2010/02/12

Koinonia

Durante muito tempo questionei-me quanto ao porquê de eu por tanto valor na amizade; mesmo durante os meus dias de pagão insistia na importância amizade (quem me conhece pode atestar esse facto; acho que até chegava a ser irritante quando falava sobre o assunto :-D). Um amigo, dizia eu - e ainda digo -, é alguém que amámos com todo o nosso coração, e mesmo que nos chateemos com essa pessoa (ou vice versa), fazemos tudo por reestabelecer a relação. Um amigo é família; às vezes até mais família do que os do nosso próprio sangue. O que me levava a ter tão elevada opinião da amizade já nessa altura? Não sei. Seria o facto de eu ter devorado vorazmente tantos contos enquanto criança? Seria que procurava compensar algo que não conseguia encontrar no seio familiar? Talvez vislumbrasse já nessa altura, devido a todas as circunstâncias que já mencionei aqui e outras que de momento me escapam, um lampejo da Verdade sem o saber. O Senhor realmente me foi chamando por todos os caminhos e mais alguns...
Mas já divago. Amar os amigos. Devia-se poder dizer sem preconceitos nem medo aos nossos amigos "Amo-te". Nessa altura pensava que só dizendo-o verbalmente tinha significado. Claro que nem pensava no facto de eu considerar uma pessoa "amiga" (e eu sou muito comichoso em chamar uma pessoa amiga; quem me conhece sabe que uso com mais frequência palavras como "colega" e "conhecido"; "amigo" uso com bastante reserva) e essa pessoa nem me considerar ao mesmo nível. Ingénuo. Ó ingenuidade! Nem eu ainda me tinha apercebido o quão temíveis são essas palavras - "Amo-te"; temíveis tanto para quem as diz como para quem são dirigidas. Acho que ouvir uma pessoa que conhecemos dizer que nos ama deixa-nos sempre um pouco desconsertado inicialmente. "O que é que este quererá", "isto não é normal", etc. Estamos tão habituados a ser magoados e a magoar que acabámos por nos por sempre na defensiva. Andamos semeando a Morte que nos fechámos à Vida, ainda para mais a Vida gratuita. Alguém não nos poderá amar sem nenhum motivo... ou pode? Então descobri que se dizê-lo verbalmente pode causar escândalo (não no sentido teológico da palavra, mas sim no mais vulgar), que pode-se dizê-lo de outras formas, nos gestos mais simples da vida.
E meti-me a pensar nestas coisas da amizade, e perguntei-me sobre o que seria isto de estarmos em comunhão com Deus e com os outros. Afinal, nós Cristãos pomos muito ênfase em Comunhão. Todas as nossas relações devem ser um reflexo da nossa relação com Deus; a relação Trinitária é o arquétipo de todas as outras. Se eu de facto amo o meu amigo, poderei estar em comunhão com essa pessoa? E o que significa isso? Corrijam-me se eu estiver errado, mas é isto que creio ser communio/koinonia:
Estar em comunhão com alguém é quer participar na vida dessa pessoa. É querer partilhar as suas alegrias e suas dores; apropriá-las de certo modo. É uma interpenetração de vidas sem que se perca a individualidade. "Deixa-me ajudar-te a carregar a tua cruz." "Sou fraco; ajuda-me com a minha quando já não consigo mais." "Conhece-me." "Deixa-me conhecer-te." "Estou feliz; deixa-me compartilhar essa alegria contigo." "Reconheço Cristo a actuar através de ti." Penso que são fundamentalmente estas as coisas que fazem parte da comunhão com os outros. A comunhão acaba depois por encontrar a sua plenitude na união com Deus.
Um coração que anseia amar e ser amado. Penso ser este o impulsor fundamental de todas as nossas vidas, mesmo que tenhamos medo de amar.
+ Senhor, purifica o meu coração. Que eu ame os demais livremente, livre das inseguranças, dos receios, dos logismoi. Que eu saiba amar com todo o coração, um coração contrito, um coração que sente. Senhor, dá-me a graça de poder amar como o teu Filho, que amou tanto até ao ponto de dar a vida pelos que ama. Sei que ainda não entendo completamente aquilo que Te peço, mas ajuda-me através do Teu Espirito a perceber. Isto peço em nome de Cristo Jesus. Amen +

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