2009/04/28

Hoje decidi rezar um salmo de manhã, para ver o que Deus me tinha para dizer neste momento. Escolhi o primeiro salmo, pois ainda só conheço um ou outro e quero ver se os venho a conhecer a todos. Deste salmo, trouxe comigo o dia inteiro o seguinte versículo:

É como a árvore plantada à beira da água corrente:
dá fruto na estação própria
e a sua folhagem não murcha [...]
(Sl 1,3)

Penso que nunca é suficiente recordar-me que, desde que ande pelos caminhos do Senhor, custe o que custar, que Ele não me desamparará e me sustentará quando mais precisar d'Ele. Quanto à folhagem que não murcha, será que eu transmito a "verdura e vivacidade" que vem de esperar em Deus, de ser alimentado por essa fonte de águas vivas? Deus me dê graça para melhorar nesse aspecto.

2009/04/26

Pensamentos soltos

As vezes pergunto-me se realmente tenho noção do que se passa na Missa, do que ela realmente é. Quantas não são as vezes que me distraio: ou ponho-me a pensar em coisas que não têm nada a ver, ou então distraio-me com o que se passa ao meu redor. Tantas vezes me distraio. E então sou forçado a perguntar: realmente tenho consciência do que se está a passar? Penso que não, que de facto passa-me ainda um tanto quanto ao lado a grandiosidade e magnitude do que ocorre na Missa. Deus torna-se presente, sob pão e vinho; o Filho é mais uma vez sacrificado ao Pai, participando nesse momento da entrega há 2000 anos atrás. Esse sacrifício que o padre - o alter Christus - oferece nesse momento, de certo modo "comunga" com o "mesmo" sacrifício que fez na Missa do dia anterior, e em todos os dias anteriores, e em todas as Missas que se hádem realizar no futuro até à Parousia, e em especial com a entrega de Jesus na cruz. Tenho eu consciência disso? Tenho eu consciência de que também os anjos estão presentes, e que também participam? Não, ainda não me apercebi dessa realidade, pois se tivesse não me atreveria a distrair da maneira que distraio.
Não sei porquê, não me deixa de vir à ideia uma prática dos Judeus, no único dia em que o sumo -sacerdote entrava no "Santo dos Santos" do Templo: atavam-lhe uma corda para o puxar para fora, caso morresse lá dentro...

2009/04/24

Ontém vi um filme - Shadowlands: Dois Estranhos, Um Destino - que ainda anda a remoer cá por dentro. O filme trata da vida do autor inglês C.S. Lewis (Crónicas de Nárnia, Cartas do Inferno, etc.), mais especificamente da relação com a sua mulher e do modo como lida com a sua morte. Aconselho-vos a verem o filme, pois interpela-nos a questionar sobre o sofrimento do ponto de vista cristão. Como nota de advertência, antes de verem o filme sugiro que leiam um pouco sobre a vida do C.S. Lewis. Convem ver este filme tendo em conta que ele era Cristão, e que mesmo através do processo de luto nunca perdeu a sua fé em Deus. É que quem não conhecer minimamente a sua história, e dado a maneira "abrupta" como o filme termina, poderá ter uma interpretação completamente errada do filme. Deixo-vos a cena do filme que mais me tocou (no primeiro video desde 8:45 até ao fim; depois ver o segundo desde o início até 0:31). Só para contextualizar a cena: C.S. Lewis casa com a Joy pelo civil, apenas para ajudá-la a permanecer no Reino Unido, mas não conta a ninguém (daí o padre comentar que são "apenas amigos e que não se deveria preocupar tanto com os assuntos dela" ).



2009/04/13

Batendo na mesma tecla

Todos os dias faço os possíveis por me lembrar de duas coisas importantíssimas:

  • Que a qualidade da minha oração não depende da minha experiência subjectiva dela;
  • Que amar é um acto da vontade humana, não é um sentimento.
Quiçá, um dia não terei que me recordar destas coisas, pois já farão parte do meu ser. Assim peço...

Balanço

Este ano, pela primeira vez, realmente festejei a Páscoa. Apesar de estar quase a fazer dois anos que regressei à Igreja, o ano passado a Páscoa foi um pouco mal vivida. Por um lado, a época Quaresmal, sendo a primeira, não foi vivida não sua plenitude porque ainda não estava inteiramente dentro do seu significado; por outro lado, a época do Triudo Pascal também não correu muito bem pois passei-a doente.
Mas este ano tal já não aconteceu. Estando já mais informado sobre a Fé, e devido ao longo do último ano ter indo aprendendo a melhorar a oração, já consegui viver uma melhor Quaresma. Esta Quaresma, com o tempo dedicado à oração, ao jejum, e à esmola, aos poucos fui-me conhecendo melhor, iluminando certos aspectos da minha vida com a Cruz e descobrindo a necessidade de Jesus entrar onde eu antes pensava não ter necessidade d'Ele. Foi época também para perceber melhor o que é isto de Deus nos chamar a ser santos. O Triúdo também foi bem vivido. Foram dias de sentimentos "confusos": por um lado havia uma sensação de tristeza, devido à realização de ser co-responsável por todo o sofrimento do Senhor; mas por outro lado, sentia uma enorme alegria porque sabia que foi através desse sofrimento que Jesus venceu a Morte morrendo e nos deu a Vida. Na missa da Vigília Pascal fui invadido por uma alegria enorme, e enquanto se rezava a ladaínha dos santos, apercebi-me de que todos eles estavam ali em oração também connosco, que a Igreja Triunfante estava unida à Igreja Militante em oração e celebração. Aproveitei também para rezar pelos meus "antigos" colegas de preparação para o Crisma que deixei do outro lado do oceâno, que nessa noite muitos deles eram recebidos no seio da Igreja.
A única coisa a lamentar é que em casa não se viveu a Páscoa. Gostaria que todos pudessem ter partilhado comigo a alegria daqueles dias, da esperança que a Ressureição me transmite. Gostaria que pudessem ter vivido o que eu vivi. Apesar de ter sido um dia de almoço em família, foi apenas "mais um dia". É um pouco irónico que à medida que os anos foram passando e o dia foi perdendo mais e mais o "sentido" para a minha família (se é que alguma vez o teve), para mim tem vindo a acontecer o contrário. Mas mais Páscoas virão e, se Deus quiser, com eles Deus me ajudará a transmitir o seu verdadeiro sentido à familia, para que eles também possam acreditar, amar a Cruz, e encontrar repouso em Cristo.

2009/04/11

Christus resurrexit!










2009/04/08

Exame de consciência original

Nunca deixo de me surpeender com os ficheiros audio que encontro no Sonitus Sanctus . Dentro do tema do Ano Paulino, tenho andado a ouvir os mp3 que esse site dispõe acerca de São Paulo e das suas epístolas. Num desses mp3, em que um padre dava umas aulas a tentar explicar o enquadramento histórico das epístolas, sugeriu uma forma bastante original para uma pessoa fazer um exame de consciência. Ia o padre na 1ª carta das Coríntios quando chegou ao famoso capítulo 13. "Sugiro-vos" -disse ele - "que, onde esteja a palavra 'amor', a substituam com o vosso nome, e que leiam depois do versículo 4 ao 7 dessa forma. É uma experiência interessante para um exame de consciência." Ele próprio começou a fazê-lo em voz alta e logo no 1º versículo que disse começou a rir, pois ele próprio admitiu que tinha grandes falhas logo ali. Como ele fez, também deixo eu aqui a sugestão. Quiçá os frutos que não poderá dar a cada um?


4O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
1Cor 13,4-7

2009/04/05

Na multidão

Hoje começou a Semana Santa, uma semana que tem tanto o seu quê de alegria como de tristeza (daí talvez o porquê do que se avizinha se chamar o "mistério pascal"). Todo este período da Quaresma - de jejum, oração, e esmola - tem nos vindo a conduzir/preparar para o próximo Domingo. Avizinha-se a Páscoa, a celebração por excelência dos Cristãos. É esse o dia que confirma a nossa fé, que nos dá esperança, pois se Cristo não ressuscitou diz o Apóstolo que "somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Cor 15, 18). Talvez os 2000 anos que já passaram possam ter arrefecido, para nós, um pouco os ânimos daquele fatídico e, ao mesmo tempo, glorioso dia. Imaginem o que não teria sido estar alí, naquela altura, em que Deus veio ao mundo e foi morto pelos homens, mas também morto para eles. Qual o escândalo, qual a alegria, qual a confusão!

Das duas leituras do Evangelho possíveis para a Liturgia de hoje, a que foi lida na igreja onde fui foi a da Paixão. E enquanto escutava a leitura, que falava da multidão que escarnecia de Cristo, que o insultava e amaldiçoava, lembrei-me da leitura alternativa - da entrada triunfal de Jesus em Jerusalem. Também ali havia uma multidão. Essa multidão estava ali para receber o seu Messias, com toda a pompa e circunstância. E no entanto, quer-me parecer, que não seriam poucos os que aclamaram Jesus na sua entrada que depois estariam juntos novamente para o negarem, para o ridicularizarem, para o escarnecerem. É caso para pensar se às vezes não serei eu também um desses, mais um no meio da multidão...


E isto mexeu comigo. Fez-me pensar em como vai o mundo actualmente. A crise financeira vai tendo as suas repercuções principalmente a nível económico e social. O que aconteceu foi que finalmente se começou a reparar no elefante que estava no meio da sala e que ninguém queria admitir que estava lá. Não é algo que aconteceu de um momento para o outro, mas algo que já vem desde há bastantes anos, crescendo até se tornar grande o suficiente para já não se poder negar. Fála-se numa crise financeira, e haverá que resolvê-la com técnica. Quer-me parecer que isto é uma visão demasiado superfícial do problema. Mais do que uma crise financeira, estámos perante uma enorme crise moral, e não será apenas a técnica que conseguirá resolver o problema (se fôr esse o caso, mais cedo ou mais tarde voltaremos ao mesmo). Culpam-se o "grandes interesses económicos" e o egoísmo de alguns (ou de muitos, quiçá), e justamente. Mas não é só culpa dos outros. Não será tanto (ou talvéz até mais!) a culpa de nós Cristãos por não estármos à altura de Cristo? Não estaremos nós demasiado acomodados ao mundo que nos rodeia? Realmente vivemos aquilo que professámos? Quer-me parecer que talvez não tenhamos dado testemunho da nossa fé... É caso para pensar...