2009/11/26

Finalmente acabei de ler a "História de uma Alma", da S.ta Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. O "pequeno caminho" que a santa descreve é realmente admirável. Tendo noção da sua pequenêz, fez das coisas mais pequenas oportunidades de mortificação. Por debaixo daquela aparência de quem não tinha uma única preocupação no mundo, quanto não sofreu ela e tudo por amor ao seu Eterno Esposo. Vale a pena ler; talvez venham a colher algum do fruto abundante que nele se encontra... A seguir vou ver se finalmente leio "A Imitação de Cristo" de Tomás à Kempis. Em tempos tinha-o iniciado, mas já não me lembro porquê o deixei-o a meio.
Este Domingo que passou fui a Fátima assistir à Divina Liturgia na capela bizantina do Domus Pacis. Vou dedicar a próxima entrada à Divina Liturgia, que penso ser pouco conhecida entre a maioria dos Católicos Romanos/Latinos, especialmente em países onde não haja uma grande presença de Católicos Orientais e/ou Ortodoxos. Hoje, porém, quero partilhar as minhas ideias sobre um comentário que um conhecido meu fez quando lhe contei que tinha ido à Divina Liturgia.
"Porque vais a uma missa onde não entendes nada?". Podem não ter sido estas as palavras exactas, mas foi neste espírito que ele pos a pergunta. Embora na altura não tenha entrado em grandes explicações (até porque ele não tem grande paciência para considerações dessa natureza), penso que esta pergunta leva-nos a fazer várias perguntas.
  • Por "não entender nada" suponho que ele quis dizer "não entender o que é dito verbalmente". E, de facto, eu não entendi quase nada do que foi dito (fora uma frase ou outra) devido à Divina Liturgia ter sido toda em Ucraniano. Mas será que uma pessoa só entende a Liturgia pelo que é dito verbalmente? No dia-a-dia só entendemos os outros pelo que eles nos dizem verbalmente? Não, nós não comunicamos só assim; comunicamos também por gestos, por sinais. A Liturgia - especialmente a Divina Liturgia e a Missa Gregoriana - são muito ricas em símbolos. Cada gesto está carregado de grande significado; nada é deixado ao acaso. Uma pessoa que viva a sua fé e que tenha uma boa catequese percebe [neste caso uso deliberadamente o verbo perceber, e não entender, por questões etimológicas] o que se está a passar. Nós não somos apenas seres espirituais presos em prisões materiais (isto é platonismo, não cristianismo); somos também seres corporais/materiais. O que fazemos com o nosso corpo afecta a nossa alma. A Liturgia interage com os nossos sentidos: escutámos a Palavra; tocámos/provámos o Corpo de Cristo; cheirámos o incenso; vêmos os gestos que o presbítero e a congregação - a nossa corporalidade (se é que essa palavra existe) é que nos permite interagir com o divino. Dizer que ir a uma Liturgia não vale a pena se não percebermos o que é dito é ter uma visão muito limitada da "experiência eucaristica".
  • A questão do saber o que se está a passar leva também a perguntar: porque vamos à missa? Ouço muitas vezes comentários do tipo "não senti nada nesta missa" ou "não consegui trazer nada desta missa" ou outros quantos do mesmo género. E pergunto-me se por acaso a mentalidade do consumismo não nos afectou a tal ponto de até considerarmos a Liturgia como um produto. Fica-se com a sensação de que as pessoas querem uma Liturgia à sua medida e que se não se sair de lá com alguma coisa que então não valeu a pena (curiosamente, na Quarta-feira de Cinzas e Domingo de Ramos - dias em que se recebem sacramentais para trazer para casa - encontro sempre mais gente na Missa do que o costume; coincidência?). Verdade é que na Liturgia recebemos a Palavra e Corpo de Cristo, e que estas servem para nos alimentar, mas não é necessariamente por nós que vamos, mas sim pelo Senhor nosso Deus. A Liturgia é um acto cujo foco é exterior a nós, não interior. Se não estámos ali como um só corpo essencialmente para louvarmos a Deus, o que estámos lá a fazer? A quem estámos a prestar culto? A Deus ou a nós mesmos? Ir à missa é mais do que ir por sentimentos piedosos ou para nos sentirmos bem consoco mesmos (até porque Cristo põe o dedo na ferida e desinstála-nos do nosso bem estar, do nosso contentamento conosco mesmos); é irmos mesmo que não nos aptece ou nos sintámos tépidos porque sabémos que devemos lá estar. E devemos lá estar se professamos amar a Deus sobre todas as coisas.

Por hoje deixo estes pensamentos.

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