2008/11/20

Recordações de um retiro especial

Faz agora por esta altura um ano desde que fiz o meu primeiro retiro. Lembro ter me inscrito sem saber muito bem em que me estava a meter...pensava que seria um convívio! Imaginem a minha surpresa quando a caminho o padre nos disse "Vocês sabem que isto é em silêncio, não é?" Três dias em silêncio?! "Onde é que me vim meter???" pensei eu cá para com os meus botões. Verdade seja dita que o silêncio nunca foi coisa que me incomodasse (sempre precisei de bastante tempo para o silêncio, para poder estar só, mesmo quando ainda não cria), mas talvez a novidade da situação me tenha assustado.
Um grupo de 4, mais o padre, numa casa na Costa Nova no final de Novembro. O inverno já se ia fazendo sentir e a zona encontrava-se rarefeita de gente. Dias cinzentos, de frio, de alguma chuva e vento. Ou seja, o ambiente era propício para o encontro com o Senhor. Três dias em silêncio, fora as reuniões para as pistas de oração e os momentos para falarmos em particular com o padre. Foi nesta altura que aprendi que havia outras maneiras de rezar. Pedia-se que rezassemos determinadas passagens da Biblia. Demorou ainda um dia, mas finalmente lá consegui descobrir o que era pretendido. Lentamente fui descobrindo como é que as passagens me falavam, como é que Deus me falava em particular através delas.
Silêncio. Começei a notar como o silêncio ajudava a escutar, assim como também aprendi o quanto simples gestos conseguem dizer. Dizem tanto que até no silêncio torna-se uma necessidade evitar os outros para que os seus gestos não nos desconcentrem.O retiro acabou por ter um propósito: agradecer a Deus pelas graças que me deu no último ano, de reconhecer onde Ele esteve presente na minha vida, apercebendo-me que em muitas dessas vezes era quando eu pensava que Ele não estaria. Ficava no meu quarto a rezar, mas os lugares de oração preferidos eram na capela improvisada ou na praia à beira do mar. Ao longo desses dias senti-me invadido por uma alegria e paz enorme, por uma sentido de agradecimento profundo. Lembro-me de depois descrever a sensação a alguém como sendo que alguém sorria dentro de mim.Três dias sem falar com os restantes do grupo, mas ao sairmos de lá senti como se juntos tivessemos passado por muito. Ainda hoje mantenho contacto regular com duas das pessoas, que agora considero grandes amigas. Guardo com bastante carinho a memória desses três dias e da paz e alegria que pareciam transbordar até pelas semanas seguintes.Mas o que guardo acima de tudo desses três dias é o que eles proporcionaram: abriram-me os ouvidos do coração para que dentro de algum tempo viesse a escutar Aquele que nos criou, para o vir a conhecer de uma forma muito particular.

2 comments:

erute said...

Estive presente nesses três dias... sabia que ia para o SILÊNCIO e ainda que me fizesse alguma confusão estar calada (eu q gosto tanto de falar) três dias, arrisquei e fui...
Hoje digo que é fácil se estar calado, mesmo qdo se gosta de falar, e digo também que é maravilhoso ouvir a voz de Deus dentro do nosso coração...
Quero mais!

:)

P.S. - Marco só um reparo, foi na Costa Nova (Aveiro) e não na Gafanha da Nazaré.

Ora et Labora said...

Ai a minha memória...a velhice é tramada :-D Eu vou já corrigir isso, e aproveito para por algumas das fotos que me arranjastes. Obrigado!