2009/08/22

Medo de amar

"Amo-te". Cada vez mais me vou apercebendo do quão "aterradoras" são essas palavras, sejam elas pronunciadas por um amigo, pela pessoa com quem partilhamos a vida, ou outra pessoa qualquer na nossa vida. Tenho consciência de já as ter dito muitas vezes com demasiada leviandade. Sabia de facto o que é Amor, e o que significa amar? Por acaso o terei conhecido através dos outros sem o saber?

O Amor e as suas implicações são coisas assustadoras para o coração do pecador não-arrependido. Transpormo-nos para além dos nossos interesses (sejam eles desejos ou receios), abandonarmo-nos ao outro, expormo-nos - quem deseja tais coisas? Dizemos aos outros "amo-te", mas não será muitas vezes a maneira como eles nos fazem sentir que nos evocam tais palavras? E quando esses sentimentos esvanecem - porque é próprio da sua natureza esvanecer - dizemos que "já não amámos". O permanecer depois do fogo da paixão se extinguir, ou da amizade resfriar, o estar presente para o que der e vier, independentemente de como me sinta, isso só é possível com Amor. Isso é amar de facto. Se penso só em mim, se não tenho consciência do meu pecado, então não poderei amar de verdade. Não quererei amar porque isso implica sair de mim, quando o que eu busco é a minha própria satisfação. E se alguém me disser que me ama, não ficarei eu desconfiado? Não pensarei que o seu "amar" é semelhante ao meu? Eu não quer ser usado por ninguém, embora muitas vezes use os outros. Mas mais aterrador do que isso, talvez, será o eu me aperceber que essa pessoa realmente me ama. Mais aterrador será deixar-me amar. Que alguém me possa amar "gratuitamente": penso que o coração que ainda é aprisionado pelo pecado - que é o de todos nós - não consegue aceitar tal facto (pelo menos não sem a graça de Deus). Porque razão me hão-de amar? Porque se hão-de querer dar a mim, para mim, e por mim, sem que eu tenha feito algo para o merecer (e muitas vezes até tenha feito para não o merecer)? Quem sou eu, pecador, que mereça ser amado? Penso que é algo que nos transcende, e por isso nos atemoriza às vezes.

E porquê amar? Porque nos darmos aos outros sabendo que isso inevitavelmente nos trará sofrimento? Não amámos porque o outro o mereça por algo que tenha feito; amámos em virtude de aquilo que ele é: uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Amámos porque reconhecemos no outro a nossa condição de pecador. Amámos porque queremo-nos configurar com Cristo, que amou gratuitamente. Amámos porque fomos feitos para o Amor. Amámos porque queremos viver.

Medo de amar e ser amado. Penso que a grande maioria de nós, nas nossas trevas, temos medo destas duas coisas, que acabam por ser indissociáveis. Recordo que da minha boca saíram muitas vezes as palavras "amo-te" e não lhes conhecia o significado. Só quando as neguei, e me entreguei à minha cegueira, é que descobri que de facto tinha amado e sido amado - que conheci (no sentido de experimentar) o Amor. Mas porque nessa altura não conhecia a Verdade, o Caminho e a Vida, não soube reconhecer o que estava presente - a manifestação da realidade da Cruz, de certo modo.

Nosso Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tende misericórdia de nós e salvai-nos.

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