2010/02/16

Antífonas do Ó

O tempo não me permitiu fazer esta entrada atempadamente. Apesar de já ter passado o Advento não queria deixar de chamar a atenção para uma tradição liturgica que decorre do dia 17 a 23 de Dezembro. Este período é conhecido no rito Romano como o período das Antifonas do Ó. Durante este período a antífona do Magnificat, que se reza durante as Vesperas, vai alterando todos os dias. Todas as antífonas - são 7 ao todo - começam por invocar Jesus, embora nunca pelo nome, mas por vários títulos. Remontam ao tempo do Pápa Gregório o Magno (cerca ano 600). São em Latim, e são inspirados em textos do Antigo Testamento que proclamam o messias. Em cada antífona Jesus é invocado, sequencialmente, como: Sabedoria, Senhor, Raíz, Chave, Estrela, Rei, Emmanuel (o que em Latim dá: Sapientia, Adonai, Radix, Clavis, Oriens, Rex, Emmanuel). Lendo do último para o primeiro, as iniciais escrevem um acróstico em Latim "Ero cras", que quer dizer "Virei amanhã" - é uma proclamação do Senhor que vem. Seguem as antífonas, em Latim e com tradução, entre parentes com as principais referências do Antigo e Novo Testamento:



Die 17 Decembris
O Sapientia

quæ ex ore Altissimi prodisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviter disponensque omnia:
Veni ad docendum nos viam prudentiae


17 de dezembro
Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo (Eclesiástico 24:5),
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade (Sabedoria 8:1):
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência (Proverbios 9:6).


Die 18 Decembris
O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento


18 de dezembro
Ó Adonai (Exodo 6:2, Vulgate)
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moises na chama do fogo
no meio da sarça ardente (Êxodo 3:2) e lhe deste a lei no Sinai (Êxodo 20)
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço (Êxodo 15:12-13).


Die 19 Decembris
O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare


19 de dezembro
Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos (Isaías 11:10),
em cuja presença os reis se calarão (Isaías 52:15)
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais (Habacuque 2:3).


Die 20 Decembris
O Clavis David

et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis


20 de dezembro
Ó Chave de David (Isaías 22:23)
o cetro da casa de Israel (Génesis 49:10),
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte (Salmo 107: 10, 14).


Die 21 Decembris
O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.


21 de dezembro
Ó Oriente (Zacarias 3:8; Jeremias 23:5),
esplendor da luz eterna (Sabedoria 7:26) e sol da justiça (Malaquias 3:20)
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte (Isaías 9:1; Lucas 1:79).


Die 22 Decembris
O Rex gentium

et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem limo formasti


22 de dezembro
Ó Rei das nações (Jeremias 10:7)
e objeto de seus desejos (Ageu 2:7),
pedra angular (Isaias 28:16)
que reunis em vós judeus e gentios (Efésios 2:14):
Vinde e salvai o homem que do limo formastes (Génesis 2:7).


Die 23 Decembris
O Emmanuel,
Rex et legifer noster,
exspectatio gentium,
et Salvador earum:
Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster


23 de dezembro
Ó Emanuel (Isaías 7:14),
nosso rei e legislador (Isaías 33:22),
esperança e salvador das nações (Génesis 49:10; João 4:42),
Vinde salvarnos,
Senhor nosso Deus (Isaías 37:20).





Fonte: Chiesa
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Embora não relacionado (ou talvez até sim?), existia na peninsula Ibérica uma festa a dia 18 de Dezembro em honra da Anunciação. Isto passou-se no século VII, e era uma particularidade aqui da peninsula, para destacar a Anunciação que geralmente cai dentro da Quaresma. Aconteceu mais tarde haver necessidade de voltar a adoptar as práticas da Igreja de Roma, portanto a Anunciação foi "devolvida" para o dia 25 de Março. Em consideração à devoção popular, esse período do dia 18 até à Vespera de Natal passou a ser considerado na Península "As Esperanças do Parto da santa Virgem", mais vulgarmente conhecido como "Nossa Senhora do Ó". Donde vem este nome tão caricato? É que a antífona nesse dia começava por "O Virgo Virginum" e no final das Vesperas o coro largava um grande suspiro "Ó", exprimindo a desejo da vindo do redentor. Parece que esta tradição ainda se mantem viva em Espanha, onde uma Missa Alta é celebrada todas as manhãs durante a oitava e em que todas as mulheres que estão de esperanças devem assistir em honra da maternidade de Nossa Senhora e para pedir a sua benção para elas mesmo.

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