2009/04/05

Na multidão

Hoje começou a Semana Santa, uma semana que tem tanto o seu quê de alegria como de tristeza (daí talvez o porquê do que se avizinha se chamar o "mistério pascal"). Todo este período da Quaresma - de jejum, oração, e esmola - tem nos vindo a conduzir/preparar para o próximo Domingo. Avizinha-se a Páscoa, a celebração por excelência dos Cristãos. É esse o dia que confirma a nossa fé, que nos dá esperança, pois se Cristo não ressuscitou diz o Apóstolo que "somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Cor 15, 18). Talvez os 2000 anos que já passaram possam ter arrefecido, para nós, um pouco os ânimos daquele fatídico e, ao mesmo tempo, glorioso dia. Imaginem o que não teria sido estar alí, naquela altura, em que Deus veio ao mundo e foi morto pelos homens, mas também morto para eles. Qual o escândalo, qual a alegria, qual a confusão!

Das duas leituras do Evangelho possíveis para a Liturgia de hoje, a que foi lida na igreja onde fui foi a da Paixão. E enquanto escutava a leitura, que falava da multidão que escarnecia de Cristo, que o insultava e amaldiçoava, lembrei-me da leitura alternativa - da entrada triunfal de Jesus em Jerusalem. Também ali havia uma multidão. Essa multidão estava ali para receber o seu Messias, com toda a pompa e circunstância. E no entanto, quer-me parecer, que não seriam poucos os que aclamaram Jesus na sua entrada que depois estariam juntos novamente para o negarem, para o ridicularizarem, para o escarnecerem. É caso para pensar se às vezes não serei eu também um desses, mais um no meio da multidão...


E isto mexeu comigo. Fez-me pensar em como vai o mundo actualmente. A crise financeira vai tendo as suas repercuções principalmente a nível económico e social. O que aconteceu foi que finalmente se começou a reparar no elefante que estava no meio da sala e que ninguém queria admitir que estava lá. Não é algo que aconteceu de um momento para o outro, mas algo que já vem desde há bastantes anos, crescendo até se tornar grande o suficiente para já não se poder negar. Fála-se numa crise financeira, e haverá que resolvê-la com técnica. Quer-me parecer que isto é uma visão demasiado superfícial do problema. Mais do que uma crise financeira, estámos perante uma enorme crise moral, e não será apenas a técnica que conseguirá resolver o problema (se fôr esse o caso, mais cedo ou mais tarde voltaremos ao mesmo). Culpam-se o "grandes interesses económicos" e o egoísmo de alguns (ou de muitos, quiçá), e justamente. Mas não é só culpa dos outros. Não será tanto (ou talvéz até mais!) a culpa de nós Cristãos por não estármos à altura de Cristo? Não estaremos nós demasiado acomodados ao mundo que nos rodeia? Realmente vivemos aquilo que professámos? Quer-me parecer que talvez não tenhamos dado testemunho da nossa fé... É caso para pensar...

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