2009/03/24

Cansaço

Sinto-me cansado hoje. É um cansaço que já se vem acumulando há alguns dias. É um cansaço que levo comigo para a oração e que ponho diante do Senhor. É um cansaço que aceito como sacrifício. E a que se deve? Há várias coisas que contribuem para este cansaço, dos quais partilharei apenas dois, que penso serem os mais relevantes neste momento.

Um dos motívos é os meios de comunicação nestes últimos tempos, nomeadamente no que diz respeito ao nosso querido Papa. Parece que abriu a época de caça, e estão todos a mandar o seu tiro ou a sua farpa, critcando, menosprezando, obfuscando, etc. Quando são não-crentes, ainda consigo engolir mais ou menos, mas agora quando também vêm de dentro da própria Igreja, do próprio corpo místico de Cristo, custa a aceitar. Ouvem-se coisas como "ele é uma vergonha para a nossa Igreja" ou "é dos piores Papas de sempre" ou ainda "mais valia estar calado". E um dos argumentos mais comuns contra as posições tomadas pela SS Bento XVI é de que "a Igreja precisa de se modernizar/actualizar porque a maioria dos Católicos já não vê as coisas dessa maneira". Argumentos ad populum, da última vez que vi, não são argumentos válidos. Será então que os Arianos tinham razão e que afinal Sto. Atanásio era um louco? São Jerónimo fez o seguinte comentário sobre esse período da Igreja: "O mundo acordou um dia e descobriu-se ariano." Será que por a maior parte da Igreja ter começado a acreditar que Jesus era apenas um homem (embora o homem mais próximo de Deus), Cristo deixou de ser "verdadeiro Deus e verdadeiro Homem" e que, como eram a maioria, que eles é que estavam certos?
Não é ira nem amargura que me surge ao ler sobre estes ataques, mas sim tristeza e pesar de ver um corpo dividido, em que os membros se tentam "morder e devorar". Esse p esar provoca cansaço, e esse cansaço só vai encontrando algum alívio na oração, pedindo unidade e caridade para todos os membros.

Outra das coisas que me tem criado algum cansaço é ser acusado de ser algo que não sou. Acusam-me de ser "antiquado", "elitista", "retrograda", "reacçionário", e outras coisas a fins. E tudo isto a propósito de quê? Da Liturgia, imagine-se... Enquanto estive fora tive oportunidade de assistir umas quantas vezes à Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano. Tinha ido inicialmente por curiosidade, para ter uma ideia do que era. Mas o que acabei por encontrar foi uma forma mais profunda (pelo menos para mim) de viver a Eucaristia. É um rito carregadíssimo de simbolismo, e que me deixou com uma sensação de pequenez. Saí, das várias vezes que fui assisitir, a sentir-me realmente muito pequeno. E não digo sentir pequeno em sentido negativo, mas em sentido positivo, de me sentir pequeno diante da magnificiência de Deus, de me sentir humilde e muito grato por tudo quanto tenho. Nunca tinha sentido isso em nenhuma missa na Forma Ordinária do Rito Romano. E depois tive a oportunidade de assistir a uma missa cantata na Forma Ordinária, e mais umas quantas missas "normais" na Forma Ordinária na mesma igreja. E a sensação com que fiquei foi a mesma - de pequenez. E por mais simples que estas missais normais podessem ser, pareciam diferentes de todas as missas na Forma Ordinária a que tenho assistido. Não estou a sugerir que as outras tenham sido missas inválidas, mas apenas que não senti o mesmo que naquela igreja. Fiquei com ideia de que era assim que se pretendia que a missa de Paulo VI fosse celebrada. Sei que a Forma Ordinária (ou Novus Ordo, conforme lhe queiram chamar) tem como intenção aproximar-nos mais da missa conforme celebrada pelos primeiros Cristãos. E, de facto, com o que tenho lido sobre as liturgias dos primórdios da Igreja, a Novus Ordo é bastante semelhante. Mas aquelas missas "normais" a que assisti naquela igreja também transmitiam uma continuidade com as outras formas (leia-se ritos) romanas que vieram após os tempos primordiais da Igreja; as outras a que tenho assistido não me têm transmitido essa sensação de continuidade.
Pois bem, certeris paribus, eu não tenho preferência entre os dois ritos. Acho que ambos, quando realizados com reverência, conseguem-nos transportar para além de nós mesmos e deixam-nos vislumbrar um pouco do transcendente. Mas, dado a maneira como são muitas das missas Novus Ordo a que assisto, se tiver de escolher entre uma das duas formas, escolherei a forma Extraordinária. E foi esta a opinião que apresentei a algumas pessoas enquanto tentava descobrir onde poderia assistir a uma missa Tridentina legtima (sempre há a FSSPX, mas enquanto a situação deles não estiver resolvida, não são uma opção) em Portugal. Ora, isso aliado a um certo carinho por algumas manifestações mais "antigas" da fé, foi o suficiente para eu ser visto como uma persona non grata, como sendo anacrónico, e sem lugar na Igreja dos dias de hoje. Ainda levei por tabela a acusação de que não aceito o CV2 (acusação mais que falsa pois aceito a validade de todos os concílios desde os primórdios até hoje)! Não entendo o motivo de tal hostilidade. Causa-me um bocado de espécie estas pessoas que acusam os outros de não estarem em sintonia com a Igreja porque não concordam com a sua interpretação pessoal do CV2. Quase que parece que crêem que o CV2 é um super-dogma, e que tudo o que veio antes não conta, que se rompeu com o passado. Parece-me que não têm uma imagem holística da Igreja. E estas acusações, aliadas ao facto de eu não encontrar ninguém nas redondezas que partilhe da mesma opinião, ferem e desgastam e isso por sua vez também causa cansaço. O único lugar onde este cansaço se vai aliviando é na oração e na Eucaristia.

No comments: