2009/11/20

Maravilhar-se

Dia sim dia não vem ao meu local de trabalho uma bebé com quase dois anos. Tenho-a visto crescer ao longo de quase um ano e tenho-lhe um amor enorme, como se de minha filha tratasse. Sempre que posso brinco com ela. Acho que nunca vi uma criança tão pequena e tão cheia de vida e de felicidade, com quem tantas pessoas se alegram ao ver-la. Custa-me muito acreditar que há pessoas que desgostem de crianças, que até as considerem impedimentos à sua liberdade, ou "um erro" (às vezes indo até ao ponto de lhes negar a vida).

Mas mais do que isso, "invejo" a esta pequena a sua simplicidade. Não que ache que a vida é demasiada complexa (e talvez até seja, nem que seja por nós a tornarmos assim) e que voltar a uma idade mais "simples", onde não existiam as "preocupações da vida", resolveria tudo; isso seria escapismo. O que lhe invejo da sua simplicidade é a capacidade de se maravilhar com qualquer coisa, nomeadamente as coisas mais simples da vida. Penso que essa capacidade de saber maravilhar-se com a vida é o que lhe dá sabor. Parece-me que à medida que nos vamos tornando "adultos" que perdemos esta capacidade, esta simplicidade. Já não nos basta um carro, mas tem que ser um carro XPTO; não nos basta ir ao campo, mas tem que ser as férias ao lugar mais na moda e exótico ; é a televisão XPTO, com 1001 canais em HD; tem que ser um filme com efeitos especiais que quase nos provocam um ataque epiléptico senão não tem piada - a lista é interminável. As coisas mais simples, mais básicas, depois acabam por passar despercebidas: uma boa amizade; um bom livro; uma tarde passada sem fazer nada senão a olhar o céu - em suma, maravilharmo-nos com aquelas coisas que o nosso Pai nos deu, que Ele próprio criou. Disse uma vez um célebre escritor inglês que uma criança não se maravilha tanto com o facto de lhe dizerem que está um dragão atrás de uma porta, mas com facto de que essa porta abre. Talvez estejamos enganados no que diz respeito a ser "adulto"; talvez quem realmente seja adulto é aquele que consegue manter aquela simplicidade de criança, de se maravilhar com a vida.
Que diferença nós Cristãos não faríamos no mundo se reencontrássemos essa capacidade de se maravilhar. Quase que me atrevo a dizer que é nossa obrigação. Não disse o Senhor que "quem não se fizer como criança não entrará no reino dos céus"? (Mat 18,3)

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