrarão bastantes coisas na net sobre esta "tradição" (se é que se pode chamar isso) medieval; aconselho a lerem um pouco sobre isso. Fica aqui o poema que se encontra na Capela dos Ossos em Évora:

Aonde vais, caminhante, accelerado?
Pára...não prosigas mais avante;
Negocio, não tens mais importante,
Do que este, á tua vista apresentado.

Recorda quantos desta vida tem passado,
Reflecte em que terás fim similhante,
Que para meditar causa he bastante
Terem todos mais nisto parado.

Pondera, que influido d'essa sorte,
Entre negociações do mundo tantas,
Tão pouco consideras na morte;

Porem, se os olhos aqui levantas,
Pára...porque em negocio deste porte,
Quanto mais tu parares, mais adiantas
.

por Padre António da Ascenção

Natal?

Caminhando pelas ruas reparei que a iluminação nada tem directamente a ver com o Natal. Meti-me a pensar e já há alguns anos que não me recordo de ver iluminação com referências explicitas (imagens dos Reis Magos, do Presépio, etc.). Também parecem ter desaparecido os presépios que antes costumava ver nos centros. Entretanto os enfeites e as decorações começam a aparecer logo no início de Novembro, ainda o Advento está longe (mesmo que fossemos pelos calendários Orientais, onde o Advento tem 6 semanas, isso nunca poderá dar início de Novembro). Aos poucos não consigo reconhecer o que de facto se está a preparar para comemorar...

2009/11/26

Finalmente acabei de ler a "História de uma Alma", da S.ta Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. O "pequeno caminho" que a santa descreve é realmente admirável. Tendo noção da sua pequenêz, fez das coisas mais pequenas oportunidades de mortificação. Por debaixo daquela aparência de quem não tinha uma única preocupação no mundo, quanto não sofreu ela e tudo por amor ao seu Eterno Esposo. Vale a pena ler; talvez venham a colher algum do fruto abundante que nele se encontra... A seguir vou ver se finalmente leio "A Imitação de Cristo" de Tomás à Kempis. Em tempos tinha-o iniciado, mas já não me lembro porquê o deixei-o a meio.
Este Domingo que passou fui a Fátima assistir à Divina Liturgia na capela bizantina do Domus Pacis. Vou dedicar a próxima entrada à Divina Liturgia, que penso ser pouco conhecida entre a maioria dos Católicos Romanos/Latinos, especialmente em países onde não haja uma grande presença de Católicos Orientais e/ou Ortodoxos. Hoje, porém, quero partilhar as minhas ideias sobre um comentário que um conhecido meu fez quando lhe contei que tinha ido à Divina Liturgia.
"Porque vais a uma missa onde não entendes nada?". Podem não ter sido estas as palavras exactas, mas foi neste espírito que ele pos a pergunta. Embora na altura não tenha entrado em grandes explicações (até porque ele não tem grande paciência para considerações dessa natureza), penso que esta pergunta leva-nos a fazer várias perguntas.
  • Por "não entender nada" suponho que ele quis dizer "não entender o que é dito verbalmente". E, de facto, eu não entendi quase nada do que foi dito (fora uma frase ou outra) devido à Divina Liturgia ter sido toda em Ucraniano. Mas será que uma pessoa só entende a Liturgia pelo que é dito verbalmente? No dia-a-dia só entendemos os outros pelo que eles nos dizem verbalmente? Não, nós não comunicamos só assim; comunicamos também por gestos, por sinais. A Liturgia - especialmente a Divina Liturgia e a Missa Gregoriana - são muito ricas em símbolos. Cada gesto está carregado de grande significado; nada é deixado ao acaso. Uma pessoa que viva a sua fé e que tenha uma boa catequese percebe [neste caso uso deliberadamente o verbo perceber, e não entender, por questões etimológicas] o que se está a passar. Nós não somos apenas seres espirituais presos em prisões materiais (isto é platonismo, não cristianismo); somos também seres corporais/materiais. O que fazemos com o nosso corpo afecta a nossa alma. A Liturgia interage com os nossos sentidos: escutámos a Palavra; tocámos/provámos o Corpo de Cristo; cheirámos o incenso; vêmos os gestos que o presbítero e a congregação - a nossa corporalidade (se é que essa palavra existe) é que nos permite interagir com o divino. Dizer que ir a uma Liturgia não vale a pena se não percebermos o que é dito é ter uma visão muito limitada da "experiência eucaristica".
  • A questão do saber o que se está a passar leva também a perguntar: porque vamos à missa? Ouço muitas vezes comentários do tipo "não senti nada nesta missa" ou "não consegui trazer nada desta missa" ou outros quantos do mesmo género. E pergunto-me se por acaso a mentalidade do consumismo não nos afectou a tal ponto de até considerarmos a Liturgia como um produto. Fica-se com a sensação de que as pessoas querem uma Liturgia à sua medida e que se não se sair de lá com alguma coisa que então não valeu a pena (curiosamente, na Quarta-feira de Cinzas e Domingo de Ramos - dias em que se recebem sacramentais para trazer para casa - encontro sempre mais gente na Missa do que o costume; coincidência?). Verdade é que na Liturgia recebemos a Palavra e Corpo de Cristo, e que estas servem para nos alimentar, mas não é necessariamente por nós que vamos, mas sim pelo Senhor nosso Deus. A Liturgia é um acto cujo foco é exterior a nós, não interior. Se não estámos ali como um só corpo essencialmente para louvarmos a Deus, o que estámos lá a fazer? A quem estámos a prestar culto? A Deus ou a nós mesmos? Ir à missa é mais do que ir por sentimentos piedosos ou para nos sentirmos bem consoco mesmos (até porque Cristo põe o dedo na ferida e desinstála-nos do nosso bem estar, do nosso contentamento conosco mesmos); é irmos mesmo que não nos aptece ou nos sintámos tépidos porque sabémos que devemos lá estar. E devemos lá estar se professamos amar a Deus sobre todas as coisas.

Por hoje deixo estes pensamentos.

2009/11/20

Maravilhar-se

Dia sim dia não vem ao meu local de trabalho uma bebé com quase dois anos. Tenho-a visto crescer ao longo de quase um ano e tenho-lhe um amor enorme, como se de minha filha tratasse. Sempre que posso brinco com ela. Acho que nunca vi uma criança tão pequena e tão cheia de vida e de felicidade, com quem tantas pessoas se alegram ao ver-la. Custa-me muito acreditar que há pessoas que desgostem de crianças, que até as considerem impedimentos à sua liberdade, ou "um erro" (às vezes indo até ao ponto de lhes negar a vida).

Mas mais do que isso, "invejo" a esta pequena a sua simplicidade. Não que ache que a vida é demasiada complexa (e talvez até seja, nem que seja por nós a tornarmos assim) e que voltar a uma idade mais "simples", onde não existiam as "preocupações da vida", resolveria tudo; isso seria escapismo. O que lhe invejo da sua simplicidade é a capacidade de se maravilhar com qualquer coisa, nomeadamente as coisas mais simples da vida. Penso que essa capacidade de saber maravilhar-se com a vida é o que lhe dá sabor. Parece-me que à medida que nos vamos tornando "adultos" que perdemos esta capacidade, esta simplicidade. Já não nos basta um carro, mas tem que ser um carro XPTO; não nos basta ir ao campo, mas tem que ser as férias ao lugar mais na moda e exótico ; é a televisão XPTO, com 1001 canais em HD; tem que ser um filme com efeitos especiais que quase nos provocam um ataque epiléptico senão não tem piada - a lista é interminável. As coisas mais simples, mais básicas, depois acabam por passar despercebidas: uma boa amizade; um bom livro; uma tarde passada sem fazer nada senão a olhar o céu - em suma, maravilharmo-nos com aquelas coisas que o nosso Pai nos deu, que Ele próprio criou. Disse uma vez um célebre escritor inglês que uma criança não se maravilha tanto com o facto de lhe dizerem que está um dragão atrás de uma porta, mas com facto de que essa porta abre. Talvez estejamos enganados no que diz respeito a ser "adulto"; talvez quem realmente seja adulto é aquele que consegue manter aquela simplicidade de criança, de se maravilhar com a vida.
Que diferença nós Cristãos não faríamos no mundo se reencontrássemos essa capacidade de se maravilhar. Quase que me atrevo a dizer que é nossa obrigação. Não disse o Senhor que "quem não se fizer como criança não entrará no reino dos céus"? (Mat 18,3)

2009/11/19

Ideias soltas

Mais uma vez o ano liturgico aproxima-se do fim e o Advento está à espreita. Cada vez mais, aquando destes grandes períodos de celebração/oração, sinto a falta de "ser Cristão". Começo sinceramente a odiar a atitude que muitos (eu incluído) tomam, a atitude de "Eu e Jesus, e Jesus e eu, e o resto é só um acrescimo; não preciso de mais ninguém". Cada qual vai à Missa, seguindo o seu caminho mal acaba e talvez até esquecendo-se do que foi lá fazer mal sai porta fora, não existe vida paroquial, etc. Afinal que culto presto eu sozinho? Aliás, como posso viver como Cristão sozinho? O culto, a celebração, a oração, tudo isto só faz sentido dentro da Igreja. Se eu não tenho vida dentro da Igreja, em comunhão e em comum com todos, afinal que vida é a minha?

2009/11/18

Porque nunca se sabe se haverá algum portugués com vocação monástica Oriental, fica aqui o link de uma das poucas comunidades monásticas bizantinas na Itália: http://www.abbaziagreca.it/en/index.asp

2009/11/09

Acreditas?

Já várias vezes que me perguntam "Acreditas em alguma coisa?" ou "Acreditas em Deus?", e confesso que nunca percebo onde é que se quer chegar com essa pergunta. Por causa disso respondo sempre a mesma coisa: "O que entendes por acreditar?"
Tanto quanto sei, acreditar tem dois significados. Um deles diz respeito a coisas (sejam elas pessoas ou não) que nunca vimos ou experimentámos. Neste sentido não acredito na cidade de Nova Iorque porque já lá estive; sei que existe.
Outro sentido de acreditar tem a ver com confiança (o que, de certo modo, acaba por estar relacionado com o sentido anterior). Quando acredito em alguém, quer dizer que, grosso modo, tenho confiança nessa pessoa.
Acreditar em Deus? Acredito que Ele existe embora nunca O tenha visto (pelo menos não directamente). Creio que muita gente acredita dessa forma, seja no Deus de Abraão, Isaac e Jacob, seja num conceito vago de "Deus". E acreditar nas suas promessas? É uma pergunta que acho que poucas vezes realmente pomos a nós mesmos...

2009/11/07

Qualquer semelhança é pura coincidência...



A primeira foto é de freiras Carmelitas; a segunda de freiras Ortodoxas... é impressão minha, ou há uma semelhança assustadora na forma dos hábitos?!

Thérèse

Vi ontem um filme sobre S.ta Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. É um filme francês, de 1986 realizado por um tal Alain Cavalier. O filme é muito minimalista, com cenário muito esparso, mas consegue transmitir bem os rigores da vida no Carmelo, assim como o sofrimento e a dor na vida das personagens (para não falar da parecênça assustadora da atríz principal com a própria Thérèse). Anteriormente tinha visto um filme sobre a mesma santa, um filme americano de 2007, mas que faz a minha querida Teresinha parecer uma tóto. O filme quase que me fez entrar em coma diabético... Este, em contraste, é mais sóbrio, e, portanto, creio que transmite melhor a espiritualidade desta grande "alma pequena".
Ultimamente ando numa onda "Teresina": andei a ouvir alguns mp3s sobre a sua vida e espiritualidade, e agora ando a ler a sua auto-biografia "A História de uma Alma". Há qualquer coisa de cativante nesta santa, e creio que será a sua simplicidade. Apesar de não morrer de amor pelo seu estilo de escrita (a sua auto-biografia parece realmente ter sido escrito por uma criança), a "História de uma Alma" tem muita profundidade desde que se consiga olhar para além do estilo.
De qualquer maneira, recomendo vivamente tanto o filme como a auto-biografia desta minha querida Teresinha.