2010/02/23

Laços

Ontem à noite foi muito agradável, para dizer o mínimo. Encontrei-me com uma amiga de longa data, dos velhos tempos do colégio. Por algum motivo que nos escapa, aquela instituição deixou uma marca indelével em todos nós, ligando-nos a todos. Viveram-se bons e maus momentos lá, mas creio que os bons superam de longe os maus. E mesmo que encontremos alguém que estudou lá num período diferente do nosso, há sempre uma ligação qualquer e cria-se logo uma familiaridade que quem não viveu aquele colégio não consegue entender.
Apesar de falarmos com alguma regularidade pela Internet, já não estava com ela há quase três anos. É incrível como o tempo passa por nós (ou será nós que passámos por ele?) e nem nos damos conta. Realmente não há nada como conviver com uma pessoa ao vivo, em carne e osso, em vez de através de cartas/e-mails/telefone/etc. Não que estes sejam maus, mas falta sempre qualquer coisa que só a presença física da pessoa pode transmitir.

Recordaram-se tempos idos, momentos que, apesar de longínquos, constituem o pano de fundo das nossas vidas. Mas também falou-se do tempo decorrido desde então, e das coisas da vida presente, do momento. Às vezes pessoas fora do contexto colegial perguntam-me porquê esta fixação com o pessoal daquela altura, para quê recordar; dizem para deixar as coisas estarem lá atrás, no passado, e não tentar viver lá. Apenas posso dizer que este relembrar não é uma tentativa de reviver o passado, de uma desilusão com o momento presente. A prova concreta disso é eu me interessar pela vida actual dessas pessoas que me são tão queridas, do querer partilhar a sua vida actual. O nosso passado comum é o alicerce desta nossa vida presente também em comum. E aqui as memorias vêm auxiliar a koinonia. Estabelecem continuidade entre o passado e o presente. O "cimento" fundamental da koinonia é o amor em Χριστός Ἰησοῦς, e através das memórias somos capaz, nos momentos mais difíceis, de recordar a presença d'Ele em tempos passados, que se viveram com os outros, e assim arranjar maneira de perseverar nas tribulações presentes, amparando-nos uns aos outros.
Memória. Eu lembro-me de ti; tenho uma convivência passada contigo ao longo do tempo; vou-te conhecendo; e em te conhecendo, aprendo a te amar, e isto ulteriormente porque reconheço através/em ti Aquele que me amou desde antes do tempo.
Estes são os meus amigos; estes são parte da minha família; estes ajudam-me a definir-me a mim mesmo. Como desejo com todo o meu coração poder-lhes dizer realmente o quanto os amo, o quanto as suas vidas realmente me são importantes, e quanto não desejaria poder ajudar a suportar as suas cruzes. Eles têm sido ocasiões de encontro com Deus, tanto do Seu amor como da Sua disciplina. Pudera eu, Senhor, vir a ser um Vosso ícone para eles.

Neste encontro deu para aprofundar melhor algo tenho vindo a intuir desde algum tempo para cá, e que já algumas pessoas comentaram comigo acerca do assunto: que é possível ver a Beleza de uma pessoa. Não estou a falar de beleza física, mas sim algo muito mais profundo, algo mais real mesmo que não seja material, que não seja palpável. Não consigo descrever o que é, nem como se reconhece; só sei dizer quando reconheço-o. Eu costumo dizer que é quase como se nós reconhecemos a bondade interior, da alma da pessoa; com quem já falei acerca do assunto, simplesmente dizem que é reconhecer a Beleza, que é Deus, que resplandece através da pessoa. É algo que parece emanar da pessoa, e curiosamente (embora este não tenha sido o caso) parece-me que se nota mais quanto menos favorável forem determinadas circunstâncias para as pessoas em quem eu me apercebo de tal.

Um noite verdadeiramente cheia. Um momento realmente vivido. Só temos o presente para viver, o presente para nos convertermos.

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