2010/04/05

O Fim

Pois bem, depois de um ano e meio este blog chega ao fim. Foi uma experiência interessante, e até gostaria de a continuar, mas acho que está na hora de lhe pôr termo. Quando comecei este blog, tinha vários propósitos em mente. Um deles era dar a conhecer tradições Católicas (Romanas) "perdidas", dar a conhecer um pouco a Missa Gregoriana, e com isso ajudar-nos a redescobrir a nossa identidade enquanto membros do Corpo Místico inserido numa Igreja particular. Também desejava dar a conhecer as outras Igrejas Católicas. Passado este ano e meio, dado a afluência (ou melhor, a falta dela) acho que não cheguei a concretizar nenhum destes dois propósitos.

Mas outro motivo - e talvez o motivo - que me leva a terminar este blog é o anonimato, a privacidade. Se a Internet tem algo em abundância é gente opinada. E dado essa abundância, não precisa de mais um opinado, especialmente para "teologia de sofá". De certo modo, este blog tornou-se demasiado pessoal. Aos poucos uma espécie de vaidade foi-se infiltrando aqui: o desejo de pôr as minhas ideias cá fora e ter gente a concordar foi ganhando terreno. Isso é algo que não quero. Já tenho bastantes coisas com que lutar interiormente para estar a acrescentar mais batalhas. Ao se tornar um blog demasiado pessoal também perdi um pouco o anonimato que sempre desejei. Se há uma coisa que sempre quis, foi poder passar pela vida sem que fosse notado. Escrevendo coisas que ficam na Internet, acessível a todos (talvez para sempre), não é das melhores maneiras de manter esse anonimato. Portanto regresso ao silêncio. Espero não vos ter maçado muito com as minhas divagações, e que ao menos possam ter tirado qualquer coisa, por mais pequena que fosse, de proveito daqui. E que todos continuem no caminho de Cristo. Feliz Páscoa a todos!




Χριστός ἀνέστη! Ἀληθῶς ἀνέστη!

2010/04/03

Exsultet


Das várias versões do Exsultet que já ouvi, esta é das minhas favoritas.

2010/04/01

Sexta-feira Santa





«Mas foi ferido por causa dos nos­sos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu so­bre ele, fomos curados pelas suas chagas.» (Is 53, 5)

Vale a pena ler o 53º capítulo de Isaías hoje.

Desabafos

Às vezes questiono-me se outras pessoas se preocupam em pertencerem a algo com continuidade. Eu não sou uma ilha; não vivo isolado. Não me defino em relação a mim mesmo. "Diz-me com quem vives e dir-te-ei quem és" diz o velho adágio, e cada vez mais me convenço da verdade desse ditado. Os meus amigos ajudam a definir-me, mas só eles não são o suficiente para eu saber quem eu sou. Estou inserido num país, num cultura, e isso também me ajuda a definir a mim mesmo. Eu sou parte de algo maior, a minha vida encontra-se inserido em algo que vai muito para além da minha simples e finita existência material. Sou sustenido aos ombros dos que vieram antes de mim; hei-de servir para suster os que vêm. Nada é meu; tudo foi-me dado. Que seria de mim fora desta continuidade? Seria alguém sem um passado, e consequentemente alguém sem futuro. Não me invento a mim mesmo; não sou solipsista; não sou o meu próprio Deus. Às vezes sinto que o mundo moderno Ocidental está afectado desta loucura, de desejar liberdade como um fim em si mesmo. Deseja-se a liberdade total, até mesmo do passado. Deseja-se liberdade dos limites, esquecendo que são os contornos que dão forma e tornam as coisas inteligíveis. Deseja-se a liberdade de caminhar para o vazio, para a não-existência...
E assim também é a salvação: a minha depende de todos, e a de todos depende de mim. Ninguém se salva só, e todos só nos salvámos pertencendo ao Corpo d'Aquele que é maior que nós. É Ele que me liga a todos, e todos a mim.
+ Senhor, que eu consiga receber com humildade tudo o testemunho dos que vieram antes de mim, para que o consiga passar aos outros. +

2010/03/25

Artígo sobre a Divina Liturgia Ortodoxa Copta

O site New Liturgical Movement teve há dias um artigo interessante sobre a Divina Liturgia Ortodoxa Copta. Vale a pena ler, assim como ver os vídeos disponíveis.

2010/03/22

1 Cor 13

Uma versão pouco comum de 1 Cor 13, mas que queria partilhar com vocês.

2010/03/19

Esta semana tem sido uma semana bastante complicada. Nunca pensei que apenas estar com alguém que está a sofrer pudesse esgotar uma pessoa tanto. O pai de um amigo meu foi diagnosticado com uma doença terminal e tem pouco tempo de vida. Para complicar as coisas ainda mais, o pai está noutro país onde não poderá ter o devido acompanhamento médico nesta última fase da sua vida. Não sei o que fazer para tentar aliviar a sua dor, o seu sofrimento. Nada posso fazer senão rezar por toda a sua família, pedir a vocês que também rezem por eles, e estar presente para o que for preciso.
+ Senhor, tende misericorida de nós nesta hora de tribulação. +

2010/03/12

Sem comentários



Fonte





2010/03/11

Santa Maria do Egípto


Achei que não poderia deixar passar a Quaresma sem falar de uma santa por quem tenho uma particular devoção: S.ta Maria do Egipto. Viveu no séc. VI e podem ler sobre a sua vida aqui, aqui, e ainda aqui. As Igrejas Orientais, assim como os Ortodoxos iniciam a Grande Quaresma com leituras da sua biografia relatada por São Sofrônio de Jerusalem. Penso que não poderiam ter escolhido melhor figura para exemplificar este período Quaresmal. Espero que a sua vida venha a trazer frutos na vossa.




2010/03/03

Didache

Acho que referi que como leitura Quaresmal tenho andado a ler coisas patristicas. O primeiro texto que li foi o Didache, também conhecido como o "Ensinamento dos Doze Apóstolos". Digamos que é uma espécie de primeiro catecismo. Depois de andar a procurar pela net uma tradução em português para vos facultar, finalmente encontrei. Deixo aqui o link para poderem ler (o site permite baixar o ficheiro se se registarem gratuitamente). Espero que seja de muito proveito.

2010/03/01

Sabedoria do Deserto

Gosto bastante dos dizeres dos Padres do Deserto. Ontem cruzei-me com este em dois lugares diferentes, então decidi partilhá-lo com vocês; acho que é apropriado à este época da Quaresma. Diz S. Macário do Egipto:
«Isto é a marca do Cristianismo - não obstante o quanto um homem se esforça, e
não obstante os actos de rectidão que ele pratica, sentir que não tenha feito
nada, e jejuando que diga "Isto não é jejuar", e rezando que diga "Isto não é
rezar", e em perseverança na oração que diga "Eu não demonstrei perseverança;
apenas estou a começar a praticar e a esforçar-me"; e mesmo que ele seja justo
diante de Deus, deverá dizer "Não sou justo, não eu; eu não me esforço, mas
apenas faço um começo a cada dia.»

2010/02/26

Rezar com temor


Recordei-me esta semana, durante a minha convivência, das palavras que Abba Lazarus (o ermita da foto) disse no programa Extreme Pilgrim: que se uma pessoa se entender como um ícone da humanidade, que então temerá não rezar. Acho que começo lentamente a entender o que ele quer dizer com isso.
+ Nosso Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos. +

2010/02/24

Santo Serafim de Sarov

Como já devem ter notado, tenho um fraco pelas coisas que dizem respeito às Igrejas Orientais e aos Ortodoxos. Há um santo Ortodoxo (penso que também é reconhecido por algumas das Igrejas Orientais) que me captivou e que eu gostaria de partilhar com vocês. O seu nome é Serafim de Sarov, e podem ler um pouco da sua biografia no wikipedia. Deixo aqui também um relato seu, que penso ser a "sua obra" mais conhecida. É uma verdadeira fonte de riqueza espiritual. Bom proveito!
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Quero agradeço ao Teófilo, autor do blog Vivificat, pela dica.

2010/02/23

Laços

Ontem à noite foi muito agradável, para dizer o mínimo. Encontrei-me com uma amiga de longa data, dos velhos tempos do colégio. Por algum motivo que nos escapa, aquela instituição deixou uma marca indelével em todos nós, ligando-nos a todos. Viveram-se bons e maus momentos lá, mas creio que os bons superam de longe os maus. E mesmo que encontremos alguém que estudou lá num período diferente do nosso, há sempre uma ligação qualquer e cria-se logo uma familiaridade que quem não viveu aquele colégio não consegue entender.
Apesar de falarmos com alguma regularidade pela Internet, já não estava com ela há quase três anos. É incrível como o tempo passa por nós (ou será nós que passámos por ele?) e nem nos damos conta. Realmente não há nada como conviver com uma pessoa ao vivo, em carne e osso, em vez de através de cartas/e-mails/telefone/etc. Não que estes sejam maus, mas falta sempre qualquer coisa que só a presença física da pessoa pode transmitir.

Recordaram-se tempos idos, momentos que, apesar de longínquos, constituem o pano de fundo das nossas vidas. Mas também falou-se do tempo decorrido desde então, e das coisas da vida presente, do momento. Às vezes pessoas fora do contexto colegial perguntam-me porquê esta fixação com o pessoal daquela altura, para quê recordar; dizem para deixar as coisas estarem lá atrás, no passado, e não tentar viver lá. Apenas posso dizer que este relembrar não é uma tentativa de reviver o passado, de uma desilusão com o momento presente. A prova concreta disso é eu me interessar pela vida actual dessas pessoas que me são tão queridas, do querer partilhar a sua vida actual. O nosso passado comum é o alicerce desta nossa vida presente também em comum. E aqui as memorias vêm auxiliar a koinonia. Estabelecem continuidade entre o passado e o presente. O "cimento" fundamental da koinonia é o amor em Χριστός Ἰησοῦς, e através das memórias somos capaz, nos momentos mais difíceis, de recordar a presença d'Ele em tempos passados, que se viveram com os outros, e assim arranjar maneira de perseverar nas tribulações presentes, amparando-nos uns aos outros.
Memória. Eu lembro-me de ti; tenho uma convivência passada contigo ao longo do tempo; vou-te conhecendo; e em te conhecendo, aprendo a te amar, e isto ulteriormente porque reconheço através/em ti Aquele que me amou desde antes do tempo.
Estes são os meus amigos; estes são parte da minha família; estes ajudam-me a definir-me a mim mesmo. Como desejo com todo o meu coração poder-lhes dizer realmente o quanto os amo, o quanto as suas vidas realmente me são importantes, e quanto não desejaria poder ajudar a suportar as suas cruzes. Eles têm sido ocasiões de encontro com Deus, tanto do Seu amor como da Sua disciplina. Pudera eu, Senhor, vir a ser um Vosso ícone para eles.

Neste encontro deu para aprofundar melhor algo tenho vindo a intuir desde algum tempo para cá, e que já algumas pessoas comentaram comigo acerca do assunto: que é possível ver a Beleza de uma pessoa. Não estou a falar de beleza física, mas sim algo muito mais profundo, algo mais real mesmo que não seja material, que não seja palpável. Não consigo descrever o que é, nem como se reconhece; só sei dizer quando reconheço-o. Eu costumo dizer que é quase como se nós reconhecemos a bondade interior, da alma da pessoa; com quem já falei acerca do assunto, simplesmente dizem que é reconhecer a Beleza, que é Deus, que resplandece através da pessoa. É algo que parece emanar da pessoa, e curiosamente (embora este não tenha sido o caso) parece-me que se nota mais quanto menos favorável forem determinadas circunstâncias para as pessoas em quem eu me apercebo de tal.

Um noite verdadeiramente cheia. Um momento realmente vivido. Só temos o presente para viver, o presente para nos convertermos.

2010/02/22

Nestes últimos dias chamaram-me a atenção para algo de que eu desconhecia por completo e que gostaria de partilhar com vocês. Não sei quantos de vocês já assistiram a leituras cantadas durante a Missa. Eu já assisti a algumas (na tradição Bizantina isto é mais comum do que na tradição Romana) e várias vezes me questionei quanto a lógica de o fazer. Não que não goste (prefiro-o até à leitura "normal" por questões estéticas), mas não entendia como é que uma pessoa é suposto perceber o que está a ser lido se essa leitura é cantada. Também me fazia um bocado de confusão de em tempos passados as leituras serem, no rito Romano, em Latim. Mas alguém esclareceu-me em relação a estes pontos.
Quanto à leitura ser em Latim, havia o costume de se fazer uma leitura no vernacular antes da homilia ou então depois da Missa (imaginem isso hoje em dia - pessoas a ficarem depois da Missa!), dentro ou fora da igreja, com a respectiva homilia. Mas qual a lógica disso, perguntam vocês? Está, a meu ver, intimamente relacionado com o facto de se fazerem leituras cantadas. É que as leituras eram cantadas porque a leitura era visto como uma oração em si (isto dentro do contexto da Missa)!!! Ao contrário do que se passa hoje, as leituras não eram suposto terem como função serem devoções privadas tipo Lectio Divina. Essencialmente elas são encaradas assim na Missa actual: uma espécie de Lectio Divina, como funções catequéticas; isso é uma das razões que levou à inclusão de mais leituras no missal, de modo a que agora haja três ciclos liturgicos para os Domingos e dois para os dias de semana, em vez de um só, como antigamente. Como diz um conhecido meu (e diz muito bem): tradições são baseadas nos rítmos do ano. Com apenas um ciclo de leituras, as pessoas familiarizavam-se mais com as leituras, havia "Domingos de...", e existiam hinos apropriados para cada altura. Mas como dizia, as leituras faziam parte do próprio culto. E esta, hein?

2010/02/19

Quarta-feira de Cinzas

Chegou mais uma Quarta-feira de Cinzas.; mais outra Grande Quaresma. A Igreja oferece-nos todos os anos este período de preparação, mas nunca parece ser suficiente, o tempo nunca parece chegar, etc. Mais uma vez notei que a igreja estava excepcionalmente cheia, o que acho curioso num dia que não é considerado dia de obrigação. Continuo a não perceber porque é que se adiam dias de obrigação ou festas maiores para o Domingo quando calham durante a semana, justificando assim com uma maior presença dos fieis, se num dia a meio da semana as igrejas repentinamente encontram-se repletas... Mas enfim, já estou a divagar.

O Salmo responsarial foi, como não podia deixar de ser, o Salmo 51(50), o Miserere. Penso retratar bem o espírito que deve habitar em nós especialmente nesta altura da Quaresma.

Gosto particularmente da imposição das cinzas; os nossos irmãos Orientais e Ortodoxos não a têm. «Convertei-vos e crede no Evangelho» e «Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás», são estas as palavras que ouvimos ao recebê-las. Palavras que nos devem acompanhar todos os dias. É deveras curioso notar que num país tradicionalmente Católico alguém a andar pela rua com as cinzas na sua testa seja alvo de atenções indesejadas. Sinais do tempo, quiçá. Antes de terminar acho que nunca é de mais relembrar: a Quaresma não é uma época para embarcar pelo Pelagianismo. Não é sobre o que EU consigo fazer, nem o que EU consigo mudar. É um tempo de reparar no que eu não consigo fazer nem mudar sozinho, que essencialmente é tudo. É um tempo especialmente dedicado para nos preparamos para o grande Mistério da Cruz.

2010/02/16

Leitura Quaresmal

Estamos à porta da Grande Quaresma! Para quem pertença às Igrejas Orientais, ou então siga o Missal pré-conciliar, a Quaresma já começou de modo não-oficial (no último caso, começou há três Domingos atrás, com o Domingo da Septuagésima). Começa amanhã, para nós Latinos, um período de preparação para o acolhimento do mistério central da nossa fé - a Ressurreição de Cristo (vão-me perdoar se daqui para a frente usar a expressão ὁ Χριστὸς - ho Christos - no lugar de "o Cristo", mas gosto da maneira como soa em grego; é uma pequena idiossincrasia minha, portanto tenham paciência comigo). Começa agora um período de muito jejum, oração, e esmola. Vamos preparar as nossas almas para no Domingo de Páscoa podermos dizer como toda a confiança aquele cântico pascal "Cristo ressuscitou de entre os mortos, vencendo a morte pela morte, e para aqueles no sepulcro Ele deu vida!"
Quero apenas salientar que aqui no Ocidente perdemos a noção do jejum, do seu verdadeiro significado. O jejum não é só abdicar de qualquer coisa, nem é meramente um acto indivídual isolado do resto da Igreja. Para recuperarmos um bocadinho o verdadeiro sentido do jejum, deixo aqui umas sugestões patrísticas para a vossa leitura quaresmal, com outras sugestões também. Aviso desde já que os textos estão em inglês; se conseguirem encontrar textos dos Padres em português, melhor.

Uma santa Quaresma para todos vós!


Antífonas do Ó

O tempo não me permitiu fazer esta entrada atempadamente. Apesar de já ter passado o Advento não queria deixar de chamar a atenção para uma tradição liturgica que decorre do dia 17 a 23 de Dezembro. Este período é conhecido no rito Romano como o período das Antifonas do Ó. Durante este período a antífona do Magnificat, que se reza durante as Vesperas, vai alterando todos os dias. Todas as antífonas - são 7 ao todo - começam por invocar Jesus, embora nunca pelo nome, mas por vários títulos. Remontam ao tempo do Pápa Gregório o Magno (cerca ano 600). São em Latim, e são inspirados em textos do Antigo Testamento que proclamam o messias. Em cada antífona Jesus é invocado, sequencialmente, como: Sabedoria, Senhor, Raíz, Chave, Estrela, Rei, Emmanuel (o que em Latim dá: Sapientia, Adonai, Radix, Clavis, Oriens, Rex, Emmanuel). Lendo do último para o primeiro, as iniciais escrevem um acróstico em Latim "Ero cras", que quer dizer "Virei amanhã" - é uma proclamação do Senhor que vem. Seguem as antífonas, em Latim e com tradução, entre parentes com as principais referências do Antigo e Novo Testamento:



Die 17 Decembris
O Sapientia

quæ ex ore Altissimi prodisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviter disponensque omnia:
Veni ad docendum nos viam prudentiae


17 de dezembro
Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo (Eclesiástico 24:5),
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade (Sabedoria 8:1):
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência (Proverbios 9:6).


Die 18 Decembris
O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento


18 de dezembro
Ó Adonai (Exodo 6:2, Vulgate)
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moises na chama do fogo
no meio da sarça ardente (Êxodo 3:2) e lhe deste a lei no Sinai (Êxodo 20)
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço (Êxodo 15:12-13).


Die 19 Decembris
O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare


19 de dezembro
Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos (Isaías 11:10),
em cuja presença os reis se calarão (Isaías 52:15)
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais (Habacuque 2:3).


Die 20 Decembris
O Clavis David

et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis


20 de dezembro
Ó Chave de David (Isaías 22:23)
o cetro da casa de Israel (Génesis 49:10),
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte (Salmo 107: 10, 14).


Die 21 Decembris
O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.


21 de dezembro
Ó Oriente (Zacarias 3:8; Jeremias 23:5),
esplendor da luz eterna (Sabedoria 7:26) e sol da justiça (Malaquias 3:20)
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte (Isaías 9:1; Lucas 1:79).


Die 22 Decembris
O Rex gentium

et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem limo formasti


22 de dezembro
Ó Rei das nações (Jeremias 10:7)
e objeto de seus desejos (Ageu 2:7),
pedra angular (Isaias 28:16)
que reunis em vós judeus e gentios (Efésios 2:14):
Vinde e salvai o homem que do limo formastes (Génesis 2:7).


Die 23 Decembris
O Emmanuel,
Rex et legifer noster,
exspectatio gentium,
et Salvador earum:
Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster


23 de dezembro
Ó Emanuel (Isaías 7:14),
nosso rei e legislador (Isaías 33:22),
esperança e salvador das nações (Génesis 49:10; João 4:42),
Vinde salvarnos,
Senhor nosso Deus (Isaías 37:20).





Fonte: Chiesa
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Embora não relacionado (ou talvez até sim?), existia na peninsula Ibérica uma festa a dia 18 de Dezembro em honra da Anunciação. Isto passou-se no século VII, e era uma particularidade aqui da peninsula, para destacar a Anunciação que geralmente cai dentro da Quaresma. Aconteceu mais tarde haver necessidade de voltar a adoptar as práticas da Igreja de Roma, portanto a Anunciação foi "devolvida" para o dia 25 de Março. Em consideração à devoção popular, esse período do dia 18 até à Vespera de Natal passou a ser considerado na Península "As Esperanças do Parto da santa Virgem", mais vulgarmente conhecido como "Nossa Senhora do Ó". Donde vem este nome tão caricato? É que a antífona nesse dia começava por "O Virgo Virginum" e no final das Vesperas o coro largava um grande suspiro "Ó", exprimindo a desejo da vindo do redentor. Parece que esta tradição ainda se mantem viva em Espanha, onde uma Missa Alta é celebrada todas as manhãs durante a oitava e em que todas as mulheres que estão de esperanças devem assistir em honra da maternidade de Nossa Senhora e para pedir a sua benção para elas mesmo.

2010/02/12

Eficácia

S.to António é mesmo eficaz. Tinha perdido os meu par sobresselente de óculos de uma maneira estúpida (meti-os em cima da capota do carro e esqueci-me deles lá). Voltei ao local do crime, corri tudo com várias pessoas e nada. De repente lembrei-me de um assunto sobre o qual ainda hoje tinha estado a falar: a intercessão de S.to António de Pádua para encontrar objectos perdidos. Apesar de não saber a oração que as pessoas geralmente conhecem recorri a algo improvisado (afinal, a intenção é que conta). E não é que uma horas depois alguém encontrou os óculos na rua e vieram parar ao meu local de trabalho? Ah, meu rico Toni!!!!


Koinonia

Durante muito tempo questionei-me quanto ao porquê de eu por tanto valor na amizade; mesmo durante os meus dias de pagão insistia na importância amizade (quem me conhece pode atestar esse facto; acho que até chegava a ser irritante quando falava sobre o assunto :-D). Um amigo, dizia eu - e ainda digo -, é alguém que amámos com todo o nosso coração, e mesmo que nos chateemos com essa pessoa (ou vice versa), fazemos tudo por reestabelecer a relação. Um amigo é família; às vezes até mais família do que os do nosso próprio sangue. O que me levava a ter tão elevada opinião da amizade já nessa altura? Não sei. Seria o facto de eu ter devorado vorazmente tantos contos enquanto criança? Seria que procurava compensar algo que não conseguia encontrar no seio familiar? Talvez vislumbrasse já nessa altura, devido a todas as circunstâncias que já mencionei aqui e outras que de momento me escapam, um lampejo da Verdade sem o saber. O Senhor realmente me foi chamando por todos os caminhos e mais alguns...
Mas já divago. Amar os amigos. Devia-se poder dizer sem preconceitos nem medo aos nossos amigos "Amo-te". Nessa altura pensava que só dizendo-o verbalmente tinha significado. Claro que nem pensava no facto de eu considerar uma pessoa "amiga" (e eu sou muito comichoso em chamar uma pessoa amiga; quem me conhece sabe que uso com mais frequência palavras como "colega" e "conhecido"; "amigo" uso com bastante reserva) e essa pessoa nem me considerar ao mesmo nível. Ingénuo. Ó ingenuidade! Nem eu ainda me tinha apercebido o quão temíveis são essas palavras - "Amo-te"; temíveis tanto para quem as diz como para quem são dirigidas. Acho que ouvir uma pessoa que conhecemos dizer que nos ama deixa-nos sempre um pouco desconsertado inicialmente. "O que é que este quererá", "isto não é normal", etc. Estamos tão habituados a ser magoados e a magoar que acabámos por nos por sempre na defensiva. Andamos semeando a Morte que nos fechámos à Vida, ainda para mais a Vida gratuita. Alguém não nos poderá amar sem nenhum motivo... ou pode? Então descobri que se dizê-lo verbalmente pode causar escândalo (não no sentido teológico da palavra, mas sim no mais vulgar), que pode-se dizê-lo de outras formas, nos gestos mais simples da vida.
E meti-me a pensar nestas coisas da amizade, e perguntei-me sobre o que seria isto de estarmos em comunhão com Deus e com os outros. Afinal, nós Cristãos pomos muito ênfase em Comunhão. Todas as nossas relações devem ser um reflexo da nossa relação com Deus; a relação Trinitária é o arquétipo de todas as outras. Se eu de facto amo o meu amigo, poderei estar em comunhão com essa pessoa? E o que significa isso? Corrijam-me se eu estiver errado, mas é isto que creio ser communio/koinonia:
Estar em comunhão com alguém é quer participar na vida dessa pessoa. É querer partilhar as suas alegrias e suas dores; apropriá-las de certo modo. É uma interpenetração de vidas sem que se perca a individualidade. "Deixa-me ajudar-te a carregar a tua cruz." "Sou fraco; ajuda-me com a minha quando já não consigo mais." "Conhece-me." "Deixa-me conhecer-te." "Estou feliz; deixa-me compartilhar essa alegria contigo." "Reconheço Cristo a actuar através de ti." Penso que são fundamentalmente estas as coisas que fazem parte da comunhão com os outros. A comunhão acaba depois por encontrar a sua plenitude na união com Deus.
Um coração que anseia amar e ser amado. Penso ser este o impulsor fundamental de todas as nossas vidas, mesmo que tenhamos medo de amar.
+ Senhor, purifica o meu coração. Que eu ame os demais livremente, livre das inseguranças, dos receios, dos logismoi. Que eu saiba amar com todo o coração, um coração contrito, um coração que sente. Senhor, dá-me a graça de poder amar como o teu Filho, que amou tanto até ao ponto de dar a vida pelos que ama. Sei que ainda não entendo completamente aquilo que Te peço, mas ajuda-me através do Teu Espirito a perceber. Isto peço em nome de Cristo Jesus. Amen +

2010/02/03

Árido (II)

Silêncio, simplesmente silêncio. Não que se tenha feito silêncio na minha cabeça ou no meu coração (os logismoi continuam a se manifestar das mais variadas formas, como sempre). Falo é do silêncio que me parece ser o silêncio de Deus. Todas as consolações repentinamente desapareceram. Parecia-me que toda a criação me queria falar, que algo estava na iminência de se revelar, e sem aviso o crescendo deu lugar a um anti-clímax. Já nada me fala d'Ele por si só; já não se sente o fogo interior. Silêncio. Aridez. Nem uma brisa suave.
Todavia, não me sinto abandonado. Ainda existe o desejo de O procurar, de me entregar a Ele, mesmo que não receba as "recompensas". Mas isso não implica que não custe...


2010/02/02

Grego Koiné

Fica aqui o link para quem esteja interessado em aprender Grego Koiné. É gratuito!

2010/02/01

Árido

É assim que me tenho sentido - árido.

2010/01/23

Proposta de meditação

Falava o outro dia com um amigo sobre o que significa encontrar Deus à nossa volta. Ele lançou por acaso o verso relativo à passagem de Deus por Elias (digo por acaso porque ele acabou por não explicar nada). Já há algum tempo que esse verso me intrigava, mas nesse momento também não pensei mais no assunto. Ontem veio-me à ideia os discípulos a caminho de Emaús e pareceu-me, embora fugazmente, que estes dois episódios estão intimamente ligados. Deixo aqui as passagens relevantes para meditarem sobre elas. A seu tempo colocarei aqui os frutos da minha (i.e., depois de a fazer, que ando um pouco para o preguiçoso ultimamente... :-D). Entretanto gostava que partilhassem os vossos frutos.

« O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na pre­sença do Senhor; eis que o Se­nhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impe­tuoso e violento, que fendia as mon­tanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. De­pois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Disse-lhe, então, uma voz: «Que fazes aqui, Elias?» » (1Rs 19,11-13)

« Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer.

Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!» Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responderam-lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que se deram estas coisas. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia. Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.»

Jesus disse-lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito.

Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» » (Lc 24,13-32)


2010/01/22

Família

Deixo aqui uma lista de todas as Igrejas em comunhão com Roma, Igrejas sui juris. Somos todos família, portanto convém estar cientes de existência dos nossos familiares (somos 23 ao todo, já com a Igreja Romana!). São elas:

Rito Caldeu:
  • Igreja Siro-Malabar;
  • Igreja Caldeia;
Rito Alexandrino:
  • Igreja Copta;
  • Igreja Etíope;
Rito Antioqueno:
  • Igreja Maronita;
  • Igreja Siríaca;
  • Igreja Siro-Malancar;
Rito Arménio:
  • Igreja Armena;
Rito Bizantino (Divina Liturgia):
  • Igreja Albanesa;
  • Igreja Bielorussa;
  • Igreja Búlgara;
  • Igreja Croata;
  • Igreja Bizantina;
  • Igreja Húngara;
  • Igreja Italo-Albanesa;
  • Igreja Macedónia;
  • Igreja Melquita;
  • Igreja Romena;
  • Igreja Russa;
  • Igreja Rutena;
  • Igreja Eslovaca;
  • Igreja Ucraniana
Para cada uma destas Igrejas Católicas existe uma correspondente na Igreja Ortodoxa, menos no caso dos Maronitas.

Conversas

Conversar com os amigos é sempre interessante. Quase sempre aprendemos qualquer coisa, e com um bocadinho de sorte esse "qualquer coisa" é algo sobre nós mesmos.

Durante o jantar ontem falava com uma amiga sobre como para se chegar a determinados objectivos "em nome da liberdade" se minou o conceito de família e casamento de forma incremental. Incrementalismo é insidioso; como o próprio nome indica, são dados passos tão pequenos em terminado rumo que eles parecem desconexos até que ,quando finalmente chegamos ao objectivo, admiramo-nos como é que lá se chegou. Mas enfim, divago. Como dizia, falávamos sobre como se minou a instituição familiar. Abordou-se o acesso facilitado: primeiro ao divorcio, depois aos contraceptivos, depois ao aborto, e por aí fora.
Mas a conversa teve uma paragem abrupta quando mencionei o acesso facilitado aos contraceptivos. "Espera aí; eu estou a compreender bem?! Tu és contra isso?!" Foi mais ou menos algo nesta veia que eu ouvi. Que impedir o aparecimento natural de crianças é talvez grave, sim, nesse aspecto os contraceptivos são maus, admitiu a minha amiga; mas e em relação à prevenção das temíveis DSTs? Estaria eu disposto a defender uma ideia a ponto de deixar pessoas serem infectadas?!
Eu cada vez mais vou subscrevendo à ideia semítica de que o nome de uma coisa diz bastante sobre ela mesma, que nos diz qualquer coisa sobre a sua natureza. Ora contraceptivo quer dizer "contra a concepção". Ponto. Não vejo nesse nome mais nada que indique que seja função primária desses engenhos impedirem a transmissão de DSTs (até porque nem todos os fazem; veja-se o exemplo da pílula). Isso é algo que vem por acréscimo; um "efeito secundário", por assim dizer. Os contraceptivos têm como função primária impedir a gravidez - esse efeito nefasto e inconveniente das relações sexuais - incentivando assim a promiscuidade. "Mas diz que uma pessoa que nem seja promiscua uma noite saia e depois se acabe envolvendo com outra que não conheça. Aí já dá jeito, para prevenir." Bem, por onde começar? Para já, envolver-se sexualmente com desconhecidos faz parte da própria definição de promiscuidade; mas suponho que isso sejam picuinhices semânticas... Também o facto do aumento da promiscuidade estar correlacionado com a mutação de algumas DSTs é algo a ter em conta. Veja-se o caso do VPH, que depois origina o cancro cervical: segundo os estudiosos na matéria, este virus tem se tornado mais agressivo devido a mutações que têm vindo a sofrer, "curiosamente", desde da "revolução sexual".

São argumentos válidos, mas não era propriamente por aí que eu queria ir; não são necessariamente argumentos confessionais, embora possam eventualmente ser englobados nesse conjunto. Não, queria ver isto dum ponto de vista Cristão, já que é isso que eu e a minha amiga professámos ser. Alguém poderá dizer "a Igreja diz que não e tu vais atrás". Ora, estando em comunhão com a Igreja, devo estar em acordo com a sua doutrina (neste caso moral); é próprio do estar em comunhão. Mas mesmo sendo porque faz parte do ensinamento doutrinal, não é unicamente por causa disso. É algo mais fundo, que toca no âmago do ser-se Cristão. É uma questão de amor a Deus, mesmo que a pessoa ame tão imperfeitamente.
Amando a Deus, a pessoa deseja cumprir a vontade d'Aquele que ama. E essa vontade exprime-se amando e respeitando tanto a nós mesmos como os outros. Creio que muitos de nós nos esquecemos que o nosso corpo não nos pertence; ele não é um parque de diversões cujo único fim serve para nos dar prazer. A partir de momento do baptismo ele pertence a Deus; foi resgatado por um preço inimaginável; o nosso corpo torna-se um templo onde habita o Espírito Santo (1Cor 6:19). Quando temos relações sexuais fora do seu contexto apropriado, profanámos esse templo; desrespeitámos a Deus. Além do mais, estamos a objectificar a outra pessoa; tornámo-la um objecto na busca da nossa satisfação. Buscámo-nos a nós mesmos, os nossos próprios interesses, e os outros deixam de ser pessoas. Isso não é amor. Mas mais do que uma "falha legal", é uma prova da morte que trazemos em nós e que também semeamos, é prova que algo está errado com o nosso ser. O mundo à nossa volta diz-nos que não há pecado, para buscarmos o nosso próprio interesse. Acontece que esse interesse que o mundo nos oferece é morte. A única solução, a única cura, para a morte é a Vida que o nosso Senhor nos deu, através da sua paixão e a sua morte no madeiro.

Com aquele comentário estava mesmo na iminência de dar uma espécie de lição de moral do tipo "e isto é assim porque é e mais nada". Mas algo travou a minha língua. Veio-me à memoria a pessoa que em tempos fui; revi-me nos tempos de outrora nas opiniões e na posição dela. E pensei para comigo quanto o tempo e amor (com a ajuda da graça, naturalmente) realmente não ajuda a curar a pessoa, a ajudar-lhe a ver com olhos de ver; que não é a abundância de argumentos que converte um coração, mas sim o chamamento d'Aquele que o ama verdadeiramente e o ensina a amar.

2010/01/11

Oração

Hoje apenas quero partilhar com vocês algumas ideias que me foram surgindo ao longo destas últimas semanas, fruto de coisas que li e conversas que fui tendo. Se falar em coisas que já vos sejam bastante óbvios, peço desculpa; para mim é novidade.
A oração deve-nos unir a Deus; deve evoluir à medida que vamos crescendo em intimidade com Deus: de vocal para meditação para, finalmente, contemplação. Até aqui, nada de novo. Acontece que eu tinha ideia que esta última - meditação - era só para alguns, que estava reservado para os grandes místicos e contemplativos religiosos e que, portanto, não era para os demais. Era quase como que uma espécie de oração "opcional". E no entanto tenho vindo a compreender que é algo que não é só para alguns, mas para todos, independentemente do estado de vida. O chamamento que Deus nos faz, o convite para intimidade com Ele, passa necessariamente pela oração contemplativa. Fico com ideia que isto não é percebido pela maior parte das pessoas, e que associado a este desentendimento (se origem ou consequência, não sei, mas creio estarem correlacionados) está a diminuta presença de religiosos contemplativos no Ocidente.
Tendo em conta que considerava a contemplação algo "opcional", para mim toda a oração deveria ser expressa ou através de palavras, ou então de actos exteriores, ou então de uma mistura dos dois. Aprendi a rezar com a minha avó; lembro-me de ter dois anos e pouco e ela sentar-se comigo na cozinha ao pé da sua imagem de Nossa Senhora e dizer-me para repetir as Avé Marias e Pai Nossos que ela ia dizendo. Durante muitos anos isso era o que eu entendia como oração: oração vocal. Até mesmo depois de voltar a ter fé, a minha oração passava na generalidade por oração vocal embora tivesse consciência de que deveria ter uma componente de diálogo. Que se deveria ir simplificando, disso sabia, mas pensava que isso quisesse dizer menos palavras, menos ideias dispersas, petições do tipo "menos minha vontade, mais Vossa vontade", etc. Mas que um progressivo reconhecimento da presença de Deus no dia-a-dia fosse oração, não sabia; que os acontecimentos rotineiros da vida remetessem automaticamente para oração, desconhecia. Sussurros do divino nas coisas mais simples da nossa vida, e eu desconhecia-o. Mas mais ainda, desconhecia que as palavras deveriam acabar por desaparecer por completo. Que a oração se deveria tornar num único acto, que esse acto fosse algo holístico... Longe de mim, meu Deus, longe de mim! Como poderia eu algum dia conceber tal coisa? Para mim isso seria uma distracção no meio da oração, algo que eu procuraria calar, e no entanto não deverá a oração no final ser Vós a falar e nós a escutar?
De certa modo estes casos são o princípio de uma oração "profunda", de uma experiência mística cristã, mas que ao mesmo tempo não deixam fazer parte da experiência humana, algo "natural". Falei em tempos em ser preciso (re-)descobrir o sentido de Maravilha e ocorreu-me agora que talvez isto esteja relacionado com esse assunto. Creio que muitos de nós experimentámos estas formas de oração tão subtis, mas acabamos por não lhes dar a devida importância por não as reconhecer como tal. Ou talvez já o saibam e eu é que venho apanhar o comboio já com algum atraso. Perdoem-me se generalizo demasiado.
Gloria a Deus por todas as coisas!

2010/01/07

Nunc Dimittis

Já há cerca de um ano que digo as Completas à noite, antes de deitar. Faz parte das Completas o Cântico de Simeão, o Nunc Dimittis. Mas neste tempo todo, acho que ontém foi a primeira vez que Deus me falou através dessa oração.

«Agora, Senhor, segundo a Tua palavra, deixarás em ir paz o teu servo, porque os meus olhos viram a Salvação [...]» (Lc. 2, 29.30)
Quando acabei de dizer estas palavras ouvi no meu íntimo a pergunta "De facto consegues dizer estas palavras com confiança, com verdade? Se por acaso não acordares de manhã, poderás realmente chegar diante do Senhor de consciência tranquila e dizer que O vistes nesse dia, que O encontrastes nos outros?"
Não consegui responder...